Cap. V: AGRADÁVEL NOITE ESTRANHA

209 51 36
                                    

- Hm? - Fixei bem o olhar naquela gravação, quando a silhueta de um pé apareceu e a câmera foi desligada. De repente alguém também desligou a TV.

- Desculpem, acho que algum gerador lá fora sofreu sobrecarga. - Robert disse colocando o controle sobre a mesa de centro e perguntou:

- Podemos continuar amanhã?

- Mas que horas são agora? - Tomiko perguntou desconfiada.

- Nossa, já é meia-noite e meia gente! - Eu exclamei apavorada.

- Como vamos para casa?

- Podem ficar aqui nos quartos de hóspedes. São aquelas duas portas do lado direito da sala por onde entramos. Vocês têm acesso direto para a sala onde estávamos, e esta última dá para a cozinha caso queiram comer algo.

- Eu e minha irmã dormimos no andar de cima.

- Será que a sua irmã está bem? - eu perguntei preocupada.

- Kirsten é uma pedra quando está dormindo, nem percebeu o que houve. - Robert respondeu juntando alguns cacos de louças quebradas com os pés, enquanto Tomiko, com uma flanela que tirou de sua mochila secava um notebook e alguns papéis que Robert colocara sobre a mesa de centro, agora ensopada.

- Essa não! - Ela disse visivelmente irritada.

- Gente! Temos um probleminha aqui.

Robert e eu ainda voltávamos a atenção para ela, quando disse mostrando vários papéis encharcados de chá, e chocolate quente.

- Ah, merda! - Robert rosnou frustrado, mas logo lembrou daquele hd, de que tanto falara anteriormente.

- Mas ainda temos o disco, não é?

- Verdade! - Tomiko assentiu, mas questionou:

- Mas será que...

- Tenho quase certeza de que, o que está no disco... - Robert disse dando licença para uma empregada que veio limpar o lugar.

- É um backup do que havia nesses papéis.

- Bom, então nem tudo está perdido. Certo? - eu disse tentando deixar o clima mais leve.

- Certo! Robert me interrompeu; já chamando duas empregadas - uma delas a Senhora Willys - ordenou que fôssemos auxiliadas em tudo, para passarmos a noite ali.

Com muita relutância nos recusamos, mas ele venceu, nos fazendo ficar.

Tomiko disse que mesmo morando com o pai, já era emancipada. Também estávamos de férias da escola, e com minha avó viajando eu não teria problemas por passar a noite fora.

Apesar da hospitalidade de Robert, daquele quarto luxuoso com uma decoração que combinava o clássico com o contemporâneo, sem falar na cama absurdamente macia e confortável, eu não consegui dormir.

Me enrolei com vários cobertores e abri lentamente a janela do quarto onde estava hospedada mas a escuridão daquela noite me permitiu ver apenas as pontas das copas das árvores, à frente de uma distante lua minguante.

De repente ouvi um som como de um galho grande e seco se quebrando.

- Minha nossa! - sussurrei ao me deparar com dois olhos brilhantes e bulbosos, que surgiram da escuridão da mata, e agora olhavam direto para mim.

Eu ainda olhava para aquela estranha aparição, quando a luz da lua me permitiu ver a silhueta de um lobo, bem ali perto da casa de Robert. Não poderia ser um lobo comum, era imenso, mesmo sobre as quatro patas.

Aterrorizada, fechei a janela o mais rápido que pude, e vestindo uma roupa um pouco mais quente, fui até a cozinha, fiz um chocolate quente e dali segui para a biblioteca.

[ UDG ] A GAROTA DA CAPA. O CONTO REPAGINADOOù les histoires vivent. Découvrez maintenant