Capítulo 10: Maças

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Ja haviam se passado dois dias que eu estava morando no orfanato. Era longe da área habitada, ficava em uma área ampla e verde da cidade, por isso nós estudávamos na própria casa, tínhamos algumas professoras e a cada dois dia um professor era mandado pelo municípyio para nos ensinar matérias como química. Por também estar estudando ali, minha matricula na Bayville High School tinha sido cancelada, o que era bom porque não estava querendo lidar com mais mutantes. Eu estava amando passar meu dia com Mary, ela era um garota excepcional, seus cabelos castanhos e ondulados jogados como uma cascata sobre os ombros, olhos escuros que dava para ver toda uma galáxia por eles, um sorriso impecável de branco com dentes perfeitamente proporcionais e retos, seu humor me fazia rir e ate mesmo esquecer pelo que eu havia passado dias atras, as vezes me sentia mal esquecer, por um único segundo, de Sina, mas logo Mary me reconfortava pela perda dela. 

No primeiro dia ainda foi um pouco confuso tanto pra mim quanto pra ela, me encheu de perguntas como "Qual é da mecha branca?", "Esta muito calor, porque não tira um pouco essas roupas longas e grossas e coloca uma mais fresca?" ou "Quando você esta naqueles dias, da vontade de transar?", eu respondia sobre o cabelo, era uma coisa de nascença, sobre as roupas eu arrumava desculpas, "Calor? Estou morrendo de frio" ou "Não gosto do meu corpo, prefiro ficar assim!", e sobre a ultima pergunta ela apenas me fez rir. 

 Nosso quarto não era grande, era retangular com uma janela quadrada em uma das paredes, por nosso quarto estar no ultimo andar nosso teto era diagonal no formato do telhado, uma única cama preenchia o quarto cinza e monótono, um tapete vermelho dava uma cor, tanto a cama quanto o guarda-roupa dividíamos, assim como todas as outras garotas que moravam la. Além de Mary, de vez em quando, conversava com Laura e Beatriz, gêmeas que haviam perdido os pais em um assalto. Quando anoiteceu, no segundo dia que eu estava ali, Mary sentou-se ao meu lado na cama com uma cestinha contendo quatro maças, soltando seu cabelo que estava preso em uma coroa de tranças.

 -Ann, vou te ensinar uma brincadeira- disse ela sorrindo para mim pegando uma maçã e uma faca que estava dentro da cestinha, ela me oferece e eu pego, fiquei imaginando que tipo de brincadeira era aquela, ela me da outro sorriso- Descasque a maça por uma tira longa, tente tirar o máximo que você conseguir. 

 Eu fiquei em silêncio, sem mesmo a interromper perguntando sobre o que era a brincadeira, começo a descascar a maça dando voltas nela com a faca ate que consigo descascar ela por inteira, minha mãos ficaram um pouco úmidas pelo suco da fruta e o cheiro logo invadiu minhas narinas, um cheiro doce e agradável que me fez lembrar de quando era pequena e minha mãe colhia frutas do pomar dos fundos da casa, colocava um pote grande com frutas em cima da mesa sempre com um sorriso no rosto, lavava uma maçã na torneira da pia e me entregava, "Cuidado para não se engasgar com a casca" dizia ela sempre. O cheiro que ficou em minhas mãos me fez lembrar disso por algum motivo. 

 -Consegui tirar inteira!- digo pra Mary, ela se levanta puxando minhas mãos, minhas luvas ainda úmida do suco da fruta a fez soltar e limpar em seu vestido azul marfim.

 -Calme, deixa que eu sei levantar sozinha- digo dando uma risada- Ok, mas qual é a da brincadeira?

 -Viramos de costa e você joga a casca por cima de seu ombro esquerdo, quando cair formara uma letra, essa letra será a inicial do homem que você ira se casar. 

 -Sério mesmo isso Mary?- digo ironizando a brincadeira.

 -Não reclame! Apenas faça- diz ela se virando de costas a janela, me junto ao lado dela- Quando eu contar ate três. Um... Dois... Três! 

 Jogo a casca sobre meu ombro esquerdo, ainda continuo virada para a janela, ver Mary sorrindo me fazia feliz, nos tinha conhecido a pouco tempo mas eu já amava minha amiga, era incrível como em um dia minha vida virou de cabeça para baixo, enquanto em outros dois, encontro uma das mais pelas almas do mundo, e ainda eu não tinha estragado isso. Prometi a mim mesma que não iria. Me viro junto a Mary para ver a casca da maça jogada no chão, a uma das pontas da casca havia quebrado fazendo com que o que era pra ser um circulo perfeito de um "O" se tornou um "G". Ela ficou olhando e pensando um pouco.

 -O que foi?- pergunto.

 -Nada, só estou pensando se lembro de alguém que comece com essa letra, ela continua pensando por algum tempo, olha pra mim e da um sorriso.

-Não conheço ninguém que, o nome, comece com a letra "G".

-Agora sua vez- digo pegando uma das maças e colocando em sua mão junto com a faca.

Elas começa a descascas a maça com cuidado mas a casca quebra e cai em cima da cama fazendo ela soltar um "Ops...", ela pega outra maça e novamente começa a descasca-la, ela olha com cuidado para não quebrar mais uma vez a casca, mas quando vejo estava com uma cara de decepção por não ter conseguido cortar certo a casca da maça.

-Isso é só uma brincadeira, Mary, não significa que você não vai casar um dia e ter uma família.

-Claro! Isso é apenas uma brincadeira idiota- ela pega cesta e coloca as maças descascadas e suas cascas e põe em um canto, deita na cama se aconchegando ao meu lado, eu deito também.

-Amanhã você ira conhecer Remy.

-Quem?

-Um cara que vem sempre aqui, ele é legal, francês, bonito...

-Hmm.

-Nada disso que você esta pensando, bobinha- ela vira para  o outro lado ficando de costas para mim- Boa noite, Ann.

-Boa noite, Mary.

Viro para o outro lado, agora estamos uma de costas a outra, me lembrei de quando minha mãe me colocava para dormir, eu tinha sete anos e ela sempre fazia as mesmas coisas, como uma rotina, escovava meus dentes, colocava meu pijama, e me cobria, "boa noite, borboletinha" era o que ela me falava sempre sentada na ponta de minha cama. Teve uma noite que foi diferente, ela falou para eu fazer sozinha aquelas coisas, disse que precisava resolver alguma coisa, ela apareceu na porta do meu quarto em quanto me deitava.

-Borboletinha, aconteça o que acontecer, não sai desse quarto! - ela se ajoelha  ao meu lado- Prometa para mim, Anna. Prometa para mim que ficara aqui, no seu quarto, segura.

-Mamãe...

-Prometa!

-Eu prometo , mamãe.- Ela me abraça.

-Eu te amo tanto, Borboletinha!

-Eu também de amo.

Ela se levantou saindo do quarto, mal sabia eu que aquela seria a ultima vez que eu ouviria sua voz, sentiria seus bracos em volta ao meu corpo me fazendo sentir segura, que eu ouviria um "Eu te amo" dos seus lábios. Mal sabia eu que, naquela noite, minha mãe seria morta.

The Rogue's Touch / CONCLUÍDAWhere stories live. Discover now