Cap. XVII: AMANHECER

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- Amanhecer. Um dos mais belos espetáculos da natureza! - Tomiko exclamou, me levando a contemplar o céu ainda amarelado pelo sol nascente, que subia além das montanhas, fazendo com que os reflexos das silhuetas das sequóias e outras árvores da floresta ao longe surgissem num deslumbrante espelho d'água.

- Lindo, não é? - ela disse apontando para o grande lago de tons negros e dourados, sobrevoado por algumas poucas libélulas se arriscavam dando vôos rasantes sobre o fio d'água.

- Incrível como... Ele pensou em tudo! - Tomiko dizia enquanto eu me aproximava dela.

- Cada detalhe, cada... - Ela dizia apontando para o horizonte, e depois para as pedras e pássaros ao nosso redor:

- Organismo, e... - Tomiko ainda parecia apreciar as maravilhas da Mãe Natureza, quando eu a interrompi:

- E então? - questionei e ela apareceu desconversar:

- A vida humana é belíssima, mas brevíssima! - Tomiko disse virando-se para mim.

- Ela passa tão rápido, como as gotas do orvalho, que surgem na calada da noite, cintilam ao amanhecer e logo depois evaporam ao calor do sol.

- Isso foi profundo! - Eu refleti enquanto ela continuava:

- Tão envolvidos pelo ativismo e escravos das ambições que os aprisionam, não percebem os mistérios que cercam sua própria existência.

- É... A vida é curta, concordo! - Retruquei, mas fui interrompida:

- Achei que este amanhecer... Fosse acalmá-la de alguma forma!

- É muito lindo! - Assenti. - Realmente fascinante.

- No entanto; gostaria de saber como foi que...

- Veio parar aqui? - Ela replicou, e ainda falava quando ( agora iluminada pelo sol), eu pude notar uma incrível mudança no visual dela:

- Está segura agora. - Ela afirmou enquanto eu reparava nos cabelos outrora longos e sedosos; transformados num channel vermelho na altura do pescoço.

- Estou segura? - Questionei ainda irritada.

- Sim! - Tomiko respondeu, ríspida.

- E é isso o que importa!

- Ao menos pode me explicar, o porquê? - Perguntei me levantando.

- É paradoxal. - Ela disse também se levantando.

- Possuem tecnologia para destruir montanhas, porém tropeçam nas pedras do próprio medo, e mau humor.

Com a língua coçando para questioná-la sobre o modo estranho com que se referia à humanidade; além da mudança drástica no visual, permiti que prosseguisse com aquelas analogias, até o momento em que descendo por algumas rochas, Tomiko foi até a margem e agachou:

- Estou aqui; - Ela disse abaixando-se na margem do lago, e pegando um punhado de água nas mãos, continuou:

- Para abrir os seus olhos.

- Abrir os meus olhos? - Debochei, seguindo ela até a beira do lago.

- Claro!

- Por que a dúvida, Senhorita Redine? - Tomiko questionou.

- Não é você quem vive questionando tudo ao seu redor?

Quase me atrevia a concordar com ela. Até pensei em responder mas minha raiva graças ao fato de "ter sido sequestrada" não me deixou falar ao passo que a "dona sabe tudo" continuava seu discurso:

[ UDG ] A GAROTA DA CAPA. O CONTO REPAGINADOWhere stories live. Discover now