Capítulo 26 - Castelo Fleming

38 4 0
                                    

Fechei meus olhos, com meu rosto voltado para o sol, sentindo a maresia. O vento fazia meus cabelos se agitarem. Já estávamos no outono e folhas secas forravam o chão.

Dois anos se passaram, desde a nossa chegada em Fleming, mas as lembranças daquela noite ainda estavam frescas em minha mente.

Com a morte do Cardeal, Kizar estava sendo procurado (considerado um desertor) e havia até certa quantia para quem cortasse sua cabeça e entregasse ao Imperador e ao Papa.

Pela lealdade de Kizar, papai e meus irmãos não se opuseram a nossa união, que ele mesmo ministrou. Infelizmente o velho Vougan morreu naquela noite trágica e muitos outros também pereceram entre eles Arto.

Nosso casamento aconteceu dentro de uma semana após a nossa chegada.

O Avô de Kizar nos permitiu uma linda festa, apenas para nós, pois não queríamos chamar a atenção.

Kizar me explicou que Artur era pai de sua mãe, mas como não deu a bençao para que sua filha casasse com o pai de Kizar, ele não deu o sobrenome de sua mãe. Sendo apenas Kizar Grassi. Certo ponto, aquilo parecia providencial, pois seria um lugar improvável para nos acharem.

Enquanto acariciava minha barriga, que estava enorme. Braços fortes me envolveram por trás e me aconcheguei em seu peito.

− Bom dia, doce Ailyn.

− Bom dia, Capitão.

O Duque Artur Fleming, nos deu moradia e proteção – solicitou os serviços de Kizar como seu guarda particular. Artur também foi muito generoso ao contratar Cedric e Reagan como soldados em seu castelo. Papai começou a exerceu sua antiga função antes de ser líder – ferreiro. Um dos melhores.

Virei-me para ele. Acariciei seu rosto e ele segurando minhas mãos, as beijou. Abaixando-se beijou meu ventre, em seguida levantando-se segurando minhas mãos nas suas.

− Eu a amo Ailyn, e amo esta criança que está pra chegar e fazer companhia ao nosso pequeno Elliot. – disse sorrindo.

− Nós o amamos senhor, Capitão.

Abraçamo-nos e ele me deu um longo beijo.

Fomos interrompidos por papai, Egan e Elliot - nosso herdeiro - que corriam a frente.

− Tia Ailyn!

− Mamãe!

Falaram ao mesmo tempo.

Abaixei-me para abraçá-los.

− Como está crescido, Egan. – afaguei seus cabelos loiros. − Você não fica atrás, filho. – o beijei na bochecha.

Elliot era idêntico ao pai: cabelos negros encaracolados, olhos escuros e muito esperto. De mim, posso dizer que puxou a teimosia.

− Papai... – sorri para ele e o abracei.

− Minha criança! – Meilyr disse, entre risos.

Ele nunca iria parar de me chamar de criança? Sorri.

Olhei para o céu e agradeci a Deus, que não era mais um desconhecido para mim. Aquele livro preto, Kizar o pegou e temos lido juntos, pois não sabia o latim.

Enquanto papai e Kizar com Elliot pendurado em suas costas caminhavam à frente, Egan puxou a manga do meu vestido.

− O que foi, querido? – continuei caminhando, não lhe dando muita atenção.

− Meu amiguinho quer que te conte um segredo, tia.

Parei ao seu lado e segurei em seus ombros.

Passou tanto tempo que havia me esquecido do "amiguinho" de Egan.

− Sim Egan, pode contar. – disse, rindo por dentro, das imaginações daquela criança.

− Ele disse que o perigo ainda está perto. – sussurrou ao meu ouvido.

Meu coração disparou e não soube como lidar com o que Egan disse. Eu acreditava nele, depois de tudo o que aconteceu.

− Tudo bem, meu querido. Vamos todos ficar bem...

Quando me levantei senti algo escorrendo entre minhas pernas e soube que era o momento.

− Kizar. – o chamei.

Ele virou-se e também soube, pelo largo sorriso em meu rosto, apesar do que Egan me disse.

− O que foi? – perguntou papai a Kizar.

− Seu neto ou neta, Meilyr, está chegando.

Papai e Kizar se abraçaram eufóricos. Sorri para eles, minha felicidade era completa.

Mas logo o sorriso se desfaz e sinto o sangue fugir de minhas veias. Ou estava tendo alguma alucinação, ou era real. Atrás de uma árvore a vi, era inconfundível. Morgana nos observava ao longe e fugiu assim que ouviu meu grito apavorado.

Tudo aconteceu muito rápido. Lya estava em meus braços aos berros. Uma linda garotinha. Seus poucos cabelos eram ruivos como o meu e olhos azuis acinzentados.

Briana e Lesly ajudaram-me no parto. Assim que ouviu a criança chorar, Kizar entrou no quarto com Elliot em seus braços.

− Venham cá, meus amores. Conheçam Lya, sua filha Kizar e sua irmãzinha, Elliot. – olhei para eles e não contive o choro.

Kizar sentou-se com Elliot do meu lado na cama e nos abraçamos.

− Obrigado meu amor, por ter me dado essa preciosidade. – declarou beijando minha testa. Seus olhos estavam marejados. – Veja Elliot, como ela é pequena e linda.

− Papai... ela é linda sim... mas quando ela vai parar de chorar? – virou-se para Kizar, esperando pela resposta.

Todos rimos diante da inocência do pequeno Elliot.

Lembrei-me do dia em que ele nasceu. A poucos meses de nossa chegada à Bretanha. Foi um parto muito difícil, devido ao stress que sofri, mas Elliot veio forte e perfeito – nosso príncipe.

Kizar me olhou sério, depois que Lesly levou Lya para dar-lhe um banho.

− Amor, precisamos conversar. – ele estava sério – Sei que não é o momento propício, mas fiquei preocupado com seu grito, lá no jardim.

Desviei meu olhar e pensei naquela mulher atrás da árvore. Kizar poderia não acreditar, eu mesma não tinha certeza do que vi. Voltei a olhá-lo e dei meio sorriso.

− Pensei ter visto alguém familiar, meu amor, não se preocupe... foi apenas impressão.

Uma coisa eu não havia mudado – minha curiosidade em descobrir as coisas.

Iria ter a certeza de que Morgana estava viva e o que ela fazia na Bretanha e pior... por que estava nos espionando?

A Luz e o Herdeiro (Completa)Where stories live. Discover now