28 | Qual é a sua?

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"Então me olhe nos olhos, diga-me o que você vê

Paraíso perfeito, se desfazendo

Eu queria poder escapar

Eu não quero fingir

Eu queria poder apagar

Fazer seu coração acreditar

Mas eu sou um péssimo mentiroso"

- Bad Liar, Imagine Dragons.

HUNTER EVANS

Ela estava muito longe para que eu conseguisse ouvir os seus murmúrios ao telefone, no entanto, certamente pude ver quando seus olhos ficaram vidrados e ela empalideceu. Agora, apoiada em uma das paredes do corredor e ofegante, eu temia me aproximar. Ela soltou mais um murmúrio, enojada. Apertei olhos, seguindo o movimento dos seus lábios.

Nicholas.

Franzi as sobrancelhas. Pai? Um irmão? Ou, quem sabe, um tio?, me perguntei. Quem quer que seja, não parece agradar ela. Ela fechou os olhos, deixando a mão que segurava o aparelho contra a sua orelha cair ao lado do corpo. Ela inspirou, segurou e, lentamente, expirou. Parado, observei ela se recompor e voltar a andar.

- Quem era? - Perguntei.

Seus lábios se moveram em um sussuro inaudível. Outra vez, tive que os ler.

Nick...?

"- Ele fazia um oral de matar - a garota de cabelos azuis cochichou.

Apertei os lábios, segurando a risada. Seu cochicho não fora bem um cochicho. A morena, sentada ao seu lado, parecia irritada com o comentário da amiga.

- Não estou vendo nenhum velório - sua voz transbordava deboche.

Ela soou quase tão debochada quanto eu. Gostei.

- Você é amargurada assim porque nunca chegou lá - a outra alfinetou.

Franzi a testa, intrigado com o diálogo que se desenrolava entre as duas.

- Não é verdade.

Agora ela parecia ofendida. Talvez sem graça.

- Não é a mesma coisa - a amiga devolveu. - O imprestável do Nick não serviu nem pra isso.

'Não é a mesma coisa'? Ah! Saquei. Esse tal de Nick deveria ser mesmo um imprestável.

Cutuquei Zach com o cotovelo e apontei o queixo para as duas garotas sentadas mais à frente, me inclinando para sussurrar em seu ouvido.

Essas duzentas pratas iam ser fáceis."

Nick!

- Algo grave? - Indaguei outra vez.

Ela balançou a cabeça negativamente, erguendo a mão para dispensar qualquer outra pergunta que eu fosse fazer.

- Quer entrar? - Ela perguntou, ainda sem me encarar. - Eu beberia muito agora.

Concordei com a cabeça e esperei ela destrancar a porta para entrarmos.

Não posso fazer isso. Não sou capaz de fazer isso com ela, e não deveria ser capaz de fazer isso com qualquer outra mulher. Instantaneamente penso em Hailey, uma criança quando eu a deixei para trás. Você gostaria que algum imbecil apostasse sua irmã com um amigo?, pergunto a mim mesmo.

Não posso fazer isso.

Muito menos agora que eu a conheço, que sei as coisas pelas quais ela já passou. Não posso ser mais um problema a ser superado, um fantasma do seu passado.

Não posso machucar ela.

- Hunter - sua voz soa como uma pluma, acariciando meus ouvidos. - Me ajude, por favor.

Se eu pudesse, Alyssa, se eu conseguisse, penso.

- Me fale como, Aly - me aproximo, segurando seu rosto entre as mãos. Levo meus lábios até sua bochecha e os pressiono sobre uma lágrima solitária que antes escorregava pela sua pele. O gosto salgado não me incomoda. - O que eu posso fazer por você?

Ela balança a cabeça, seus cabelos acompanhando o movimento. Seus braços rodeiam minha cintura e sua cabeça descansa em meu peito quando ela me abraça. Mais lágrimas lhe escapam. Sei disso porque as sinto molhar minha camiseta. Não sei como fazer isso, como reconfortar alguém. Mas tento. A abraço de volta e seu corpo pequeno se aninha mais em mim.

Não posso ser como eles. Não posso ser como meu pai e, com certeza, não posso ser como o imprestável do Nick.

Pode não ser paixão, mas o que sinto por ela está longe de ser apenas compaixão.

[...]

- Acabou - digo, olhando para Zach e Callum.

Callum dá de ombros. Assim como Peter, sempre achou a ideia estúpida. Escrotice, em suas palavras.

Escrotice.

Não encontro palavra melhor para definir o que eu e Zach estávamos fazendo.

- Você comeu ela? - Zach ergue as sobrancelhas.

Mordo os dentes com tanta força que temos os quebrar.

- Escolha melhor suas palavras, caralho!

- Merda - ele não parece notar que estou prestes a arrebentar seu nariz. - Lá se vão duzentos paus meus.

Meus pés se movem automaticamente em sua direção. Minha mão fechada em punho se prepara para o impacto contra os ossos do seu rosto.

- Ei, cara - Callum me interrompe. - Qual é a sua?

Não me dou ao trabalho de olhar para ele, meus olhos se limitam apenas ao loiro rindo.

- Ah, eu sei bem qual é a dele - zomba. - Uma morena bem gostosa.

Tento passar por Callum outra vez, sem sucesso.

- A bunda dela é bem durinha, não é? - Ele provoca de novo. - E, pelo que você disse, ela faz um boquete incrível.

- Zach, inferno - Callum brada.

- Acabou - repito.

Zach estala a língua, balançando a cabeça.

- E o vídeo que você prometeu, Evans? - Indaga. - Não vou te pagar até ter uma prova concreta.

Inspiro com força.

- Vou ter que repetir de novo? - Ele ergue as mãos em sinal de rendição, parecendo se divertir com o meu temperamento arisco. - Ótimo.

Bato nas mãos de Callum, me livrando dele. No entanto, sei que ele deixou. É o mais forte dos quatro.

- Vocês dois são horríveis - ele murmura.

- Então não estou te devendo nada? - Zach se direciona a mim.

- Pode enfiar o dinheiro no seu rabo - ralho. - Onde está o Pete?

- No quarto com a... - Callum para, olhando em direção ao quarto da Peter.

Me viro para conseguir olhar também, mas me arrependo no instante em que encontro a porta aberta e reconheço de imediato a dona dos cabelos azuis.

- Cora.

Crossroad (EM REVISÃO) Onde as histórias ganham vida. Descobre agora