01 | Garrafa de água

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"Acho que você não se importava, e acho que gostei disso
E quando eu me apaixonei, você deu um passo para trás sem mim
[...]
E eu percebo que a culpa é minha
Porque eu sabia que você era problema quando você apareceu
Tão envergonhada de mim agora"
— I Knew You Were Trouble,
Taylor Swift.

6 MESES ATRÁS.
ATLANTA, GEÓRGIA.

Levando em consideração o número de corpos dançantes soltos pela pista, a superlotação do lugar provavelmente já havia extrapolado. À essa altura, eu já não sentia mais os dedos dos pés e tampouco tinha controle sobre os movimentos que meu corpo executava.

— Vou pegar uma água — avisei minha amiga, berrando para que minha voz se sobressaísse à música alta.

Me esquivei das pessoas suadas que pulavam sem parar e cheguei ao bar. Sentei-me em uma das banquetas enquanto esperava o barman trazer a minha água, tirando os saltos dos pés e os abandonando no chão. Massageei as têmporas na tentativa, inútil, de aliviar a tensão que já se alojava naquela região depois das doses de tequila que eu havia ingerido sem moderação alguma.

— Aqui está — o barman estendeu a garrafa de água para que eu pegasse.

Antes que eu executasse tal feito, porém, uma outra pessoa tomou a garrafa das mãos do homem que me atendia, deixando a quantia exata de dinheiro para pagar a bebida em cima do balcão.

Ei! — exclamei, as sobrancelhas unidas em descontentamento. — Essa água é minha.

Girei o pescoço, encontrando um par de olhos azuis entediados me fitando.

Ele não disse nada.

Não esboçou nenhuma reação.

O salteador de águas apenas balançou a garrafa, o líquido se movendo como uma provação silenciosa.

Era ridículo. Sim, totalmente infantil e ridículo. Ainda assim – e talvez tenha sido pelo cansaço ou pela bebida –, eu não pude deixar de me sentir atingida.

Que metido — sussurrei, o âmago borbulhando em impaciência e os olhos, voltando-se para frente.

— Como é?

Me virei para encará-lo outra vez.

— Você é um metido — repeti, erguendo o queixo.

E um ladrão, quis acrescentar, mas fiquei quieta.

O estranho sorriu, as íris claras brilhando em pura diversão.

— Metido? — Questionou, entretido. — Eu só vou atrás do que eu quero.

— Admiro a força de vontade — zombei, forçando um sorriso. — Mas pegar aquilo que não te pertence só o torna um criminoso.

E então ele gargalhou. De verdade. Os dentes expostos e a cabeça jogada para trás.

Enruguei o nariz.

Ele definitivamente estava se divertindo mais do que eu.

— Me denuncie, então — disse, mas sua gargalhada ainda ecoava em algum lugar dentro de mim. — A polícia ficará comovida com a história de como um cara roubou sua água em uma boate.

Crossroad (EM REVISÃO) Onde as histórias ganham vida. Descobre agora