Capítulo 14 - Vergonha

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                                    Minha avó, no auge dos meus 16 anos costumava afirmar que uma mulher conseguia um homem pela boca, ela sorria ao lembrar o tempo todo que se eu não soubesse cozinhar, eu perderia o marido logo, que ao namorar um garoto, tinha que fazer uma comida bem gostosa para que ele pensasse "Essa garota é prendada" e eu sorria, debochando do que ela falava sempre, no mundo em que vivemos, onde os homens mais ficam fora do que qualquer coisa, cozinhar bem não enche barriga nem sustenta casamento certo? Sorri ao lembrar dela. Saudade de entes queridos era algo que me deixava emocionada, principalmente depois de cortar cubinhos de cebola, meus olhos encheram de lágrimas e quando eu sorri ao imaginar o que ela falaria do frango que estava quase pronto pensei no quanto ela soltaria um "Que comida sem cor minha filha", ela era desse jeitinho, respirei fundo lembrando dos melhores momentos e logo sorri, no final das contas, depois de dias e dias reclamando da minha comida sem cor, ela provou e depois disso, todo final de semana ela pedia para que eu fizesse a comida ou qualquer outro tipo de coisa, se eu fizesse um linguini ao molho branco, ela já estava ali com o pratinho a postos, pronta para comer.

Ê saudade.

Senti novamente as lágrimas inundarem os meus olhos enquanto mexia a panela que começava a cheirar, era incrível como lembranças ficavam na nossa mente independente do tempo, 4 anos que eu tinha perdido e ela ainda parecia estar viva na minha mente como algo que não ia embora, tatuagem talvez. Suspirei pesadamente e logo enxuguei as lágrimas, não era o momento de chorar, eu sabia que ela estava bem, que tudo havia dado certo e que a vida era mesmo aquilo ali, um caixinha de surpresas, do tipo que nós sabemos que todo o ciclo que começa, precisa finalizar e como os bebes nascem uma hora, os velhinhos vão embora.

Eu precisava focalizar que o meu clico com ele também deveria ter um fim, o drástico fim e era cozinhando que eu conseguia colocar minhas ideias no lugar, Eduardo Bittencourt deveria partir da minha vida assim como surgiu, um furacão, apenas deixando os destroços do meu tolo coração para que eu cuidasse, no fundo, eu sempre soube que por mais que eu tentasse que ele mudasse, por mim, comigo, as coisas teriam um fim, levariam a um fim e quando ele conseguia ser esnobe, frio e grosso, era a certeza que eu tinha, sua esposa imaculada me deixava irritada a ponto de saber que em nada que eu fizer ele mude de opinião, não gosto de cogitar possibilidades, loucura seria pensar no que ela é ou representa, correr atrás do seu casamento e aquilo, seria algo que eu nunca faria.

Se ele não quer falar, se abrir, quem sou eu para vasculhar sua vida?! Ninguém.
Ou sua amante, para deixar tudo de um modo mais dramático, sorri sozinha ao lembrar disse e neguei com a cabeça, minha imaginação vai longe, sempre.
Desliguei o fogão e encostei minhas costas na bancada, peguei o celular e fingi interesse em nada em especial, apenas para passar o tempo e esquecer por uns segundos que existia uma pessoa na minha cama.

Escutei passos na minha direção e fingi que continuava a mexer no celular que estava na minha mão, meu coração disparou e eu senti que o corpo dele se aproximava de mim a cada passo escutado, eu estava parecendo um animal em alerta, meus olhos queriam percorrer até os dele e me perder, mas eu não iria fazer aquilo, então, continuei mexendo em tudo e ao mesmo tempo em nada, até que senti duas mãos tocarem a minha cintura e um corpo forte e másculo encostar no meu, eroticamente falando.

Eduardo conseguia ser sexy nas atitudes mais simples, a maneira em que ele se portava diante de apenas um abraço por trás, já levava a minha mente a lugares que eu sequer gostava de imaginar e me deixava sedenta por mais, a cada segundo mais.

— Que cheirinho bom — Escutei sua voz rouca percorrer o meu pescoço e ir em direção ao meu ouvido, a respiração dele estava tão próxima que eu tive certas dificuldades em segurar o celular por entre as minhas mãos, Eduardo roçou os lábios bem próximo a minha orelha e meus olhos fecharam quase que instantaneamente, como se eu tivesse um botão liga e desliga, onde bastava apenas sua presença para que eu ligasse toda a sensibilidade que existia em mim e pertencia apenas a ele.

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