Muitas vezes, falamos coisas sem pensar e por isso, terminamos por pagar por aquilo, e sentada naquele apartamento espaçoso, esperando o próximo comprador, eu poderia dizer que eu estava numa situação embaraçada. Meus olhos cansados não conseguiam ficar mais do que quinze segundos abertos e aquela espera estava me deixando irritada. Eu estava num mundo ilusório e isso estava me matando. Eu só conseguia pensar num certo cara alto, forte, com um sorriso encantador e isso se repetia de uma forma que me afligia. Eu sabia que nada daquilo se tornaria real e depois que o frenesi passa pelo corpo, depois de várias noites sem dormir direito, você enfim cai na real, pelo menos eu havia caído. De todos os pontos a serem analisados naquela noite em que nos vimos pela última vez, a pior de todas, na verdade, era o fato do beijo, da minha vontade de estar junto a ele, mesmo que aquilo não fosse recíproco e eu, como toda boa mocinha tola, que adora um bad boy, fui atrás dele mais uma vez. Talvez eu realmente gostasse daquilo que não tenho ou o sexo que nós tivemos fosse suficientemente bom para que eu fosse atrás dele, não sei. O que eu sei é que a minha cabeça não consegue pensar em outra coisa e aqui estou eu, sentada num sofá confortável, esperando pelo próximo cliente que estava cinquenta minutos atrasado, me fazendo ficar bastante irritada. Encostei minha cabeça no assento do sofá e tentei ao máximo não pensar em tudo o que a minha mente queria; tentei não pensar no quanto eu estava entregue a uma coisa tão comum no dia a dia, que é o sexo, onde inúmeras pessoas conseguem distinguir envolvimento sentimental do carnal e eu não conseguia pensar com clareza. Durante esse meio tempo, eu tentei de todas as maneiras me esquivar de tudo o que poderia me lembrar dele, tentei não pensar no quanto o sorriso dele parecia ser lindo e eu era sim, uma romântica doentia, simplesmente não conseguia dizer não à simples ideia de tê-lo novamente, mesmo que aquilo fosse um dos meus maiores segredos.As mulheres são assim, por mais que gostemos de pensar que somos iguais aos homens, a simples ideia de ter algo que mexa o suficiente com o nosso pensamento nos faz imaginar o próximo passo, aquele que eu falei por aqui no relatório passado. Almejamos casamento e um relacionamento forte e duradouro e comigo, não seria diferente.
Analisando de maneira geral, o nosso último encontro era algo que eu... Bem... Que eu não estava contando, primeiro pela maneira rude e fria com a qual ele me tratou e depois pela minha audácia ao beijá-lo mesmo sabendo que poderia ser rejeitada. Toda donzela em perigo gosta dessas coisas, não? Toda donzela adora um cara que pise em você e faça você exatamente a pessoa mais insignificante do mundo, só que para mim, tudo era mais complicado ainda.
— Qual é, Lais, você não tem mais quinze anos — Falei em voz alta, no momento em que passei as mãos pelos cabelos, erguendo o corpo do sofá e levantando para dar uma olhada rápida naquele apartamento.
Ele era lindo, eu poderia dizer com toda a certeza. A sala de estar, gigante, com dois sofás e diversos quadros que para mim, custavam mais de um milhão cada, passando para o outro cômodo, a sala de estar, um belo lustre de cristais no meio de uma mesa no estilo barroco, com cadeiras trabalhadas e uma madeira antiga ao ponto da minha cabeça se recusar a arrastar qualquer móvel daquele numa faxina, tudo era pesado demais. A outra sala, mais aconchegante, com uma tv de led de 60 polegadas e um sofá que mais parecia uma cama, estava repleta de jogos, Xbox, PS3 eram só o auge da diversão, diversas almofadas coloridas estavam espalhadas pelo chão, dando o ar que eu mais gostava ali, era aconchegante demais. Escutei a campainha soar e corri para a sala, arrumando o meu vestido no enorme espelho que cobria uma parede na sala principal. Dando um sorriso fraco, segurei a fechadura da porta e ensaiei um sorriso, que foi morto assim que eu vi o que me esperava ali.
Antes que você prenda a respiração e pense 'Que clichê, é ele.' Não, não é ele. Ali, bem na minha frente estava um cara que eu já não falava há muito tempo. Estava o cara pelo qual eu deixei o meu namorado e ele não estava sozinho. No auge dos meus vinte e três anos, namorando firmemente o falecido (prefiro chamá-lo assim) eu conheci um carinha. Ele era do mesmo círculo de amizade do ex e tinha vinte e nove anos na época. Ele tinha acabado de sair de um noivado e nos tornamos amigos, até o dia em que estávamos bêbados num jogo do Náutico e que ele disse que estava envolvido demais comigo. Eu tinha namorado e não me orgulho nem um pouco por ter acabado o namoro para ficar com esse cara. Depois de duas semanas nos encontrando às escondidas, descobri que ele, bem, era um canalha.
YOU ARE READING
Prorrogação
RomanceSegura de si. Independente. Louca por futebol. O tipo de garota que vai explicar para quem quer que seja o que exatamente significa uma linha de quatro. Preconceituosa, talvez, costuma olhar esnobe para garotas que ficam em cima de jogadores. Uma...