Capítulo 15 - Suportar

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                                  Garotas bem resolvidas sofrem por um trauma terrível e gargalham pegando o próximo cara na balada, elas são fortes, firmes e ainda conseguem transar com todo mundo sem se importar, tem um botãozinho de liga e desliga na mente e isso bloqueia qualquer tipo de sentimentalismo que a vida a dois – Ou a três, no meu caso – proporciona, elas gritam palavrão, elas afirmam que não se importam, elas são fortes e convictas de que a vida não é lá tão simples assim e que além do tal cara em questão, existem muitos outros, tipo eu quando acho que a vida não se resume a um cara só.

Garotas apaixonadinhas, fracas e tolas só pensam no cara em questão, elas choram, sofrem, pensam no quanto que a vida está dando errado, tudo isso, porque o tal carinha perfeito fez algo que as machuque. Não conseguem pensar com clareza e os dias não são legais se o tal amor da vida não dá nem um sinal de fumaça, elas são fraquinhas, apaixonadas e tolinhas. Estou um pouco repetitiva com isso, não é? Sei que sim, mas minha mente tolinha não quer abandonar a caixa de bombons que ele me mandou e o lencinho das lágrimas ao assistir o Diário de uma Paixão.

'Você precisa reagir', já explanava a minha mãe quando no auge dos meus 14 anos, via-me chorar a cada semana por um paquerinha que não deu certo, apesar de não ter ficado com todos os caras do mundo, costumava me apaixonar por eles, parte boa da vida? Eles sumiam tão rapidamente que eu sequer notava, era legal, chorava como se a vida tivesse acabado e depois passava. Assim como as lagartas para se tornarem lindas borboletas, elas passavam um tempo no casulo para voltarem mais fortes e bonitas. Eu queria ser essa lagartinha, passar pela transformação e me tornar uma linda borboleta esquecendo tudo do passado, esse que ainda estava mais do que presente em minha vida.

Uma semana se passou desde nosso encontro trágico, sete dias de inferno no trabalho que me fizeram esquecer tudo o que me irritava, durante o dia ao menos, já que a noite eu passava pela mesma tortura de sentir saudades de desejar o Eduardo na minha cama. Ele ligou, incansavelmente, todos os dias às 22 horas da noite, acho que era o momento em que ele chegava a algum lugar, em casa e queria sexo com uma pessoa diferente da esposa, sexo fácil, sem ter que dar um sorrisinho falso para uma garota num bar, era melhor assim, pelo menos eu achava isso, mas não atendi.

Meu manual de garota bem resolvida afirma que eu preciso de todos os jeitos possíveis esquecer tudo o que esse cara representa para mim e por mais que pudesse doer, a vida era aquela, eu tinha de aprender a caminhar sem que ele esbarrasse em mim, mesmo que tudo o que eu precisasse era dele aqui, ao meu lado enquanto eu choro mais uma vez com o filme mais romântico e bobo do mundo. Esse tipo de coisa não existe, Nickolas Sparks não é real, tenho certeza. Homens perfeitos desse jeito não aparecem, eles logo encontram uma substituta a altura e mesmo que para mim, Noah não tenha ficado todo aquele tempo sem ela, ele tinha na cabeça a imagem de garota perfeita, encaixe perfeito, amor da vida dele.

— Eu quero um Noah para mim — Sussurrei para mim mesma colocando mais um bombom de cereja e licor na boca, fechei meus olhos e me deliciei com o gosto. Chocolate. Se existia algo nesse mundo que eu poderia agradecer aos céus pela existência era o tal do chocolate, aquela sensação de plenitude, maravilhosa enquanto algo derrete na sua boca era indescritível, tinha vontade de chorar sempre que estava mal e uma caixinha daqueles bombons me esperava na loja para uma degustação, claro que dessa vez as coisas não tinham sido bem assim, mas eu ainda poderia afirmar que: Amo chocolate mais do que tudo, ou quase tudo.

Na manhã da sexta feira, quando eu já estava pronta para o trabalho, o porteiro interfonou e avisou que tinha um pacote para mim, rapidamente pensei ser a minha mãe com alguma ideia de que eu precisava comer algo diferente, já que ela sempre achava que eu não comia bem e avisei que desceria para pegar, já com as chaves do carro e pronta para ir a um imóvel para mostrar a um cliente, deparei-me com uma caixa vermelha com um laço rosa, olhei para o porteiro e ele sorriu fraco para mim, tive vontade de perguntar se ele não tinha errado a Laís, mas não, parecia mesmo ser para mim, respirei fundo e fui até o carro, abrindo e sentando no banco, acho que passei uns 15 minutos entre abrir ou não a caixinha que já tinha ficado clara para mim; era chocolate. Meus lábios encheram-se de saliva e eu logo as engoli, ao lado da caixinha tinha um pequeno cartão e eu tive a vontade assassina de jogar no inferno, não conseguia pensar em outra pessoa capaz de me mandar caixa de bombons depois de uma briga imbecil e infantil onde ele tinha dito que eu não representava nada para ele, fazia o tipo, o morder e depois assoprar, ser grosso e depois tentar confortar de algum jeito para uma possível transa.

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