Capítulo 23

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"Fomos dois, viramos um e hoje somos só metade."
-Marília Mendonça


Fiquei o olhando, estático. Ele deu um gole na bebida e olhou para mim.

É ISSO QUE VOCÊ PENSA DE MIM? - ele gritava como um louco. Na mão direita uma caderneta que eu usava para fazer algumas anotações, a maioria delas de como Ele me tratava. Na mão esquerda uma garrafa de vodka. - ANDA, RESPONDE.

Eu queria gritar de volta. Queria falar que não. Nenhuma das palavras escritas a mão, com uma caneta esferográfica azul, naquele papel era sobre ele. Mas minha voz não queria sair. Eu estava em um briga constante com minhas lágrimas. Eu tinha medo de apanhar mais uma vez.

Eu queria dizer também que sim. Tudo que estava naquela droga de caderneta era verdade, e que não era só o que eu pensava sobre ele, é o que ele é.

Ele deu um gole em sua vodka e se sentou na cama, folheando as anotações. Fiquei parado perto da porta, eu não podia me mexer. Na verdade eu tinha medo de me mexer. Ele já me bateu várias vezes, porque dessa vez seria diferente?

Mas, além de raiva eu podia ver outra coisa em seu rosto. Era um tipo de... Remorso? Não. Nunca em todos esses anos eu vi ele sentindo arrependimento de nada.

Ele parou em uma página e leu uma parte.

"Hoje o Monstro tocou em mim. Me obrigou a fazer sexo. Foi dolorido, ele me machucou. "

" Eu fiz o nosso Jantar hoje. O Monstro jogou toda a comida fora, só por que a carne ficou um pouco mais salgada que o normal. "

Parou de ler e deu outro gole na bebida. As lágrimas no meu rosto já não saiam mais. Me escorei na parede e fui descendo até sentar no chão.

Continuou a examinar as frases do pequeno caderno. E novamente parou para ler.

" Ele me bateu. O Monstro me bateu. "

As lágrimas não mais me pertenciam agora. Elas vinham dos olhos dele, Silênciosas. Eu nunca o tinha visto chorar antes.

Ele foi lendo frase por frase. Não havia sequer uma que dizia algo bom sobre ele. Mas também o que de bom há em um monstro?

Uma frase fez ele arregalar os olhos e me olhar assustado.

"Eu não amo mais o Monstro. "

Nessa hora eu me levantei e fui em direção a porta, mas ele foi mais rápido e a fechou antes de eu conseguir sair.

Ele segurou no meu braço, mas não apertou, acho que era apenas para que não saísse de perto dele. Confesso que um medo tomou conta do meu corpo e eu comecei a tremer.

– É verdade isso? – ele disse calmo, mas não respondi. – É? – dessa vez ele deu solavanco no meu braço.

–E faz diferença? – falei me soltando de seus braços e me afastando. – Alguma vez fez diferença para você?

Tiago continuou me olhando de onde estava. As sombrancelhas levantadas, a cara de espanto.

– Claro que faz, meu amor. Você é tudo pra mim.

O Monstro (Romance Gay) Where stories live. Discover now