30 | Eu quero fazer ela te odiar

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"Eu sinto como se estivesse me afogando

Você está me puxando para baixo, me puxando para baixo

Você está me matando lentamente

Tão lentamente, oh não

Eu sinto como se estivesse me afogando

Você é tão maleável, e isto é trágico apenas para você"

- I Feel Like I'm Drowning, Two Feet.

HUNTER EVANS

A tinta se espalha pela tela, o pincel seguindo o movimento da minha mão. Quando decidi começar um quadro, não fazia ideia do que ia pintar. Agora reconheço o rosto que os traços involuntários que eu faço forma. Claro, seria impossível eu não a reconhecer. Passei horas seguidas com ela e dentro dela. De todas as formas possíveis. Mas no momento, ela é quem está dentro de mim. Dentro da minha cabeça e dentro do meu...

Não. Isso é besteira.

Diferente do outro quadro que fiz dela, nesse eu pinto somente seu rosto. Os olhos focados, mas vazios. Nebulosos. A boca entreaberta, querendo dizer todas as coisas que gritam dentro dela. As sobrancelhas levemente franzidas e os cabelos soltos esvoaçantes.

Em todos os quadros que faço uma cor sempre se destaca, evidenciando a emoção que sinto ao pintá-los, ou, na maioria das vezes, a emoção de quem estou retratando - reafirmando o que as expressões faciais feitas já mostram.

No primeiro quadro que fiz dela, o vermelho do vestido que ela segurava contra o corpo era a cor mais vibrante e, sendo assim, a que chamava mais atenção.

Vermelho, a cor do pecado. Do amor.

Já nesse quadro, do seu rosto, a cor cinza e preta são as que se destacam. Não uso cores vibrantes em momento algum.

Escuridão. Dessa vez, retrato o todo o seu transtorno interno.

Seu rosto me diz o que sua boca não consegue dizer. Pede o que ela não consegue pedir. Ajuda.

Me ajude, por favor, as palavras dela ecoam na minha cabeça enquanto deslizo o pincel pela tela uma, duas, três... diversas vezes.

No entanto, sou obrigado a deixar tudo de lado quando a campainha toca, e faço isso com prontidão esperando encontrá-la do outro lado da porta.

Merda, estou me tornando um obcecado do caralho.

Sei que estou sorrindo enquanto abro a porta e sei também que, agora, depois de abrir a porta, o sorriso de antes não existe mais.

- Cora?

A garota de cabelos azuis se mantém intacta, com uma postura impenetrável, quando me empurra para o lado e invade meu apartamento. Ela não se dá ao trabalho de pedir licença, tampouco de me cumprimentar.

Sei o que veio fazer aqui, não tenho dúvidas. Fui tolo de pensar que ela escutaria o que escutou e não faria nada. Era da sua melhor amiga de quem estávamos falando, não teria como ser diferente.

O que ela vai fazer?, o pensamento me assombra.

- Vou direto ao ponto - ela cruza os braços em cima dos peitos, sua voz tão afiada quanto uma navalha.

- Cora...

Ela me cala apenas com o olhar.

- Só os meus amigos me chamam de Cora, portanto, Hunter, é Coraline pra você - ela aponta o dedo indicador em minha direção. - Eu vou falar e não quero ser interrompida, certo?

Crossroad (EM REVISÃO) Where stories live. Discover now