11 | Chamas

15.1K 1.3K 235
                                    

"Eu estaria mentindo se eu dissesse que você é a única

Todas essas tatuagens na minha pele te excitam

[...]

Eu não sou o tipo de cara que liga pra você no outro dia

Mas do jeito que você faz isso em mim, talvez eu ligue"

— Or Nah (feat. Ty Dolla Sign & The Weeknd), Wiz Khalifa.

Já estava amanhecendo quando Cora chegou. Os chaveiros grudados à chave fizeram um barulho relativamente alto quando ela destrancou a porta, batendo e praguejando algo logo em seguida. Me ergui do sofá, o qual eu tinha passado a noite deitada, me sentando no braço do mesmo. Minha amiga jogou as chaves em cima da mesinha de vidro e soltou mais um palavrão quando o choque entre a chave e o vidro se tornou audível. Ela tirou a jaqueta de couro e, finalmente, se virou e ergueu seus olhos até mim.

Diabo! — Ela exclamou, dando um pequeno pulo para trás.

Dei de ombros, rindo.

— Não. Sou só eu.

Ela balançou a cabeça e soltou soltou uma lufada de ar.

— Sua aparência não está muito longe disso — ela apontou, maldosa.

Ri, estreitando meus olhos em sua direção.

— O sexo não deveria, supostamente, relaxar?

Ela cruzou a sala, jogando as costas no estofado onde eu estivera deitada minutos atrás.

— Tudo balela — ela enrugou o nariz —Quanto mais eu faço, mais eu quero fazer e, como eu tenho que parar para comer, eu fico frustada por não estar fazendo.

Ri, jogando meu corpo sobre o seu no sofá desgastado.

— Sua ninfomaníaca.

Ela gargalhou, usando as mãos e os pés para me empurrar para longe. Deixei com que ela jogasse meu corpo para o lado fazendo, dessa forma, com que eu acabasse sentada no chão.

— Você deveria tentar. Não relaxa, mas diverte — ela sugeriu, risonha. Seus olhos ganharam um quê interrogativo quando ela os focou em algo atrás de mim. — O que é aquilo?

Segui seu olhar até a cômoda de madeira e, ao lado dos porta-retratos, reconheci a xícara de Hunter. Relaxei os ombros e me dei conta de que eu havia me livrado da garrafa de vodka, sendo assim, não tinha o que temer. Nem o álcool conseguira me fazer dormir essa noite e, muito menos, me deixar embriagada o suficiente para que eu parasse de pensar; para que eu parasse de recordar e remoer o passado.

— Um vizinho veio me pedir açúcar ontem — contei, sem interesse.

— Vizinho, huh?

Bufei.

— Não começa, Cora.

— Veio atrás de açúcar mas, pelo o que eu vejo, achou algo mais interessante — ela especulou, analisando o açúcar intacto dentro da peça de porcelana.

Quis rir, porém, me detive. Nós bem que poderíamos ter feito algo interessante na noite passada, se eu não tivesse o expulsado após me recuperar do meu pequeno surto. Nicholas conseguia estragar as coisas para mim mesmo sem estar presente.

— Não é do seu feitio não se opor, Aly. Estou ficando preocupada — ela brincou.

Hunter, aparentemente, pensava o mesmo.

Eu realmente faço isso? Discordo de todo mundo e me oponho as pessoas o tempo todo?

— Você pode, por favor, parar de falar como uma senhora de setenta anos? —Alfinetei — Quem fala "feitio"?

Ela empurrou meu ombro, me forçando a apoiar o peso do corpo nos cotovelos para não cair.

— Cala boca! — Seu tom de voz exalava bom humor. Ela, de fato, estava mais relaxada. — Você que é rabugenta igual uma velhinha.

Ri, contente por ter feito ela esquecer o assunto anterior.

— Agora eu vou fuçar aqueles armários vazios e tentar encontrar alguma coisa para comer enquanto você — ela ergueu o dedo em minha direção —, vai ir devolver a xícara para o Sr. Vou Fingir Que Não Tenho Açúcar Porque Não Sei Como Me Aproximar.

Soltei uma gargalhada alta.

— É um nome bem grande, não?

Ela deu de ombros.

— Combina com ele — franzi a testa, confusa e, rindo, minha amiga levantou do sofá e andou até a cozinha. — Eu não sou burra, Alyssa.

— Temos mais de um vizinho, Srta. Sabe Tudo — debochei.

— Quem mais seria? O engomadinho do 506? — Ela arqueou as sobrancelhas. —Ele não passaria da porta.

— Você já dormiu com ele!

Ela deu de ombros.

— Ele é bem espoleta na cama, mas fora dela? É... Não.

— Espoleta, Cora? Sério? — Não pude deixar de caçoar.

Ela me olhou de cara feia, alternando seu olhar entre a porta e eu. Ergui as mãos para o alto, pegando a xícara e me dirigindo até o corredor com um ar de derrota. Revezei o olhar entre as portas daquele andar, sem saber em qual bater, entretanto, minhas dúvidas morreram quando uma loira esguia abriu a porta do apartamento 503. Um sorriso satisfeito perdurava seus lábios volumosos e ela piscou um olho quando passou por mim, indo em direção ao elevador.

E naquela dia a possibilidade de ser a próxima saindo do apartamento 503 pela manhã, sorridente e satisfeita, nem sequer passou pela minha cabeça. Portanto, não vacilei em tocar sua campainha, dando assim, o primeiro passo para uma das muitas manhãs satisfatórias que ainda teríamos.

Hoje eu percebo o quão esperta a garota loira foi; ela teve o que queria e foi rápida o bastante para correr das presas do rapaz que sempre ansiava por mais. Das suas presas, Hunter. Eu não tive a mesma sorte.

Você faria chamas de fogo se acenderem em meu corpo, me deixando quente como brasa. Mas, depois que se desse por satisfeito, iria usar as minhas próprias chamas contra mim; você me atearia ao fogo e riria enquanto visse cada célula minha se transformar em pó.

Mas eu não queimaria em vão.

Eu o deixaria em carne viva também.

Crossroad (EM REVISÃO) Onde as histórias ganham vida. Descobre agora