Capítulo 29 - Fantasmas do passado

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Minha alma parecia ter se desprendido do meu corpo. Apenas o vento tocava-me e a sensação era maravilhosa, pois não havia chão sob meus pés.

Olhei-me e percebi que estava vestindo apenas as vestes de baixo do meu vestido, branca e transparente, desenhando meu corpo.

O vento me empurrava com toda a força, fazendo meus cabelos se agitarem, batendo em meu rosto.

Aquilo era incrível, inimaginável. Eu podia voar, mas não era dona da direção, algo me impulsionava para o lugar que amava – Caneuon.

Meu cativeiro ia ficando para trás junto a minha dor. Quanto mais eu pensava em Kizar, mais rápido eu voava, havia urgência em meu coração.

O fantasma de Lear viera para me atormentar e ainda não podia crer nisso. Como ele estava vivo?

Olhei mais uma vez para baixo, não sentia medo da altura e nem das montanhas. Se esticasse meus braços, poderia tocá-las.

Um largo sorriso estampou em meu rosto assim que avistei as pedras de Caneuon e meu amado, apoiado na maior delas.

Ele sorria também e assim que toquei o chão corri para seus braços. Ele me apertou como se o amanhã não fosse existir, eu estava a salvo.

Mas algo estava errado, o corpo de Kizar estava ficando frio e quando me afastei dele, havia sangue em minhas mãos.

Lear estava logo atrás segurando um arco e com um sorriso maquiavélico. Uma flecha atravessava as costas de Kizar.

Um grito saiu de minha garganta e senti alguém chutando minhas pernas.

− Acorda, sua desgraçada! Não temos o dia todo!

Demorei para entender onde estava e que tudo aquilo era um pesadelo. Meus olhos arderam diante da luz que vinha do alçapão acima. Assim que minha visão se acostumou à luz, pude ver quem havia me agredido.

Morgana! Sim, era ela. A mesma que estava nos olhando no dia em que Lya nasceu. A mesma que havia tomado o veneno em meu lugar. Eu a vi morta, assim como Lear. Aquilo tudo era impossível.

Tentei sentar naquela cama de trapos, mas a dor fazia meu rosto torcer.

− Já disse que não temos o dia todo! – ela voltou e me esbofeteou, me fazendo cair da cama. Toquei meu lábio sangrando e me levantei, ignorando a dor que sentia.

Agradeci por ainda estar com meu vestido e não com as vestes de baixo, expondo meu corpo.

Olhei para Morgana, que colocava uma refeição em cima de uma mesinha ao lado da escada por onde ela veio.

Poderia tentar fugir. Ouvia os passos e vozes em cima, se eu apenas gritasse por socorro...

A risada dela me fez olhá-la.

− Você acha mesmo que poderá fugir? Pobre Ailyn, tão ingênua. Venha comer, Lear não a quer doente... ah... não se preocupe, a comida não tem veneno. Não é o dia da sua morte... ainda.

Subiu a escada ainda rindo e trancou-me baixando apenas as grades. Gritei!

− O que fizeram com Egan... Morgana... está me ouvindo? Onde está... Egan...

Ela me ignorou e se foi, então chorei desesperada.

Olhei para a tigela de comida. Não saberia dizer quanto tempo estava sem comer, meu estômago parecia ter um buraco, mas não poderia ingerir o que quer que seja. Não confiava em Morgana.

A Luz e o Herdeiro (Completa)Onde histórias criam vida. Descubra agora