Capítulo 11: Remy

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Na manhã seguinte, acordamos com o sino do orfanato. O dia era claro mas frio, um vento gélido entrava pela única janela do quarto, a cortina vermelha sangue balançava como ao som de uma música, as arvores chacoalhavam com suas folhas entrando em contato uma com a outra. Levanto sentando na cama com os cabelos ainda desgrenhados e olhos inchados de sono, percebo que, com meus movimentos ainda dormindo, a manga de minha roupa havia levantado ficando a mostra meu braço esquerdo, abaixo rapidamente tampando meu braço, Mary ainda resmungava para acordar. Me ponho de pé pego coisas de higiene, escova de dentes, creme dental e absorvente que ficava em uma prateleira dentro do guarda roupa que eu e Mary dividíamos, e vou para o banheiro que ficava no fim do corredor logo após alguns quartos. O banheiro era amplo, dividido em divisórias com um vaso sanitário em cada, parecia uma banheiro desses públicos de shopping e escolas, e uma pia longa de mármore com um espelho que ia por toda a distancia da pia. Entro no banheiro e logo atras de mim Mary, as gêmeas Laura e Beatriz estavam saindo quando entramos.

-Bom dia meninas- falou, Beatriz.

-Bom dia- respondemos eu e Mary.

Depois de usarmos o banheiro, nos trocamos de roupa, Mary vestiu um vestido que ia ate os joelhos, um pouco rodado, era azul com detalhes brancos, eu só coloquei uma camiseta verde escura de mangas longas, uma calça jeans pretas e meu coturno que ia ate metade da panturrilha, um cachecol fino preto que eu usava para cobrir meu pescoço, meu cabelo solto ate os ombros.

Era sábado, então não teríamos aulas, nos devíamos fazer nossos deveres e depois podíamos ir caminhar pelo bosque. Era dia de eu e Mary lavar e guardar as louças. Mary odiava lavar as louças mas com muito insistência e persuasão conseguia convencer ela a lavar enquanto eu secava e guardava nos armários. Consumávamos ouvir musica durante o serviço de casa, naquele dia estávamos ouvindo Born to Die de Lana Del Rey, eu gostava daquela música, Mary falava que era muito depressiva e que combinava comigo, eu ria.

Terminamos de arrumar a cozinha antes das 10:00 horas então saímos para caminhar um pouco. Quando saímos pelas porta dos fundos só se podia ver o verde das árvores e das plantas, o sol reluzia em nossos rostos e aquecia o solo, mal se podia ver nuvens no céu.

-Ann, como você se imagina no futuro?- Mary perguntou.

-Bom... Não sei muito bem, talvez bem longe daqui.

-Eu sei que é um assunto recente- disse ela mudando de assunto- Mas posso te fazer uma pergunta?

-Claro- mesmo permitindo que ela fizesse a pergunta, fiquei receosa do que seria, provavelmente algo relacionado a Sina ou aos meus pais biológicos.

-Sina te criou desde pequena, certo?- confirmo mexendo a cabeça- Mas... Ela sempre te criou sozinha? Nunca teve mais alguém? Um esposo dela talvez?

Raven. Raven ajudou Sina a cuidar de mim por um tempo. Não muito. Eu me lembrava perfeitamente dela, cabelos loiros e cacheados que caiam sobre as costas presos em um rabo de cavalo frouxo, os olhos claros quase amarelos. Eu lembrava dela. Eu lembrava cada detalhe de seus rosto.

-Sim, teve uma mulher. Raven. Ela foi quem me convidou a morar com elas...

-E o que aconteceu com ela?

-Não sei. Eu acordei um dia e ela ja não estava mais na casa.

-Sinto muito...

Ficamos em silencio durante um tempo, se podia ouvir com clareza o piar dos pássaros e a agua caindo da fonte.

-Ei! Esta quase na hora- interrompeu o silencio Mary, ela estava empolgada- Remy esta quase chegando, vamos!

Ela segurou em minha mão coberta pela luva preta e me puxou ate a entrada da casa, Remy era o cara que ela havia me falado na noite passada.

-Ann, Remy é um amigo da Sra. Brunksfield- ela disse em um sussurro em meu ouvido- Ah, não repare demais nos seus olhos, ele não gosta.

Ela se encosta no corrimão da escada, quem a via pelas roupas podia jurar que ela era uma garota delicada e educada, mas quem a via naquela posição, braços apoiado no corrimão um dos pés na escada o outro no chão, cabelos desgrenhados, uma verdadeira menina moleca. Eu cruzo os braços, não queria ficar ali esperando por sei la quem, mas esperei por Mary. Duas garotas vieram correndo em nossa direção.

-Ele chegou!- avisou uma.

Ele devia ser alguém muito querido por todos ali, tanta empolgação por alguém. Vejo a Sra. Brunksfield entrando na área onde estávamos, ela estava seguida por um homem, Remy deduzi. Ele era alto e magro, tinha um maxilar maravilhosamente definido, cabelos castanhos desgrenhados jogados para o lado e alguns caiam em seus olhos, usava um sobretudo marrom escuro por cima de suas roupas pretas, tinha uma barba rala e mal feita, e seus olhos... Seus olhos eram diferente. Pretos. Totalmente pretos com uma íris avermelhada. Diferente. Estranho. Encantador. Mary tinha me avisado para não reparar nos olhos do rapaz, mas era praticamente impossível.

-Bonjour mes chers- francês.

-Olá, Remy- respondeu Mary se ajeitando de sua posição largada, aceno com a cabeça.

Ele olha pra mim, levanto os olhos em direção aos seus, conseguia ver claramente os olhos negros do rapaz, ele repara nas mecha brancas de meu cabelo.

-Mutant- sussurra, o sotaque francês era perceptível ate mesmo em um sussurro impossível de se ouvir, ele sai dali.

-Vem- Mary me chamou subindo as escadas, a sigo.

-Aquele garoto é estranho.

-Quem? Remy?

-Sim.

-Ele passou por algumas coisas difíceis também.

-Isso é bem notável em seu olhar.

-Toda família dele morreu... Assim como a sua...- silencio- Desculpa não era isso que eu queria dizer.

-Não se preocupe, Mary. Vem, vamos fazer alguma coisa.

-Tipo?

-O que nos fazemos de melhor! Reclamar da vida- repondo dando um sorriso subindo as escadas.

Naquela noite eu perdi o sono, milhares de pensamentos encheram minha mente, era impossível fechar os olhos e pegar no sono, parecia que meus pensamentos falavam comigo.

Você corre perigo.

Levanto com cuidado para não acordar Mary que dormia ao meu lado. Abro a porta e sigo pelo corredor descendo as escadas. Vou para a cozinha, abro a geladeira e pego uma garrafa d'água gelada, fecho a geladeira e me assusto ao perceber que não estava sozinha.

-Desculpa se te assustei- os olhos negros e vermelhos brilhavam no escuro, o brilho da lua vindo de trás pela janela deixava Remy mais bonito do que ja aparentava ser.

-Não se preocupe, devia ficar mais alerta mesmo- dou um sorriso de lado, um sorriso descontraído mas forçado.

-Então Anna, certo? Qual o motivo de você estar aqui?

-O mesmo que o do resto das garotas, imagino.

-Perdeu seus pais em um acidente? Deixa eu adivinhar- ele faz uma cara de pensativo- Assassinato?

Olho assustada pra ele, como ele sabia? A escuridão da noite deixava Remy mais misterioso e tentador.

-Bom, adivinhou- respondo colocando o copo em cima da pia e saindo dali.

-Espere!-ele se desencosta do balcão- Desculpa, de novo, eu não queria te deixar desconfortável.

-Não deixou- retruco, me viro em direção a porta e saio- Boa noite, Remy.

Subo as escadas novamente indo para o meu quarto, deito na cama e mais pensamentos viam em minha mente. Fechei os olhos esperando que alguma hora pegasse no sono.

Naquela noite tive um sonho. Minha mãe estava em nossa antiga casa, seus cabelos se mexiam como se fosse chamas, objetos levitavam em sua volta, meu pai estava a sua frente, mas ele estava... diferente. Seus olhos estavam brancos, ele estava alguns palmos a cima do chão, seu cabelo que era escuros estavam totalmente brancos, de suas mãos saiam raios de luz, tão fortes que podiam cegar alguém que olhassem fixamente pra elas. A imagem muda e minha mãe esta caída no chão, meu pai de pe ao seu lado, e eu abaixada chorava vendo toda aquela cena.

The Rogue's Touch / CONCLUÍDAOnde histórias criam vida. Descubra agora