XI - Mare

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Nossos veículos rumam à oeste. Estamos voltando para Summerton. Minha cabeça lateja ao relembrar do ocorrido. Primeiro, assim chegamos ao casarão dos Welle, Maven ficou estranho. Algo lhe incomodava. Ou alguém. Sua mãe o acompanhou, e ambos se demoraram em sabe-se lá o que estavam discutindo. Depois, durante o banquete, eu e Cal trocamos olhares preocupados. Ele, assim como eu, não fazia ideia do que o perturbava. Então muitos jatos sobrevoaram sobre nós. Seus motores barulhentos aguçaram minha audição, e sua energia, meu sentido elétrico.

Procurei Maven por todo lugar. Mas só o encontrei depois que Cal desfaleceu-se em meus braços. Maven surgiu, aparentemente intocado pela destruição. Me tateou em busca de ferimentos sérios, porém o afastei com um gesto. Eu lhe disse sobre seu irmão quase morto. Isso fez com que eu me sentisse mais culpada em deixá-lo só. Felizmente, meu noivo não se importou que eu abandonasse seu irmão para a morte.

Corremos e desvíamos de muitas bombas atrás de Cal. No caminho, não reconheci nenhum rosto, apenas vultos muito altos e robustos. A maioria caminhava calmante, em um gingado estranho. Mesmo em meio a tanta destruição.

Quando voltei ao local e não o vi lá, vai de joelhos. O que eu tinha na cabeça de deixar o herdeiro de Norta se afogando em seu próprio sangue? Cal sumiu. Ou foi sequestrado. Não interessa. O erro é meu.

A rainha não permitiu que continuássemos. Ordenou que entrássemos nos carros para voltarmos imediatamente para Summerton. Maven e eu contestamos, porém ela não cedeu. Eu disse que Cal estava em perigo, que o levaram, e a rainha desdenhou com graça e sutileza. Antagonizando com o rei, que por sua vez, parecia prestes a explodir de fúria. Seus olhos bronze - como os de Cal - queimaram de raiva e preocupação. Seus sentinelas tinham ordem expressa para levá-lo conosco.

Embora tenham enviados inúmeras tropas dos mais poderosos guardas do rei em busca de Cal, não consigo me contentar. Não aceito estar sentada sob todo o conforto desse carro luxuoso enquanto Cal deve estar nas mãos de assassinos. Eu o deixei lá. É tudo minha culpa.

- Não é sua culpa, Mare. Não havia mais nada que você pudesse fazer. - Maven diz, e quase esqueço que seu poder é controlar o fogo, e não mentes, como sua mãe.

As palavras de Maven saem controladas, contudo seus olhos azuis estão ardendo na mesma preocupação em que seu pai ardeu.

- Como você consegue estar aqui enquanto ele pode estar sendo torturado, ou morto? - Grito, assustando tanto à Maven como ao motorista. Nosso veículo é apenas para nós dois, de modo que o rei, a rainha e Evangeline não estão aqui para conter meu esbravejo.

Espero que Maven me entenda, que exploda comigo, mas tudo o que ganho é os mesmos olhos conturbados e espasmos na sobrancelha.

- Como você consegue não pensar que o deixamos lá para morrer? Que permitimos que o levasse? QUE SEQUER O PROCURAMOS? - Meus nervos fervilham de ódio e culpa. - Como você pode não fazer nada?

- Você acha que eu queria estar aqui? - Mais uma vez, seu tom polido e controlado da corte se mantém, o que apenas alimenta mais ainda minha raiva dele.

Na verdade, sinto raiva de mim mesma, mas meu corpo culpa Maven. Minha frustração alimenta meu poder, e consigo sentir as baterias pulsando em nossos veículos como se fosse meu próprio coração.

- Tenho certeza que se fosse você, Cal estaria liderando as legiões para buscá-lo.

Quando acalmo meu corpo e respiro fundo, é Maven quem passa a fervilhar por dentro. Mesmo em meio à tanto ódio e culpa, ele mantém um determinado controle.

Príncipe EsquecidoWhere stories live. Discover now