Cap. XVI: O MESTRE E O MONSTRO

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- Ele era um grande estudioso, além de Biologia possuía grande interesse por mitologia e outras ciências. - Comentei ainda receosa com os olhares estranhamente indignados de Tomiko e Calientob.
- Não é mesmo, Robert? - Chamei a atenção do único ali, que parecia quase tão confuso e assustado quanto eu.
- Sim! - Ele confirmou prontamente e prosseguiu:
- É verdade! No entanto...
- No entanto? - Questionei em pensamentos enquanto ele falava:
- Ele parecia saber muito sobre... Nossa existência por exemplo. - Robert me surpreendeu, mencionando que às vezes passava horas, conversando sobre mitologia com o professor Newton e acabava impressionado com os conhecimentos dele.

Ainda remoendo a "história" que Tomiko nos contou brevemente sobre seu paradeiro em algum lugar do Japão; para onde teria ido depois de desaparecer por todos aqueles meses, minha mente finalmente voltou ao momento em que Calientob me contou sobre o assassinato daquela garota da tribo dele:

- Como o Robert descreveu muito bem, é como se todos nós estivéssemos conectados. - o lobisomem se referia a ligação sobrenatural que todos os indivíduos daquela tribo possuíam ao se transformarem em lobos enormes.
- Vimos através dos olhos dela, quando se deparou com um automóvel quase destruído dentro da mata.
Imaginando que o motorista teria perdido o controle e capotado; mesmo sozinha, nossa irmã correu até o lugar para tentar socorrer alguma vítima, no entanto...
Se aproximando furtivamente do carro para resgatar quem estivesse ali; ela nos avisou que se transformaria em humana, mas de repente, o veículo todo se despedaçou.
- Como assim? - Robert e eu, questionamos, quando ele prosseguiu descrevendo uma cena ainda mais surreal:
- Mas não foi uma explosão. Era como se o metal se dividisse em tantos pedaços que não dava pra contar, retinindo, batendo, e faiscando.
Diante daquilo, nossa irmã não deixou a forma de lobo, e recuou correndo para longe.
Porém, alguma coisa... Provavelmente a viu e decidiu perseguí-la.

- Alguma coisa? - Repliquei..
- Ela ainda corria por uma trilha num trecho da mata já afastado de onde viu aquela coisa, quando o chão simplesmente explodiu na frente dela.

Observando nossas caras assustadas, ele prosseguiu:
- Uma sombra enorme. Parecia humano mas ouvimos um rosnado grave e demorado, enquanto um corpo musculoso e arqueado se levantava, depois da aterrissagem estrondosa de um salto inacreditável.
- Um rosnado? - Repliquei.
- Sim. Não vimos o que era. Talvez nem mesmo ela tenha visto, já que "a coisa" se colocou bem à frente da luz do sol.
- Por isso... - Eu questionava em pensamentos enquanto aquelas imagens assustadoras e realistas me transportavam para dentro dos olhos da jovem assassinada.
- Não pôde ver o rosto! - Murmurei em pensamentos quando Calientob disse que ainda caída no chão, a última coisa que "a irmã dos lobos" viu, foi a imagem turva de um braço negro e brilhante agarrando seu corpo pelo tronco, enquanto uma dor escruciante de algo arrebentando-lhe o peito a fazia agonizar.

- Rosanne! - Eu ouvia os gritos de todos naquela sala, enquanto tudo girava e as minhas vistas escureciam.
Três vultos pareciam correr na minha direção, quando eu não vi mais nada...

Além das gotas do chuveiro caindo outra vez na minha cabeça, agora apoiada na parede do banheiro, enquanto meu corpo, sentado no chão ainda era molhado pela água quente.
Eu estava de volta ao presente, e sentada no chão sob o chuveiro, mal enxergava minhas próprias mãos, no nevoeiro que todo aquele vapor criou no banheiro.

No meio de todo aquele nevoeiro; desliguei o chuveiro e saí procurando minha toalha, enquanto assimilava todas aquelas informações, ainda borbulhando na minha mente.
Saindo daquele banheiro que dava direto para o meu quarto, não demorei muito para me vestir.
Enrolando uma toalha nos cabelos ainda úmidos, decidi ir até a cozinha para matar a fome com que acordei logo cedo.
No entanto... Logo percebi que havia algo errado além da porta:

- Mas o que... - Sussurrei ao notar, obras de arte como esculturas e quadros ao longo do corredor, que parecia bem mais extenso em largura e comprimento.
- Só pode ser brincadeira! - Esbravejei descrente do que acontecia; à medida que caminhava dando um nó no cinto do meu roupão.
Ao longe então surgiu uma grande escadaria, cujos degraus levavam ao andar inferior.
A cada passo que eu dava, aquela casa estranhamente se tornava vezes maior que a minha.
Chegando às escadas, me deparei com uma sala enorme, onde um brasão em madeira e metais que logo reconheci, era atingido pela luz do sol, através duma abóbada enorme.
Irrompi pelas portas de vidro e madeira da mansão, e enfurecida corri para margem de um grande lago que banhava o jardim, me embrenhado num bosque que havia nos fundos da mansão.
Entre coníferas frondosas e um tapete verdejante de samambaias e cavalinhas que afagavam meus pés descalços reduzi a velocidade, para reparar no lugar para o qual tinha corrido sem direção.
Ainda controlando minha raiva, cheguei às margens do lago. Havia um pouco de neblina sobre a água, o que dava um ar sombrio e misterioso ao lugar.
Ouvi alguns sapos coaxando e grilos cricrilando, os vultos de dois corvos passaram voando ao longe, enquanto gorjeares de outros pássaros anunciavam que o dia havia chegado.
No entanto; além de perceber que me perdera naquele bosque enorme, eu não estava nada contente com o fato de terem me levado para aquele lugar, sem meu consentimento, por mais agradável e luxuoso que fosse.
Foi quando... Ainda praguejando; me deparei com uma rocha enorme que parecia chegar ao meio do lago.

- Inadmissível! - Gritei furiosa; ao reparar numa silhueta humana, que de frente para a luz do sol nascente, parecia meditar, "conectando-se ao Cosmos" como minha amiga Tomiko costumava fazer, nos intervalos e passeios do colégio.
- Bom dia, para você também, Rosanne! - A figura enegrecida pela luz do sol disse acenando, como se me convidasse a sentar ali, com ela.

[ UDG ] A GAROTA DA CAPA. O CONTO REPAGINADOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora