Smoking Candy

1. Good Day

"Quando você compartilhar a felicidade, ela se multiplica
Mas se você compartilhar a tristeza também, se multiplica muito
Então, sempre ria
E descanse no meu ombro"

Até então, tudo bem.

Eu estava no meu quarto, encarando o teto com alguns resquícios de sujeira, esperando a hora passar e checar meus resultados no site.

Que desde o sábado passado, dava ERROR. 404.

Bufei, fazendo alguns fios de meus cabelos se levantarem. Olhei ao redor: minha mesa de estudos havia alguns livros amontoados, uma caneca com chá do qual eu nem lembro o gosto e que eu esqueci de tomar (provavelmente agora ele estava o famoso "boca de anjo") papéis cheios de anotações de video aulas, e algumas contas do apartamento.

Eu havia feito minha sexta prova pra entrar em uma universidade de Seoul, e isso se resumia no combo perfeito de um vestibulando: estudar, ler livros, matérias de redação, jornais entediantes, documentários sobre qualquer assunto atual possível e artigos virtuais de jornalistas frustrados, contanto que eu me mantesse informada sobre tudo. Até hoje eu não consegui entrar em nenhuma universidade porque, em alguma hipótese talvez eu fosse uma fracassada ou o universo com certeza não estava do meu lado.

Enquanto aguardava mais algumas horas pra acessar – de novo – o site da instituição, resolvi dar um jeito na bagunça catastrófica que se encontrava o meu quarto. Tratei de pegar o aspirador de pó e deixei no canto da porta, fui até a cozinha e peguei algumas sacolas de lixo e voltei pro quarto. Papéis amassados, anotações de estatística, apostilas antigas, embalagens de salgadinhos e fast foods, tinha tudo isso e mais um pouco espalhado no meu quarto. Se eu encontrasse algum mendigo debaixo da minha cama, não seria nada surpreendente. E vai por mim, eu raramente deixo meu apartamento ficar um caos. Só que tem dias e dias.

Com os papéis e as embalagens na sacola, parti para o aspirador de pó. Deixei as sacolas de lixo na entrada do apartamento e segui aspirando meu quarto e os outros cômodos. Aproveitando o clima de faxina matinal, peguei meus fones de ouvido e conectei ao celular, deixei na minha playlist no modo aleatório e segui com a faxina. Era realmente aleatório no sentido literal da palavra, tinha desde The Who ao (G)I-DLE. Aspirei cada canto do apartamento, não deixei nenhum grão de pó sobrando. Claro que a bela proeza de uma faxina sem um pingo de proteção no nariz me rendeu alguns espirros e queira Deus a crise alérgica não ataque. Ao finalizar a aspiração, deixei uma vela aromática de flor de cereja na sala, para perfumar o ambiente.

Ao concluir da faxina, eu era quem estava o caos completo. Cada parte do meu corpo suava em bicas, em lugares que eu sequer imaginava que era possível; minhas axilas exalavam um cheiro nada agradável e e eu sentia minha pele grudar. Tirei os fones de ouvido e pausei a música, tateei meu sofá em busca do meu carregador até que o encontrei entre as almofadas, conectei o aparelho e tratei de tomar um banho relaxante enquanto lá fora começava a cair uma chuva leve. Ajustei o termostato pra uma temperatura morna e me enfiei debaixo do chuveiro. A água corria pelos meus cabelos e passava pelas costas, relaxando cada músculo tenso. A essa altura, a ansiedade já havia diminuído consideravelmente, manter a cabeça ocupada com a faxina e as músicas, me tranquilizaram um pouco.

Saindo do banho, enrolei a toalha no meu corpo e prendi meu cabelo enquanto saía do banheiro. Já completamente seca, fui em até meu armário e procurei uma roupa confortável, optei por um pullover roxo com mangas e uma calça moletom branca. Calcei um par de meias e usei minhas pantufas. Meus pés já começavam a esfriar por conta do tempo.

O final do outono começava a querer dar as caras. Tudo indicava que seria um inverno rigoroso, muito úmido, com tempestades e chuva. Meu guarda roupa não estava nem um pouco preparado pra isso, na verdade, eu nunca estava preparada. E isso me rendia uma imunidade baixíssima que era igual a resfriado e qualquer outra virose que estivesse circulando no ar.