Capítulo dez - pertencer

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Náutico para mim era como um dia shopping em liquidação. Uma alegria tremenda, uma felicidade sem igual. Foi por ele que gritei por muitas vezes, por ele que chorei diversas vezes, por tantos e tantos motivos. Era pelo Náutico que eu conseguia perder a razão, ficar cega de ódio. Lembro-me do choro exagerado quando perdemos para o rival, lembro-me das vezes que fui fazer protesto.

É, eu já fui.

Coloquei nariz de palhaço e corri com mais 12 pessoas até o aeroporto para protestar contra os jogadores, protestar diante da antiga diretoria. Desde os meus primeiros anos, como torcedora calorosa, já vivi todo tipo de manifestação e hoje, posso dizer, o clube mudou demais. Em parte, por um certo homem, idealista, correto e que ama o Náutico acima de qualquer coisa, quem ele é? Meu ex-sogro.

Quando o conheci, ele era apenas mais um torcedor assíduo, hoje, ele é um dos diretores e foi através dele que me vi sorrindo para mais de 20 homens, todos sentados numa reunião, onde apenas eu era mulher.

Se eu me senti constrangida? Um pouco. Às vezes, parecia que eu estava num ambiente completamente diferente do que era acostumada, mas aí eu olhava para ele e ele sorria como um pai, nunca fomos amigos ou algo do tipo, mas de uns tempos para cá, nossa relação se tornou mais amistosa. Eu não namorava mais o filho precioso que tinha que estudar o tempo todo, não tinha mais problema algum. Ou tínhamos e ele ainda não havia se dado conta.

Durante toda a reunião dois pares de olhos fincaram em mim e diferentemente do que pareceu pelas minhas palavras, não foram os olhos do meu sogro e mais outro homem que estivesse no auditório e conversava comigo, que estava na primeira fileira, não.

Os olhos que eu sentia em cima de mim, eram os olhos dos meus últimos relacionamentos. Meu ex-namorado e Luiz.

Luiz.

Ele tinha essa mania terrível de encarar de perto as coisas que o interessavam e eu nunca deixei de me fazer presente na sua vida. Era quase como um brinquedinho que ele teve prazer de usufruir e que com o tempo tiraram dele. Claro que para os homens isso não é muito legal, quem diria para o bonitão do momento?

Balancei a cabeça e passei minha mão pela nunca, massageando o meu pescoço de várias noites mal dormidas.

Eu estava com saudade dele.

Esperei uma ligação, uma campainha tocar tímida, mas nada disso aconteceu.

Respirei fundo e encostei minha cabeça na parede, o ruim do estacionamento para os diretores era aquilo, se por um acaso você fosse uma pessoa pontual e resolvesse chegar cedo, vários e vários carros parariam atrás do seu e seria impossível sair até que todos saíssem.

Fui a primeira a ir embora da sala e logo me encostei a uma parede um pouco afastada. De onde estava, poderia ver com precisão as pessoas que caminhavam por ali, mas elas não conseguiam me ver por causa do escuro que estava ao meu redor.

Senti o coração disparar e vi quando Thiago sorriu abertamente para o ex e o cumprimentou feliz da vida. Meu coração bateu mais rápido do que já estava batendo. Será que ele estava ali? Minha cabeça martelava com essa pergunta.

Mordi o lábio inferior e vi quando Thiago deu um tchauzinho para o ex e caminhou a passos largos até mim.

Fiquei meio nervosa, esbarrei com ele na boate algumas vezes enquanto tentava inutilmente encontrar com o Eduardo e o mesmo tirou sarro da cara dele. Naquele instante eu não saberia dizer se ele havia me visto ou se apenas caminhou para o lugar que eu me encontrava para fugir do meu ex.

Ele sabia ser babão com os jogadores quando podia e por mais que Thiago fosse um banco bem péssimo, tenho certeza de que ele falou com o Thiago como se o garoto fosse o melhor jogador do mundo.

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