Capítulo 27 - Tarde de outono

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Lesly e Briana deram continuidade na fabricação dos remédios, no atendimento tanto para os soldados, quanto para a realeza e serviçais do Castelo Fleming.

O Duque era viúvo e tinha um casal de gêmeos, Louis e Areta, da mesma idade de Egan. Sua segunda esposa falecera no parto.

Sinto falta da nossa tribo, apesar das guerras que ajudaram a dispersá-la e nos afastaram dos demais. Artur fazia questão de nos tratar como parte de sua própria família, o que nos ajudava a refazer nossas vidas.

Após colocar Lya para dormir, no início daquela tarde de outono, sentei-me num espaço para leitura em nosso quarto – em frente à janela grande com vista para o jardim atrás do castelo.

Fleming tinha uma vasta biblioteca de três andares, repletos de livros bem conservados. Trouxe comigo um livro de poesias indicado pelo senhor Dorigan – guardião daquelas preciosidades.

− Senhora Grassi, permita-me dizer. – curvou-se ao me entregar o livro de poesias. – Minha felicidade é intensa ao vê-la aqui, pois há anos este lugar não é tão frequentado, apenas o senhorio Artur passa horas naquela poltrona – acenou com a cabeça, indicando um assento de couro marrom, bem posicionado ao lado de uma das poucas janelas - com vista para o pequeno lago - ao lado do castelo.

Para animá-lo, disse que seria presença assídua, pois ler sempre fora minha paixão.

Relembrando nossa pequena conversa, escapou-me um sorriso. Dorigan era um senhor grisalho, baixinho, de fala fina, mas muito educado e gentil. Mas logo minha mente voltou-se para o que me deixava cismada.

Já havia passado quase um mês quando vi aquela mulher, muito parecida com Morgana. Devido aos cuidados com Lya, ainda não tive tempo para ir atrás de informações sobre de quem se tratava. Fiz algumas perguntas as serviçais, mas ninguém soube me dizer.

Kizar percebia minha distração, mas devido às reuniões com os soldados da segurança do castelo e as expedições com o Duque, ficávamos dias sem nos ver. O que achava bom, pois ainda não tinha algo concreto a lhe dizer e não queria preocupá-lo.

Olhei para o livro em minhas mãos. Abri a primeira página e nela continha uma pequena dedicatória, que me tirou o fôlego: "Para minha amada imortal, a quem pertence meu coração – sempre seu... Lear."

Lear. Aquele nome ecoava em minha mente e um tremor correu em minha espinha. Minha atenção voltou-se para o jardim de onde vinham as risadas, das brincadeiras de Elliot, Egan e os gêmeos. As babás soltavam balões de sabão e as crianças corriam atrás delas. Egan, por ser mais velho, protegia os demais, em especial Elliot. Tornaram-se grandes amigos.

Baixei meus olhos para o livro, lendo novamente a dedicatória. Quem seria a "amada imortal"? E Lear, quem era?

Virei à próxima página e passei a ler a primeira poesia.

"O fogo dos teus olhos me consome, me enrubesce.

O toque de suas mãos, como o sol me aquece.

O beijo de seus lábios, aos poucos me enlouquece.

Não me deixes, por favor, Essa é a minha prece."

Trouxe o livro aberto até meu peito, refletindo naquelas palavras. Um amor exigente e caloroso. Não pude conter o suspiro que saiu de minha boca.

Fechei meus olhos, imaginando os personagens daquele livro, e até mesmo o autor da dedicatória e sua amada. Qual fora seus destinos?

Abri meus olhos e voltei minha atenção para o jardim. As crianças ainda estavam brincando, agora sentadas sobre uma toalha no gramado, junto das babás.

A Luz e o Herdeiro (Completa)Where stories live. Discover now