Capítulo Quatro - O passado

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            Muitas vezes, falamos coisas sem pensar e por isso, terminamos por pagar por aquilo, e sentada naquele apartamento espaçoso, esperando o próximo comprador, eu poderia dizer que eu estava numa situação embaraçada. Meus olhos cansados não conseguiam ficar mais do que quinze segundos abertos e aquela espera estava me deixando irritada. Eu estava num mundo ilusório e isso estava me matando. Eu só conseguia pensar num certo cara alto, forte, com um sorriso encantador e isso se repetia de uma forma que me afligia. Eu sabia que nada daquilo se tornaria real e depois que o frenesi passa pelo corpo, depois de várias noites sem dormir direito, você enfim cai na real, pelo menos eu havia caído. De todos os pontos a serem analisados naquela noite em que nos vimos pela última vez, a pior de todas, na verdade, era o fato do beijo, da minha vontade de estar junto a ele, mesmo que aquilo não fosse recíproco e eu, como toda boa mocinha tola, que adora um bad boy, fui atrás dele mais uma vez. Talvez eu realmente gostasse daquilo que não tenho ou o sexo que nós tivemos fosse suficientemente bom para que eu fosse atrás dele, não sei. O que eu sei é que a minha cabeça não consegue pensar em outra coisa e aqui estou eu, sentada num sofá confortável, esperando pelo próximo cliente que estava cinquenta minutos atrasado, me fazendo ficar bastante irritada. Encostei minha cabeça no assento do sofá e tentei ao máximo não pensar em tudo o que a minha mente queria; tentei não pensar no quanto eu estava entregue a uma coisa tão comum no dia a dia, que é o sexo, onde inúmeras pessoas conseguem distinguir envolvimento sentimental do carnal e eu não conseguia pensar com clareza. Durante esse meio tempo, eu tentei de todas as maneiras me esquivar de tudo o que poderia me lembrar dele, tentei não pensar no quanto o sorriso dele parecia ser lindo e eu era sim, uma romântica doentia, simplesmente não conseguia dizer não à simples ideia de tê-lo novamente, mesmo que aquilo fosse um dos meus maiores segredos.

As mulheres são assim, por mais que gostemos de pensar que somos iguais aos homens, a simples ideia de ter algo que mexa o suficiente com o nosso pensamento nos faz imaginar o próximo passo, aquele que eu falei por aqui no relatório passado. Almejamos casamento e um relacionamento forte e duradouro e comigo, não seria diferente.

Analisando de maneira geral, o nosso último encontro era algo que eu... Bem... Que eu não estava contando, primeiro pela maneira rude e fria com a qual ele me tratou e depois pela minha audácia ao beijá-lo mesmo sabendo que poderia ser rejeitada. Toda donzela em perigo gosta dessas coisas, não? Toda donzela adora um cara que pise em você e faça você exatamente a pessoa mais insignificante do mundo, só que para mim, tudo era mais complicado ainda. 

— Qual é, Lais, você não tem mais quinze anos — Falei em voz alta, no momento em que passei as mãos pelos cabelos, erguendo o corpo do sofá e levantando para dar uma olhada rápida naquele apartamento.

Ele era lindo, eu poderia dizer com toda a certeza. A sala de estar, gigante, com dois sofás e diversos quadros que para mim, custavam mais de um milhão cada, passando para o outro cômodo, a sala de estar, um belo lustre de cristais no meio de uma mesa no estilo barroco, com cadeiras trabalhadas e uma madeira antiga ao ponto da minha cabeça se recusar a arrastar qualquer móvel daquele numa faxina, tudo era pesado demais. A outra sala, mais aconchegante, com uma tv de led de 60 polegadas e um sofá que mais parecia uma cama, estava repleta de jogos, Xbox, PS3 eram só o auge da diversão, diversas almofadas coloridas estavam espalhadas pelo chão, dando o ar que eu mais gostava ali, era aconchegante demais. Escutei a campainha soar e corri para a sala, arrumando o meu vestido no enorme espelho que cobria uma parede na sala principal. Dando um sorriso fraco, segurei a fechadura da porta e ensaiei um sorriso, que foi morto assim que eu vi o que me esperava ali.

Antes que você prenda a respiração e pense 'Que clichê, é ele.' Não, não é ele. Ali, bem na minha frente estava um cara que eu já não falava há muito tempo. Estava o cara pelo qual eu deixei o meu namorado e ele não estava sozinho. No auge dos meus vinte e três anos, namorando firmemente o falecido (prefiro chamá-lo assim) eu conheci um carinha. Ele era do mesmo círculo de amizade do ex e tinha vinte e nove anos na época. Ele tinha acabado de sair de um noivado e nos tornamos amigos, até o dia em que estávamos bêbados num jogo do Náutico e que ele disse que estava envolvido demais comigo. Eu tinha namorado e não me orgulho nem um pouco por ter acabado o namoro para ficar com esse cara. Depois de duas semanas nos encontrando às escondidas, descobri que ele, bem, era um canalha.

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