20 | Compaixão, não paixão

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"Talvez eu esteja com frio, congelado pelo meu passado

Droga, não fique muito perto

Você não vai encontrar o que você está procurando

Ah, não

E espero que você não me julgue

Tudo o que sei é como ser quem eu sou

E se você começar a me tocar, espero que você saiba o lugar em que estamos

Não me diga que você me ama, porque eu não vou amar de volta

Não me diga que precisa de mim, porque eu não preciso disso

Não me diga que você me quer, porque eu estou por conta própria

Por isso, quando terminarmos de se tocar

Garota, eu estou completamente sozinho"

- Alone, Bazzi.

HUNTER EVANS

Porra.

Caralho.

Inferno.

E todo e qualquer palavrão que eu não pude falar perto dela.

Que se foda.

Eu prometi e, droga, eu nem sequer me dei o trabalho de cruzar os dedos.

O que eu estou fazendo?

Amor instantâneo não existe. Qual é, isso é coisa de livro. Pura ficção.

A mocinha esbarra no mocinho, olhos se encontram e mãos se tocam e, voilà, eles se apaixonam.

Que se foda.

Não é paixão. É compaixão.

O imprestável do ex-namorado dela, as merdas as quais ele a submeteu. As cicatrizes que ele deixara nela, as expostas e as que ela não deixa ninguém ver.

Aperto o maxilar com força. Essa história me é familiar demais.

Meu pai era um imprestável viciado e minha mãe, por mais que não tenha culpa, era uma subordinada e, sendo assim, deixava o suposto homem da casa nos afundar em dívidas e sangue.

Sangue.

" - Mãe - coloquei a cabeça para dentro da cozinha, receoso.

Eu havia escutado os xingamentos do meu pai e os protestos da mamãe e, quando esses protestos viraram apenas grunhidos de dor, instruí minha irmã a tampar os ouvidos com a mão e fiz o mesmo.

- Vá para o quarto, Hunter - a mulher que me carregou por nove meses e cuidou de mim, até agora, por nove anos, estava ajoelhada no chão da cozinha e esfregava compulsivamente o mesmo.

A espuma do desinfetante se misturava com o sangue vermelho vivo.

Tremi.

- Mãe - murmurei outra vez.

Ela levantou a cabeça para me olhar.

Quis gritar.

O lado esquerdo do seu rosto estava inchado, o olho praticamente fechado e em um tom azulado pingava sangue por conta do corte no super cílio.

Apesar de tudo, ela sorriu ao encontrar meus olhos com os seus.

- Vá para o quarto, filho.

Desviei os olhos dos seus ao escutar o miado da minha gata, que se esfregava nas minhas pernas. Me abaixei e a peguei no colo, passando a acariciar sua cabeça.

Eu havia ganho ela de natal dos meus pais, no último natal que tivemos em família e, de alguma forma, eu me prendia àquele animal como se ele representasse todas as coisas que eu não podia mais ter.

- Vamos para o quarto, Docinho - sussurrei em sua orelha, recebendo um miado como resposta."

Apertei as mãos em punhos e fechei os olhos por alguns segundos, estabilizando a respiração.

Aos dezessete, depois de ter intervido pela primeira vez aos quinze quando ele partiu para cima da minha mãe, eu era mais um alvo do meu pai. Minha irmã mais nova não podia passar por isso também. Era demais.

E, pensando nisso, intervi pela última vez.

Não me arrependo de nada, apesar de temer que as únicas mulheres que eu já amei me culpem.

Como elas devem estar?

Já fazem seis anos desde que eu saí da Inglaterra e vim parar em Atlanta. Zach veio comigo. Ele sempre esteve comigo. Somos pele e osso, grudados.

Mas, depois da Alyssa, eu só tenho vontade de quebrar a cara dele.

Isso é errado, certo?

Que se foda.

Foi o que combinamos, eu não tenho o direito de ficar putinho.

Não confunda as coisas, Hunter. Compaixão, não paixão. - Alerto a mim mesmo.

Mas, inferno, como eu poderia não confundir as coisas? A forma como ela me olha, como se expõe pra mim.

Fecho os olhos e a visualizo.

Os cabelos que caem como um véu pelas suas costas e, às vezes, pelos seus seios.

Ah, os seios dela... Foco, Hunter.

Os olhos cor de avelã, a boca cheia e bem desenhada. A frase tatuada verticalmente na lateral direita do seu corpo, começando nas costelas e terminando no início da coxa, em uma caligrafia delicada; a frase, em si, não consegui ler.

As cicatrizes em ambos os seus pulsos, esbranquiçadas e salientes, que provavelmente ela acha que eu nem sequer notara. Mas eu notei até mesmo a marca, aparentemente de nascença, em uma de suas nádegas.

Droga!

Abro os olhos de supetão, amaldiçoando a porra do meu detalhismo.

Olho os lençóis onde ela esteve deitada há algum tempo atrás. Como eu queria me afundar nela e sentir ela se contrair ao meu redor quando eu a fizesse gozar.

Que se foda.

Pego meu celular e encontro o número de Zach.

Hunter Evans:
Meio caminho andado. É melhor se apressar, está ficando pra trás.

Imagino o sorriso se formando em seus lábios enquanto ele lê a mensagem e a raiva ferve meu sangue.

Raiva dele, de mim mesmo.

Dane-se.

Compaixão, não paixão.

NOTAS

Oi, gente! Nesse capítulo vocês descobrem um pouquinho sobre o Hunter e "entendem" um pouco ele (entendem entre aspas porque nem mesmo eu entendo esse cara HAHAHA)

Espero que vocês gostem e, se gostarem, não se esqueçam de votar. Isso me incentiva muuuito!

Já deram um olhadinha em The Musician, minha nova obra aqui na plataforma?
Deem uma espiadinha lá, vocês podem gostar :)

S.

Crossroad (EM REVISÃO) Where stories live. Discover now