Tudo fechado para balanço.

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No exato momento em que seus lábios perfeitos tocam os meus, tudo se apaga, mas não no bom sentido. Suspiro e meu corpo todo se enrijece. Fico ali como uma estátua estranha, congelada em meu fracasso.

Suas mãos delicadas estão no meu pescoço e os lábios suaves tentam seduzir os meus, só que já vi essa história antes e o final não é feliz. As memórias dos beijos do passado pesam nos meus ombros, batem na porta da minha cabeça e penduram um sinal que diz: Tudo fechado para balanço.

Ela ainda tenta mais uma vez, quase em desespero, não querendo aceitar o próprio fracasso. Isso só piora a situação, me afasto e levo as mãos à cabeça, cobrindo meu rosto. Não, não, não.

Acho que falei alto, pois imediatamente a sua voz se torna mais grave e diz: — Tudo bem, Lauren. Tudo bem. Não se assuste, por favor.

Tento achar a maçaneta da porta querendo sair correndo, mas ela percebe o que estou fazendo e insiste.

— Não.

— Por favor, por favor... me deixa ir embora. Estou com tanta vergonha. Por favor... — suplico.

— Não — ela responde cheia de convicção. — A culpa é minha. Eu te pressionei e agora eu tenho que consertar isso.

Arregalo os olhos enquanto uma onda de frustração me assola.

— Você não tem que consertar nada. Eu sou uma mulher desajeitada. Tem alguma coisa muito errada comigo e com certeza não nasci para fazer esse tipo de coisa como um ser humano normal — meu peito dói e não consigo nem olhar para ela. Meus olhos estão fixados no chão, no caminho do corredor.

— Por favor — ela implora, parecendo estar chorando. Quando finalmente olho, vejo suas lágrimas descerem pelo rosto. Tiro os óculos e começo a esfregar meus olhos.

— Camila, por favor, não chore. — Sinto-me ainda pior, se é que isto é possível.

— Você poderia apenas sentar comigo por um minuto, por favor? — ela pede, mostrando o sofá.

Concordo e a sigo, enquanto sento, ela desliga a TV, pega o iPod e o coloca na base. A música do The Cure transforma o clima. Ah, que maravilha, som emo, penso tremendo. Um minuto depois, Camila me dá um copo pequeno com um líquido transparente.

— O que é isto? — eu pergunto.

— Uma dose de vodca. Beba, por favor, vai te ajudar a relaxar.

Bebo tudo de uma vez. Sou uma perdedora, mas provavelmente vou fazer tudo que ela quiser. Até consigo imaginar umas coisas. Assim como Gepetto, ela está tentando achar uma forma de consertar o brinquedo quebrado, sua versão de Pinóquio.

Ela rasteja no chão e chega bem perto de mim, acariciando minha mão gentilmente. No momento em que penso que ela vai desistir, ela pergunta:

— Qual é o seu lugar favorito para relaxar?

Ela está tentando dar uma de psicóloga. Estou confusa, só que ainda quero agradá-la. Penso por um momento.

— Acho que é provavelmente a rede no meu quintal. Gosto de deitar lá e pensar em histórias para desenhar enquanto aproveito a brisa.

— Deve ser muito bom. Fica debaixo de uma árvore?

— Sim, e na sombra, então é sempre fresquinho.

— Que bom — ela chega ainda mais perto e praticamente está sentada no meu colo. Caramba! Será que esta noite ainda vai conseguir ficar mais esquisita?

Dear To Me. [Camren | Intersexual]Onde histórias criam vida. Descubra agora