Capítulo 4 - Cicatrizes

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− Ailynnnnnn... − Gritou papai!

Corri para fora em sua direção pulando no seu colo como uma criança, tentando prender minhas pequenas pernas em sua volta. Enchi de beijos suas enormes bochechas rosadas. Depois de cinco dias longe de casa, caçando, a saudade era muita!

Lesly também correu com o pequeno Egan no colo e meu irmão os agarrou num abraço.

Traziam vários animais mortos, que nos alimentaria por um longo período daquele inverno.

Soltei papai e dei um beijo em meu irmão mais novo - Reagan.

− O que meu irmãozinho caçou para mim? − enganchei em seu braço musculoso.

− Para você maninha, um coelho. Para você minha deusa, um javali enorme! − Disse ao ver Briana vindo em sua direção, toda graciosa.

Briana, uma jovem de cabelos loiros até a cintura, olhos verdes, estatura mediana, era a mulher por quem meu irmão se apaixonara. Crescemos todos juntos, então Briana era como uma irmã para mim.

Ela se aproximou de Reagan e ele me soltou para agarrá-la pela cintura com um de seus braços - pois o outro estava ocupado com um saco enorme contendo a caça - e deram um beijo longo.

A cena que presenciamos fez com que Lesly tampasse os olhinhos de Egan.

− Hum hum... vão preparar o jantar, meninas. Temos alguns assuntos a tratar com os homens da tribo e tem que ser ainda esta noite. − declarou papai.

Curiosa como sou, daria um jeito de espioná-los.

− Vão, mas não se demorem. − ordenou Lesly, sorrindo.

− Sim, minha amada. Voltarei logo para os seus braços. − Cedric se despediu beijando-lhe os lábios e em seguida afagou os cabelos dourados de Egan.

Sorri, por tanta demonstração de amor entre meus irmãos e cunhadas. Quem sabe um dia, aconteceria comigo. Meu primeiro beijo foi brincando com o primo Lear. Eu com cinco anos e ele com oito. Foi no momento da despedida, pois ele partira para a Irlanda. Não poderia considerar aquilo um beijo de amor. Desde então, com dezoito anos ainda não havia experimentado um beijo de verdade.

Enquanto os homens saíam para a reunião, comecei a pensar numa estratégia de fuga. Como escaparia de Lesly e Briana, para ouvir o que papai tinha a dizer? Muitas vezes, as mulheres podiam participar das reuniões, mas quando apenas os homens são convocados, com certeza era algo grandioso. E eu queria saber, custe o que custar.

Obstinada, eu era um pouco diferente das outras mulheres do vilarejo. Gostava de aventura, de ler e treinar a espada. Aprendi a cozinhar com as mais velhas, pois papai nunca se casou novamente. Mas entre os afazeres domésticos, preferia estar na floresta, procurando plantas e ervas para Lesly ou observando os pássaros e os esquilos. Como tínhamos muitas armas, levava uma espada comigo e treinava golpes nas árvores, imaginando ser aquele romano maldito que matou meu tio Aran.

Tinha apenas cinco anos, quando vi o momento em que o soldado teve seu rosto cortado pela espada do meu amado tio e logo em seguida aquele bárbaro matou-o. Lear era o único filho de meu tio, papai insistiu com tia Viviane para que ficassem conosco, mas sem sucesso.

Até meus quinze anos, o mesmo pesadelo (noite após noite) me assombrava. Não conseguia ver seu rosto coberto por uma escuridão, mas uma luz refletia parte dele e sua cicatriz realçava. Quando ele se aproximava de mim, acordava.

A Luz e o Herdeiro (Completa)Where stories live. Discover now