Capítulo 28

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Ele está tão assustado, tão nervoso e tão perdido que me faz questionar se a atitude que eu tomei foi realmente a certa.

— Acho melhor eu ir embora. — Ele diz se afastando lentamente, com os olhos perdidos e com as mãos trêmulas. Será difícil acabar com o seu trauma, foi uma fase muito marcante em sua vida que querendo ou não, fez um grande estrago no seu coração.

— Matthew! — Grito indo até ele e segurando o seu pulso com força. Eu quero ajudá-lo, quero pela primeira vez em muito tempo fazer alguma coisa boa para alguém, ainda mais quando essa pessoa tem extrema importância na minha vida. Não quero que o Matt seja atormentado pelas lembranças do seu passado, quero que ele siga em frente e continue fazendo o que mais gosta de fazer: esquiar.

Ele se solta do meu aperto e pede para eu me afastar. Ele passa as mãos pelo cabelo e anda de um lado para o outro como se estivesse remoendo tudo o que viveu naquela época, como se as suas lembranças estivessem voltando com mais intensidade e mais clareza em sua mente. Consigo ver dor em seus olhos.

— Não dá, Julieta! Eu fui cruel. Fui egocêntrico e acabei pagando o preço por isso. Eu perdi a única pessoa que fazia eu me sentir seguro. Eu larguei tudo, Julieta. TUDO! Larguei tudo o que eu tinha pelo meu sonho que no final das contas eu acabei perdendo também. — Ele grita enquanto segura suas lágrimas. — Eu perdi minha mãe. Não fui capaz nem de agradecê-la. Eu não estive com ela nos seus últimos segundos. Para você ter noção, eu não lembro nem da última palavra que eu disse para ela. Dói muito. Perder sua mãe é como perder uma parte de você também.

Eu o abraço com força e o deixo chorar em meu ombro. Ele me aperta com tanta força que me deixa sem ar, mas eu não ligo, agora eu só quero que ele extravase por um momento. Matthew precisa disso. Matthew precisa de muito mais do que isso para falar a verdade.

Quando ele se acalma eu me afasto e limpo suas lágrimas, abrindo um sorriso triste e acolhedor.

— Estamos juntos nessa, Matthew. Você sabe que pode sempre contar comigo né? Eu estou aqui. Sempre estarei. Sei que nunca conseguirei apagar essa dor do seu coração, mas quero te ajudar a supera-lá, quero te ajudar a controlá-la. Eu sei que você é capaz, Matthew. Você é capaz de fazer tudo o que quiser, basta acreditar.

O Matthew não obtém nenhuma reação, apenas me encara com os seus intensos olhos castanhos por longos segundos.

— O que houve?

— Você é incrível, Julieta.

Eu abro um sorriso fraco, vou até ele e o abraço novamente. Ele dá um beijo no topo da minha cabeça e fecha os olhos. Consigo ouvir os batimentos acelerados do seu coração.

— Prometo que vou tentar por você.

Sorrio.

— Obrigada. Sua mãe estaria muito orgulhosa em ver você tentar de novo.

— Eu espero que ela esteja.

Ficamos em silêncio durante alguns segundos, apenas apreciando o abraço e a presença do outro. É incrível o modo que Matthew me faz tão bem e arranca para fora tudo o que existe de bom em mim. Eu sei que pode soar exagerado, mas quando ele me olha daquele jeito tão acolhedor eu sinto vontade de chorar, chorar de tanta felicidade por ele estar ali. Ao meu lado, e por eu tê-lo encontrado. Ele me ensina a ser mais forte e faz eu me amar cada vez mais. É incrível.

— Vamos começar? — Proponho me afastando e cruzando os braços como se eu fosse sua treinadora, sendo que eu não sei nem a metade do que ele sabe sobre o skiing. Que Deus me ajude!

Ele faz um sinal positivo com a cabeça, mesmo parecendo não estar totalmente seguro com a sua decisão.

Matthew senta no banquinho de madeira, calça suas botas, coloca suas luvas e se equipa com todos os seus equipamentos. Ele parece estar bem nervoso, não o culpo, eu estaria mil vezes pior se estivesse no lugar dele. Sou sentimental demais para essas coisas, seria extremamente difícil para mim.

60 dias com eles Where stories live. Discover now