Smoking Candy

26. Void

Vou apenas tentar fazer algo
Vou tentar porque eu não tenho nada
Mesmo que eu me perca novamente,
eu não vou desistir

SAYURI

Os mais velhos costumam de dizer que o tempo é a resposta. Ele cura feridas e tem o poder de levar palavras doloridas para longe, a ponto de não poderem te atingir. Existe um ditado muito famoso que é "o que os olhos não vêem o coração não sente" mas permita-me completar: quando os olhos vêem, o coração é dilacerado com uma força duas vezes maior do que a anterior.

Os dias passavam rápido. Eu iria tirar a atadura da minha mão em breve, quase não sentia mais dores e os analgésicos foram deixados de lado. Mizuki surtou quando soube, e por pouco ela não volta para Seoul. Foi preciso uma força tarefa para acalmá-la, NamJoon e SeokJin conversaram com ela várias vezes até que ela voltasse a razão. Meu apartamento parecia que abrigava alguém que enlouqueceu pelos estudos. Era uma bagunça por mais que eu tentasse mantê-lo organizado. Jimin estava no final do período, eu quase não o via agora. SeokJin entra de férias em 5 dias, mas também se encontra muito atarefado. Toda vez que eu o vejo ele faz a mesma pergunta se eu realmente quero entrar na faculdade. Minha resposta vai ser sempre a mesma, afinal, conhecimento nunca é demais. Ele sempre vai permanecer com você até o dia da sua morte.

E eu quero sim conhecer o que a arquitetura tem pra me oferecer.

Hoje era sábado, e eu não precisaria colocar os meus pés na Índigo. Hye In nunca mais falou comigo ou fez algo parecido como da última vez. Claro que o que quer que eu fizesse, sempre iria incomodá-la. Ela nunca gostou de mim e sinceramente, eu nunca desejei que gostasse. Distância dela era o que eu mais prezava no momento.
Yongbok e Jong In eram sempre prestativos, os dois se revezavam na cafeteria ao sul da Índigo que estava fazendo o maior sucesso. Em duas semanas nos tornamos conhecidos além do que já fomos e sempre apareciam pessoas novas. So Ra continua sendo de longe a melhor sunbaenim que já tive, sempre pergunta se eu entendi tudo e quando não, explica novamente na maior paciência possível.

Meus olhos estavam fixos no texto a minha frente que contava sobre a dinastia Joseon e Goryeo. A História da Coreia é um dos assuntos (gigantescos) que é conteúdo para o suneung. São muitos detalhes e nada, nada tem que ser deixado de lado. Mas eu descobri uma nova maneira alternativa de estudo, o fichamento. Você lê um texto e marca as partes mais importantes, economiza tempo e de alguma forma o seu cérebro absorve mais informação, já que ele vai ficar automaticamente nas partes grifadas.

Claro que eu não marco apenas, gosto de anotar algumas coisinhas.

Enquanto digitava freneticamente no bloco de notas do celular, ouvi algumas batidas soarem na minha porta. Franzi o cenho estranhando a situação. Nenhum dos meninos viriam aqui hoje, Yoongi estava na cafeteria e só iria aparecer aqui a noite (ou talvez não já que o lançamento da collab estava cada vez mais próximo).

Deixei o notebook juntamente com as impressões do texto em cima do sofá e fui atender a porta.

Me arrependi amargamente de não ter um olho mágico.
Me arrependi de não ter fechado a porta na mesma hora.
Me arrependi de não ter acompanhado o jornal nos últimos dias.
Me arrependi de ser filha dele.

Yoshiaki Matsuoka estava parado na entrada do meu apartamento.

Em carne e osso. Vivo.

Definitivamente nem todo o tempo do mundo é capaz de me fazer esquecer o estrago que esse homem provocou na minha vida.

Pigarreei de leve tentando assimilar e pensando no que fazer nos próximos minutos. Ele estava exatamente do mesmo jeito que o vi pela última vez, os olhos pretos, a barba feita e o cabelo alinhado. O terno que vestia não tinha nenhuma goma ou amassado que fosse. Seu olhar era claramente de desprezo em minha direção, ele nunca fez questão de esconder que eu nunca fora a filha preferida. E sendo franca, pouco me importa. Nunca trilhei os caminhos que ele desejou e eu nunca, jamais quis ser a marionete dele.