VII - Elara

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Estremeço ao seu toque. Ela ainda é a mesma. Assim como meu ódio.

Seus cabelos parecem mais sedosos do que nunca. Seus olhos brilham em um azul lívido. Até sua postura a faz parecer mais alta que eu, superior.

E ela tinha que aparecer agora. Justo enquanto eu conversava com Maven.

- Por que você está aqui? - Não escondo minha rispidez. Ela não devia estar aqui. Nem agora e nem nunca.

- Elara, querida, suas etiquetas continuam horrendas. Sempre a pior. - Ela desdenha, enfatizando a última palavra, e sempre se atentando aos meus modos.

- Me surpreende você referir-se as minhas etiquetas, já se olhou no espelho?

Sua expressão se fecha e sai andando. Por impulso, me sinto seduzida a segui-la. Lanço um olhar cortante de esguelha para Maven. Você fica aí.

- Está brincando né? - Ele sussurra, mas ambas escutamos, e nos viramos no mesmo instante. Nossos movimentos sincronizados o assusta, e Maven empalidece.

- Maven, isso é briga de cachorro grande, não se meta nisso, ouviu bem? - Ordeno, como uma general. Sem deixar espaço para questionamentos, saio, ou melhor, saímos em disparada.

*

- O que você pensa que está fazendo? - Questiono-a.

- Acalme-se. Eu tive a bondade de lhe chamar pelo que você auto intitulou-se! - Oh! Quanta bondade a dela. - Elara. O nome não me é desconhecido, mas não pertence a você. Certo, irmã?

- Mackenzie Merandus, você nunca muda. - Murmuro, sem esperanças. Ela realmente nunca mudou. Tanto sua magnífica beleza e movimentos treinados, quanto sua irritante perfeição.

- Hilary, vamos ao que realmente interessa. Você não irá mais me enganar ou me passar para trás! Eu vim aqui para buscar o que é meu. E não vou voltar sem. - Ela murmura, em tom ameaçador. Como se ameaçasse alguém aqui.

Abro meu sorriso mais malicioso e convencido, desdenhando de seu pedido ridículo. Mackenzie parece desconfortável. Talvez tenha entrado na casa dos Welle às escondidas. Ou estejam procurando por ela. De qualquer forma, é o único jeito de se aproximar da rainha, ou seja, de mim. Nem mesmo Mackenzie Merandus consegue invadir o Palacete.

- O QUÊ? - Rujo, sem delicadeza alguma. Ela chega até a recuar. A única trégua que me deixará ver. - Vejo que seu senso de humor permaneceu intacto durante todos esses anos. - Não escondo minha ironia. - Que maravilha! Você vem até meu reino, passa por meus guardas, e ainda quer tudo o que é meu. Tudo o que eu conquistei. - Desdenho, e faço questão de enfatizar cada palavra, a humilhando sem piedade. - Você abandonou tudo o que conquistou. Mesmo que de maneira demasiadamente questionável.

Mas claro, como é com Mackenzie que estou falando, obviamente tem algo mais. Acho que é uma característica dos Merandus.

- Espera aí... - Digo, matutando devagar. Antes que eu possa dizer o que estou pensando, ela desaba.

- Sim, eu me casei com ele, e daí? Você também se casou, só que com... com Tiberias! Mas agora, eu quero esse reino de volta. E mesmo que você me negue, saiba que isso não vai me impedir de seguir em frente. Não é difícil te substituir.

- Usurpar, você quis dizer.

- Independente. - Ela conclui.

- Mackenzie, um reino não é um brinquedo em que você pega de volta. Além do mais, tudo isso é meu agora. Voce não pertence mais aqui. Volte para... qualquer outro reino que você esteja enganando.

Minha rejeição a afeta. Mackenzie realmente esperava que eu lhe daria o reino em bandejas de prata. Não vai ser fácil assim, irmãzinha.

Ela gargalha, friamente e desdenhosa. Minha vontade era de invadir sua mente e estraçalhar tudo o que há, inclusive seus planos e a própria Mackenzie. Mas não posso. Não ainda. Ela também é uma murmuradora, e não quero me sujeitar ao que poderia fazer de mim caso entrasse em minha cabeça.

- Hilary, lembre-se de quem você é. Coloque-se no seu lugar. Se não fosse por mim, você não seria nada. Não teria sequer uma coroa na cabeça e vestidos de seda. Estou lhe dando a chance de devolver o que me pertence pacificamente. Mas já que não prefere deste modo, que seja do outro.

Me sinto tonta, prestes a cair, mas algo me impede. Olhos azuis me impedem. Tento gritar, mas ela não permite. Ela entrou.

Ela projeta imagens de um rei forte, pálido e de cabelos tão loiros que parece branco. Está junto de uma criança com os mesmos traços que ele, mas os olhos dela. Só pode ser a "família" que Mackenzie constituiu fora daqui. O reino que assumiu. E ainda quer Norta.

- É sua família? - Pergunto, incrédula. Quando ela confirma, desdenho.

- Coitados.

Mas Mackenzie não se deixa levar por minha provocação. Sua ambição é maior que isso.

- Prairie é poderosa, mas nada comparado a Norta. É por isso que preciso desse reino de volta. Prairie, inocentemente, me acolheu. E Norta, forçadamente, me fortalecerá.

Seus planos vão mais longe do que pensei. Envolve mais reinos, coroas, sangue e mortes do que pensei. Não será fácil, e muito menos rápido. Mackenzie fará de tudo para conseguir o que quer, então terá piedade.

- Você não pode. - Eu digo, mas é mentira. Ela pode. E vai.

De alguma maneira, ela coloca uma pressão sobre meu cérebro, fazendo estrelas escreverem minha visão. Penso que vou cair mais uma vez. Mas Maven aparece.

Quem cai é ela, e uma mão fumegante se apaga. As estrelas somem e passo a ver somente Maven.

- O que foi isso? - Ele pergunta, mas há tanto para explicar.

- Apenas mais uma.

- Uma?

- Uma de nós. Uma murmuradora. Uma Merandus. Uma que roubou o trono da verdadeira Elara. A primeira.

Maven parece assustado, mas intrigado ao mesmo tempo. Trata-se de um mundo novo para ele. Um mundo que tentei lhe esconder durante tanto tempo. Entretanto, eu falhei. Falhei com ele e com Elara. Mas Mackenzie falhou com todos nós.

Príncipe EsquecidoOnde histórias criam vida. Descubra agora