Capítulo XX - Cal

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Papai está mais vivo do que nunca. Há quem diga que agora sim ele é um pai de verdade, para Maven. Abraços são constantes, trocas de olhares orgulhosos, Maven tem a figura paterna em sua vida, pela primeira vez. Há quem diga também que sinto ciúmes, e talvez sinta mesmo. Mas isso é bom. Significa que estamos finalmente nos tornando uma família unida.

Queria que minha mãe estivesse aqui para ver, ela iria se orgulhar tanto. Queria que estivesse viva, nem que seja só por um momento. Queria sentir seu abraço materno. Não me lembro de como é ter a essa figura. A tive quando era muito pequeno. Sinto muita, muita falta.

O reino está entrando nos trilhos. Mas não podemos dar passo em falso, não mais. A família real irá para o pequeno palácio Welle, de novo. Que djavú. Dias atrás fomos ao mesmo lugar, agora, vamos para reconhecer o tamanho estrago e descobrir se ainda "sobrou" prairienses. Não só os Welle, mas também Albanus. Agora, meu pai fez questão de pedir um veículo que caiba toda a família.

Elara ainda não assumiu o posto, oficialmente. Tem muita burocracia para que isso se resolva. Meu pai permite que ela assuma, porque não tem nada contra ela, a conhece, sabe que é de confiança, e não tem necessidade de realizar outra Prova Real, já que a minha foi feita. Ele não ama ninguém, quem sabe Elara possa preencher uma parte de seu coração. Não sinto antipatia por ela. Motivos? Eu não sei. Simplesmente não consigo.

Mare acompanha Maven no banco ao lado, e treme. Está nervosa com a possibilidade de poder ir ao seu vilarejo. Ou apenas ver sua família.

*****

A grande casa dos Welle está intacta, pelo menos a frente. O jardim exterior não existe mais. Mesmo assim, somos acomodados em alta classe. Elara não reclama. Vou precisar me acostumar a isso. Maven e ela estão cada vez mais próximos.

- Cal! - Alguém me chama. Viro, e vejo Evangeline parada, me analisando. - Vem com a gente. - Diz, já me puxando.

- Ir aonde? - Pergunto.

- Albanus. - Diz. No mesmo instante, fico boquiaberto.

- Mas... - Pauso. - O rei permitiu?

- Ele deu a ideia. - Retruca. Arregalo os olhos. Não estou acostumado à nova personalidade de meu pai. A morte nunca o mudaria, mas a tortura sim. Começo a desconfiar se Mackenzie fez algo na mente dele. Se o transformou. Não sei se fico feliz pelo seu novo perfil, ou triste pelo verdadeiro. Não seja egoísta, Cal. Ele parece bem mais feliz agora. Mas até mesmo os mais alegres choram a noite. E eu não estou lá para saber.

- Vamos. - Ordeno. Ela revira os olhos.

- Onde está indo? Os veículos estão ao oeste do casarão. - Teima.

- Tive uma ideia. Tempos atrás, vim do palacete para cá, de moto. O filho dos Welle me pediu uma igual, e eu a deixei aqui. Garanto duas motos. Uma para Maven e Mare, a outra para nós. - Digo, ansioso por poder finalmente subir na minha moto. Ela me olha, espantada. Não está acostumada com minha gentileza em relação a ela. Mas o mundo mudou, precisamos mudar também.

- Vou chamar Mareven. - Diz. Eu a olho, mais confuso ainda. - Eles são tão unidos, parecem um só. Então, chamamos-os de Mareven. - Completa. Meu irmão está apaixonado. Fico boquiaberto, sozinho. Nunca o vi assim. Nunca o imaginei assim. Mundo estranho. Me sinto deslocado.

*****

Converso com Henry, o filho dos Welle. Como esperado, ele concorda sem pestanejar. "Será uma honra, alteza." dizia. Me sinto mais deslocado ainda. As motos estão intactas na garagem. Parecem não estarem sendo usadas. São motos grandes, largas. Aparentam ferocidade. Rio sozinho, orgulhoso de meu trabalho.

Príncipe EsquecidoWhere stories live. Discover now