Capítulo três - A vontade

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' ...You've been scared of love
And what it did to you
You don't have to run,
I know what you've been through...'
I feel it coming
- The Weeknd -


Passei uma mão pela minha nuca mais uma vez naquela noite. Eu estava bastante cansada. Já havia mostrado mais de 15 imóveis num único dia e aquilo teria me feito bem, se ao terminar daquele dia, eu não parasse no mesmo lugar de sempre, pensando nas mesmas coisas. Tirei meu óculo de grau e fechei os olhos. Era humanamente impossível não me pegar pensando no que havia acontecido com a minha vida calma e pacata. Era mais difícil ainda não imaginar os lábios dele sob os meus, fazendo-me delirar.

Durante muito tempo, eu fui uma garota apaixonada, amei o meu ex-namorado ao ponto de achar que ao lado dele eu estava feliz para o resto da minha vida, mas contos de fadas não são assim e ele não é nem de longe o amor da minha vida. Foram anos em relacionamento abusivo, onde o ciúme comandava todas as nossas brigas. Eu não podia ir à esquina, não podia sair com as minhas amigas que ele estava lá, reclamando porque supostamente tinha um garoto por perto. Irritou tanto ao ponto do amor que eu achava sentir por ele acabar. Apesar de tudo, sempre fui de acreditar em destino.

Um belo dia, você encontra um cara e você consegue cometer loucuras por causa dele: você se vê perdida na simples ideia de tê-lo ao seu lado, mesmo que ali passe por cima dos seus princípios. De maneira geral, isso chega a ser clichê. Para mim, não. Não é clichê, porque eu pude sentir cada pedaço do meu corpo reagir a um simples toque. Cada parte do meu corpo se mostrou completamente entregue ao toque de um homem e diferentemente do que eu julgava ser o correto, ele era casado.

Eu não sou a garota mais correta do mundo e confesso que eu adoro qualquer tipo de loucura, pelo menos nos filmes, mas aquilo não era de longe algo que eu estava preparada para viver na minha realidade:


Primeiro, você vê um carinha qualquer. Depois, você imagina se ele será um bom pai, presta atenção no sorriso, nos ombros largos e na maneira em que ele parece se divertir. Se até aí estiver tudo ok, você passa para o segundo item.

Segundo, se ele olhar para você com aquele sorriso sincero, levantar um copo e demonstrar interesse em você ele já poderia ser um namorado legal. Pela reação do corpo dele ao se mostrar interessado em você, dali em diante, é com você... E eu posso dizer com toda certeza que ajuda muito se você não se mostrar tão fácil e se você cativá-lo com sorrisos e conversas em comum. E se novamente estiver tudo bem, passaremos para o terceiro e último item.

Terceiro: Minta. Se ele se mostrar interessado em carros e futebol e você detestar isso, finja interesse. Se você conseguiu ver nele um ótimo partido, passando por todos esses itens, ele pode realmente ser um ótimo pai para os seus filhos e você conversará com ele por toda a madrugada e ao final da noite, você trocará beijos com ele e o telefone, se o feeling ajudar, claro.

Daí para a frente, você viverá um romance no mínimo interessante, com um carinha qualquer que se mostrou o seu tudo. Mas, infelizmente, isso não aconteceu comigo.

Eu fiz tudo errado. Ele era casado, ele era um canalha e eu transei com ele sem ao menos esperar para entrar numa cama de motel, transei no carro. Levei um fora e ele ainda teve a cara de pau de vir com a conversinha de que 'o errado sou eu', você é uma garota perfeita. Por que os homens ainda chegam com essa ideia de que nós, mulheres, acreditamos que eles são os errados? Sabemos que somos nós, sabemos que a culpa da idiotice de nos apaixonar ao ver um sorriso implica unicamente a nós mesmas, e confessamos, nós adoramos a sensação de sentir o coração acelerar diante de uma nova conquista.

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