Minha própria sala.

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Adoro desenhar, principalmente quando estou pensando no quadril sinuoso e nas coxas. Cada linha fica mais escura e definida enquanto a minha super-heroína vem à vida. Quando começo a traçar seus seios, me lembro da noite passada e da forma que ela me olhou quando estávamos fazendo amor. Me ajeito na cadeira sabendo que aqui no estúdio não é a hora e nem o local certo para lembrar desses detalhes. Depois de recuperar o foco, começo a construir seu rosto. Quando termino, percebo que consegui retratar com fidelidade o sorriso dos lábios e o brilho dos olhos. Eu passo os dedos gentilmente pelo papel e começo a sorrir. E, então, passo a borracha acertando os últimos detalhes.

Meu Deus, parece até que estou fazendo amor com o desenho. Estou tão enfeitiçada com a imagem que nem percebo quando uma pessoa se aproxima.

— Então, quando foi que sua super-heroína se juntou à Patrulha do Beaver?

Dou um pulo assustada e tento esconder o desenho, a evidência de que não estou trabalhando.

— Ah, oi, Charlie... — eu gaguejo. — Me desculpa. Já estou voltando ao trabalho, só estava dando um tempo. Trabalhei duro na primeira cena hoje de manhã.

— Que maneira interessante de passar o tempo, Jauregui. — ele diz com ironia. — Mas, na verdade, eu vim até aqui porque queria falar com você. Vamos até minha sala? — ele diz enquanto aponta o caminho.

Ele me pega de surpresa e antes mesmo de segui-lo, jogo meu desenho na última gaveta da mesa. Será que fiz algo errado? Eu sei que isso não é pelo desenho, uma vez que ele nem o tinha visto quando veio me procurar.

A sala dele é bem menor do que a da Camila, mas é muito bacana. Tem esboços em todos os lugares e até mesmo a maquete com o elenco do nosso programa. O Charlie convenceu o pessoal do financeiro e conseguiu fazer um boneco de cada personagem para que os animadores pudessem estudar cada um em várias dimensões.

Ele mostra uma cadeira para eu me sentar perto da mesa de esboços e, também, se senta.

— Então, como vão as coisas?

— Eu queria te mostrar uma coisa... É uma nova ideia que estou finalizando para apresentar e gostaria que você participasse do projeto.

Ele me entrega o desenho de um garoto. Além do fato de o menino estar segurando um skate e parecer meio descolado, ele é bem comum.

— Quem é este menino? — eu pergunto estudando cuidadosamente as feições do personagem.

— Ele é o protagonista. O nome dele é Robbie.

Devolvo a folha para ele surpreendido com a ideia de um show centralizado em um garoto aparentemente tão normal.

— O skate dá algum tipo de poder para ele? Quer dizer, o que esse menino tem de especial?

— Não, é esse exatamente o ponto — Charlie explica sorrindo. — Ele é um menino normal — ele afirma enquanto pega mais uma folha.

Gosto da maneira como ele cria expectativa. O Charlie é um mestre em apresentações, e eu sempre aprendo algo novo com ele.

— E aqui está a família dele. Este show vai se chamar Robbie da Romênia. O desenho elaborado é uma mistura de O Estranho Mundo de Jack e aquele seriado dos anos 1960, A Família Addams. Quando estudo o desenho melhor percebo que todos os personagens têm dentes caninos grandes, como presas.

— Romenos? Entendi! É uma família de...

— Exatamente... — Charlie declara animado: — Vampiros! Ele é tipo o e sobrinho da Marilyn daquele show clássico Os Monstros. O Robbie parece ser uma criança normal, vivendo uma vida comum... até chegar em casa, cheia de vampiros excêntricos.

— Você ficou assistindo muito à TV ultimamente? — eu brinco. — Essa coisa de vampiro está na moda, Joel.

— Tá bom, eu admito — ele responde com a cara meio azeda. — A gerência tá tentando pressionar, pois parece que todo mundo ama vampiros. Mas gostei deste aqui. Pense em quantas coisas legais nós poderíamos fazer.

— Nós? Parece que vou sair da Patrulha do Beaver. O que você quer dizer com nós?

— Eu acredito que você está pronta para um novo desafio, Lauren. Gostaria que você me ajudasse a produzir a série.

— Produzir? — pergunto boquiaberta.

— Sim, você ficaria mais envolvida com o desenvolvimento dos personagens e até mesmo dirigiria alguns episódios. Você teria sua própria sala e um aumento de salário. Que tal?

Sala? Com uma porta que feche? Estou gostando dessa ideia. Uau!

É bem nessa hora que me lembro do meu pai perguntando: "como é que você vai dar conta de tudo?" Por que a vida ter que ser tão injusta? Nada, nada, nadinha e depois acontece tudo de uma só vez. Paro um momento antes de responder.

— Essa oferta é incrível, Charlie. Mas preciso te avisar que fechei a publicação do meu gibi com uma editora e isso vai tomar quase todo o meu tempo extra, fico preocupada em não dar conta de tudo.

— Sim, ouvi sobre seu negócio e parabéns. Vai ser muito legal, de verdade, mas queria apenas lembrá-la de que quadrinhos são uma indústria que está morrendo lentamente. Eu não colocaria todos os ovos numa única cesta. Analise a Comic Con.... hoje em dia existem poucos corredores apenas com gibis. As pessoas não leem mais.

Mas eu ainda leio...

Charlie levanta uma dúvida que sempre tive na cabeça. Respondo balançando a cabeça e concordando: — Eu sei. Nem estou esperando muito.

— Acho que é o melhor, porque assim, aconteça o que acontecer, você vai ficar feliz. — ele responde dando um tapa no meu ombro. — E você ainda ama trabalhar com animação, correto?

— Com certeza — respondo, mudando um pouco a estratégia. — Eu gostaria muito de trabalhar nessa ideia com você.

— Perfeito. Eu vou pedir para a Anna separar um horário na agenda começarmos algumas reuniões de planejamento e também o RH para eles conversarem sobre os outros detalhes.

Quando estou de saída, na porta, vejo um porta-retrato com uma foto da Normani.

— Como estão as coisas entre vocês?

— Está tudo super bem. Eu sou louco por ela. — ele olha para mim por um momento.

Enquanto caminho para minha baia, me sinto muito frustrada por não poder contar a todos sobre a Camila e eu. Quero que o mundo todo saiba que ela é a minha garota.

Dear To Me. [Camren | Intersexual]जहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें