15. Hip Hop Phile

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Durante toda a noite, eu desgastava a ponta da minha caneta
No final dos meus esforços,
Em vez de ter notas nas matérias da escola
Enchi minhas rimas e foi o que fez os meus sonhos se realizarem

MIN
YOONGI

As madrugadas em claro, papéis rasgados no chão do quarto, o frio que insistia em entrar pelas pequenas aberturas dispostas ao longo do apartamento (ou muquifo, depende do seu ponto de vista). Da cafeteria pra casa e de casa pro estúdio improvisado. Meu corpo já tinha se esquecido o que era ter um descanso descente, eu sentia minhas costas gritarem por uma folga, alguns míseros minutos de sono que fossem, mas nem de longe eu perderia essa oportunidade.

A noite já havia caído há tempos lá fora, a temperatura despencou fazendo os pelos da minha nuca eriçarem quase que automaticamente. Soprei as palmas da minha mão e esfreguei com força enquanto tentava inutilmente aquecê-las. Ouvi o Park bater na porta do meu quarto e sua figura inusitada apareceu no meu campo de visão, suas mãos pequenas seguravam uma caneca com um líquido tão quente que fumegava.

– Chá de camomila com leite. – me entregou a caneca. – Você precisa descansar hyung. Olha o seu estado!
– Eu prometo que é só até hoje. – respirei tão fundo que eu jurava ter sentido meus pulmões explodirem.
– Como tá indo a composição nova?

Depois de algumas ligações, e-mails ignorados na caixa de entrada, respostas negativas aqui e ali eu finalmente tinha conseguido fechar um pequeno contrato com um músico, Lee So Jun. Ele ouviu as minhas produções recentes e se interessou no meu trabalho, o que claramente já poderia ser considerado um milagre já que ninguém em toda a Coréia do Sul tinha se interessado pelo meu trabalho. Talvez a conspiração do universo exista afinal. Fiquei de entregar duas produções originais e nisso eu alternava entre produzir no meu quarto e no estúdio improvisado que meu amigo tinha arranjado pra mim. Kim SeokJin hyung conhecia muita gente na faculdade e a coincidência absurda era que o sunbae dele tinha um estúdio no centro de Hongdae. Não era um estúdio profissional com equipamentos de ultima geração, mas estava quebrando um galho e tanto. Assim que comecei as produções, eu precisava de um notebook bom o suficiente pra pelo menos gravar, mixar e tentar a sorte com alguns beats

Com 16 anos, eu comprei o meu primeiro. Era de segunda mão (mas eu arrisco dizer que era de terceira. Travava pra cacete). Um da Samsung, processador core i3. Consegui gravar algumas composições, são antigas mas se for um pouquinho inteligente, dá pra reutilizar em um trabalho novo, é assim que um bom produtor faz. Basta olhar pra história da música em geral, ela sempre vai apontar pra algo mais antigo. É interessante, dá aquela sensação de deja vu do tipo "eu já ouvi essa musica antes", coisa assim. 

Meu estúdio improvisado estava um caco: o fone que eu uso pra ajustar a frequência e escutar as mixagens resolveu começar a chiar absolutamente do nada, meu microfone, em suma, morreu e o único monitor de áudio que eu tinha foi de Americanas, literalmente. Ou seja, no momento eu estava fazendo a parte "crua" e em Hongdae eu montava o quebra cabeças. Olhei para o mais novo que agora estava encostado na mesa.

– Muito cansativa, mas já estou finalizando. E eu quero que você grave ela pra mim.
– De novo? Olha, eu tô começando a achar que isso é exploração. Toda música que você finaliza eu tenho que cantar. – cruzou os braços.
– Sem discussão. E você canta bem, tem muito potencial pra ser um idol.
– Lá vem essa conversa de novo. – sorriu. – Tudo bem, acredito em você. Quando quer que eu grave?
– Amanhã quando chegar da faculdade. Depois que você gravar eu entrego a composição pro Lee. – tamborilei meus dedos pela mesa. – Mandou mensagem pra Sayuri?

Ontem depois de fechar o café, fiz todo meu caminho para voltar pro apartamento. Tinha um anúncio pendurado com papel amarelo em letras garrafais no ponto de ônibus: "estamos contratando". Era uma livraria que ficava pelas redondezas. Me lembrei da mais nova automaticamente. NamJoon tinha pedido que qualquer sinal de trabalho de meio período era pra avisá-la. Ela estava passando por uns problemas pessoais mas ele não se aprofundou muito no assunto.

Smoking Candy Where stories live. Discover now