Capítulo 1: Primeiro Dia de Aula

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9 ANOS DEPOIS

Acordei assustada com o barulho do despertador que estavam em um criado-mudo ao lado de minha cama, levanto rapidamente o que me dá um pouco de vertigem, vou até o banheiro escovar os dentes. Meu banheiro não era muito grande, era retangular com um box pequeno que dividia a área do chuveiro com o resto do banheiro. Acima da pia havia um armarinho, onde estavam alguns produtos de higiene, e na portinha havia um espelho quebrado. Eu odiava aquele banheiro, talvez por ser um ambiente escuro, sim provavelmente era por isso.

Após escovar meus dentes fui me arrumar para a escola, primeiro dia de aula, novas pessoas, mas meus medos continuavam a me cercar, depois da festa de uns meses atrás as pessoas nunca mais foram a mesmas comigo. Mas não era minha culpa, certo? Eu não pedi para ser uma mutante, muito menos pedi para Jason... Minha cabeça começou a doer só de lembrar, eu odiava aquela escola, odiava os alunos, felizmente estava no meu último ano lá, depois talvez me mudaria para bem longe dali, nunca mais precisaria ver aquelas pessoas, nunca mais viveria naquele lugar.

Sinto o cheiro de café forte vindo da cozinha, e me surpreende que Sina consiga fazer tantas coisas mesmo tendo deficiência visual, eu amava aquele cheiro. Sina não tinha parentesco nenhum comigo, mas desde os meus 8 anos ela tem cuidado de mim, mesmo quando Raven foi embora, o que para mim ainda era um mistério, e mesmo Sina dizendo sempre que não sabia os motivos, ela me aparentava saber mais do que sabia.

Desço os degraus da escada que dá a sala de estar da casa, não era uma casa muito grande, dois andares com dois quartos em cima, sala e cozinha em baixo, os móveis eram uma pouco velhos, o que fazia com que tivesse um ar vintage no ambiente.

-Bom dia, Anna- mesmo sem poder ver, Sina olhou para minha direção como pudesse saber exatamente onde eu estava- Preparada para o primeiro dia de aula?

-Bom dia- respondi sentando em uma das cadeiras que estavam em volta da circular mesa de madeira no centro do lugar- Na verdade não, mas não vejo a hora desse ano acabar.

-Esse ano será bom para você- Ela falava com tanta certeza, parecia até mesmo que ela pudesse ver o futuro ou coisa do tipo- E você vai conseguir fazer novas amizades, mesmo com o incidente da festa.

Mais uma vez toda aquela cena da festa, as bebidas, as pessoas dançando, Jason se aproximando de mim e conversando, ele pegando em meus braços e me levando praticamente forçada a seu quarto. Eram muitos sentimentos que eu não gostaria de lembrar, aquele dia tinha sido importante para mim, mas dizer que foi importante não significa dizer que foi bom. Era tudo tão recente e assustador, aquele dia foi um dos piores para mim. Aconteceu antes das férias de verão, e eu torcia para que as pessoas não me discriminassem por aquilo.

Após tomar uma xícara de café, fui andando para escola, Sina sabia se cuidar sozinha, mas mesmo assim todos os dias eu ficava preocupada com ela. Indo para a escola via vários estudantes pelo mesmo caminho que o meu, alguns passavam me encarando, outros cochichavam com seus amigos, e alguns novatos passavam sem me notar, o que era ótimo. Chego ao estacionamento, do lado de fora da escola que era uma construção antiga amarela, tinha três andares e colunas nas pontas, janelas altas e largas, e uma escada que dava para a entrada. Quando pisei o pé dentro da escola, fiquei com frio na barriga, minhas mãos começaram a tremer, ia passando pelos corredores e os alunos viravam para me ver, e como sempre, cochichavam ao meu respeito, teve até uma menina que gritou do outro lado "Vaza da escola, animal", aquilo ecoou em meus ouvidos, eu realmente comecei a me estressar com todos aqueles alunos me olhando, eu suava frio e parecia que a qualquer momento ia me descontrolar, mas resolvi me acalmar. Finalmente tinha chegado ao meu armário, do lado havia um grupinho de garotas que estava fofocando sobre alguma coisa e quando eu cheguei saíram dali, revirei os olhos. Dentro no meu armário cai um bilhetinho

"Aberração, saia da nossa escola, ou você sofrerá em nossas mãos"

Amassei o bilhetinho, mas a raiva começou a percorrer meu corpo todo parecia que eu ia explodir ali mesmo.

-Anna?

-O que é? - elevei meu tom de voz pensando que era mais alguém para me perturbar, mas quando virei, vi que era a inspetora do corredor, Sra. Potter- Oh, me desculpe, eu não...

-Tudo bem, criança - me interrompeu- Eu vi que alguns alunos estão te perturbando, se quiser estou aqui para conversar, ok?

-Ok, obrigada Sra. Potter- ela era uma senhora de aproximadamente 50 anos, estava naquela escola a anos, sempre quando podia eu ia conversar com ela, era ótima com conselhos, e eu adorava como ela contava histórias de sua vida, ela saiu dali, pedindo para alguns meninos pararem de correr pelos corredores, o sinal tocou.

Aquele dia pareceu que estava passando mais lento que uma tartaruga, eu olhava para o relógio, que ficava em cima do quadro negro, e o horário não passava nunca, uma eternidade, e eu não via a hora de acabar aquele dia logo, só queria voltar para casa e falar para Sina nunca mais me mandar para aquele lugar.

Finalmente quando o sinal da última aula tocou, eu me apressei a sair da escola o mais rápido possível, estava passando pelos fundos da escola para ir embora quando um grupo de alunos chegou me cercando.

-Ora, ora, o que temos aqui?

-Uma aberração. - respondeu um dos garotos e todos começaram a rir.

-O que vocês querem? - perguntei brutalmente, elevando o tom de minha voz, fazendo ela parecer mais firme e controlada.

-Que você nos deixe, deixe essa escola, e que pague por tudo o que tirou do Jason, animal- respondeu uma garota, Lilly era seu nome, antes ela se denominava minha amiga, e esse pensamento me fez ter um leve sorrisinho ironizando o que ela havia pedido.

-Quando vocês vão perceber que a maior vítima foi eu? Eu e mais outras garotas que vocês fingem se importar, vocês não perceber que Jason era um...

-Cale a boca, aberração- me interrompeu um dos garotos.

-Calar a boca? Justo quando estou falando verdades? - eu estava deixando a raiva percorrer todo meu corpo no momento- Hipócritas! Dizem se importar com o bem-estar de um dos outros, mas quando uma de vocês se machuca desse jeito vocês a põe como vilã! Sempre assim, não é mesmo? As mulheres sempre são culpadas até pelo que não tem culpa, e isso me entristece mais ainda ao saber que meninas pensam assim também- digo virando para algumas garotas que estavam no meio do grupinho, eram uns sete alunos- Não me importo se vocês irão me machucar, porque na verdade vocês não são nada, se acham tão inteligentes, mas na verdades seus crânios são vai...- Uma garota me deu um tapa no rosto, e os outros se aproximam para me atacar também, naquele momento, apanhando daquele jeito eu pensei em tirar minha luvas, mas não conseguia me mexer, foi tudo rápido, eu não conseguia respirar, não conseguia gritar por ajuda, então aos poucos fui apagando, meus olhos relutavam a se fechar, enquanto minha cabeça e todo meu corpo dois, sentia escorrer sangue pelo meus lábios, meus olhos fechando, e fiquei ali jogada na grama rala da parte de trás de minha escola, e tudo o que eu lembro era de alguém gritando pelo meu nome.

The Rogue's Touch / CONCLUÍDAOnde histórias criam vida. Descubra agora