Capítulo 16 - A Culpa

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Os carros passavam pela enorme avenida de um lado a outro, eu já tinha ligado duas vezes para a Bruna e nada dela me atender, respirei fundo e me deixei pensar no que estava fazendo ali.
Tínhamos marcado para nos ver, ela queria me falar algumas coisas e pela vigésima vez eu tinha certeza do que se tratava; até uma ambulância parar ao meu lado transportando mais um paciente em estado grave ou que apenas tinha passado mal.

Onde eu estou? Num hospital.

Fazia bastante tempo que eu não ia até ali, lembro-me de um coma alcoólico da Marcella, dois anos atrás, e do quanto que eu havia me preocupado com ela e tinha levado para o primeiro hospital que tinha pensado. Burra ela, que foi de livre e espontânea vontade, e lerda eu, que tinha levado para o hospital errado. Neguei com a cabeça, sorrindo, enquanto meus pés inquietos batiam no chão de mármore sem cessar, pior do que esperar alguém, é ficar plantada em frente a um hospital. Bruna não atendia e se em 5 minutos ela não aparecer, eu realmente vou embora. Apesar de não ter muito que fazer, na fossa em que me encontrava, ainda era legal ficar sofrendo em casa com os meus problemas, não com o dos outros.

Egoísta, não é? É, mas o problema é que naquele instante nada me deixaria mais feliz do que estar em casa... Ou não, mas isso faz parte de tudo aquilo que eu quero esquecer e jogar no lixinho da minha mente, onde fica tudo o que eu não quero ter que lidar no momento, mas por azar meu e sorte da Bruna, vi sua figura sorridente caminhar enquanto tagarelava no telefone e, em se tratando do sorriso maravilhoso que brotava dos seus lábios a cada minuto, era o namorado.

Revirei meus olhos e dei uma tapa no braço dela quando chegou próxima a mim — Poxa, se demorasse mais um pouquinho, já estava pensando que estava no hospital errado — reclamei e ela deu de ombros, sorrindo ao desligar o telefone, ainda consegui escutar um 'Eu te amo mais', que me fez fingir estar vomitando com as mãos no estômago e careta — Eca, você esta um filme de romance do tipo Romeu e Julieta de tão apaixonada, me deixa com uma ânsia de vômito sem igual — falei fingindo colocar o dedo na boca, voltando a fingir vomitar e ela me abraçou beijando minha bochecha; sorri de leve e fechei os olhos, finalizando o abraço e a fitando, séria - O que nos traz a um hospital de câncer, Bruna?

— Nada demais, Laís, apenas viemos fazer o que há muito tempo não fazíamos, lembra? Passar horas e horas deixando as crianças felizes? — ela sorriu lindamente enquanto entrava pela recepção falando algumas coisas com a recepcionista, que entregou dois crachás a ela — Como você está? — seu rosto virou para o meu e eu me assustei, estava perdida em pensamentos e me lembrando de tudo o que passamos ali num passado distante e, talvez por isso ou por outros motivos, aquela pergunta nunca era bem aceita por mim — A verdade. Vamos falando — a garota revirou os olhos e eu dei de ombros pegando o crachá que ela me entregava, eu não precisava responder, precisava?

— Eu estou bem — sorri amarelo — Como estaria? Vi você ontem, nada mudou de lá para cá — disse, enquanto pegava o crachá e pendurava na minha blusa, sentindo seu olhar sobre mim, mas não era mentira. Desde o momento em que ela saiu do meu apartamento, a única coisa que fiz foi chorar e chorar pelo filho da puta que eu queria levar para cama e que não valia nada, que não tinha me ligado. Tive vontade suicida de ir até o CT do Náutico e matá-lo de qualquer jeito, mas como a garota bem resolvida que sou, apenas sentei e chorei todas as mágoas que ainda estavam dento de mim, e se depender do fato de sequer saber a hora que dormi e todo o chocolate da minha casa que acabou, acho que eu ainda era uma garota bastante magoada.

— Você não ficou na fossa — Bruna afirmou e me puxou para o corredor do hospital enquanto ela olhava para os lados parecendo procurar alguém. Eu não conhecia o namorado dela, mas certamente ele não era médico, lembro-me dela explicando em algum momento que ele trabalhava no escritório com ela, nada demais para ela estar ali procurando alguém, rapidamente pensei se não era um garoto para mim e parei abruptamente — O que foi? — ela perguntou ao esbarrar em mim, reclamando — Por que você parou? — a garota cruzou os braços na altura dos seios e eu olhei para ela, séria — O que foi, porra? Eu não fiz nada, é sério.

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