27 | Conhecendo

13.6K 1.1K 347
                                    

"Ele me beijou e prometeu que eu ficaria bem

Nós dois sabemos que isso é besteira

Quanto mais eu fico com ele, menos eu fico viva"

- 911, Ellise.

Faziam dias desde que a última gota de álcool entrara pela minha boca. Dias desde que a leveza que essa mesma bebida trazia consigo, após ser ingerida, se encontrava ausente.

Dias.

Não é tão difícil, não como foi com a heroína. Nada se compara. Os músculos pareciam se esticar, prestes a arrebentar. O suor lambia meu corpo tremulo e agitado, deixando minhas roupas encharcadas. Às vezes, os tremores aumentavam e evoluíam para convulsões. Os vômitos constantes me deixavam fadigada e o choro nunca cessava. No entanto, as alucinações foram, de longe, a pior parte. As diversas imagens que meu cérebro desorientado projetava da minha mãe já morta me fizeram desejar outra coisa além da droga: a Morte.

Nada se compara.

Minha pele pinica e meus pés balançam fora da cadeira em um ritmo constante. Deslizo o dedo indicador pela tela lisa do celular, os olhos atentos nas informações diante deles. O brilho alto vindo do aparelho me irrita um pouco mas, mesmo assim, continuo a ler detalhadamente o site de um dos museus de artes da Geórgia. Levanto da cadeira, indo atrás de um papel e uma caneta e, após tê-los em mãos, anoto o endereço.

1280 Peachtree St NE, Midtown.

Dobro o pedaço de papel, enfiando-o no bolso traseiro da calça jeans. Antes de sair, pego outro pedaço de papel e escrevo um bilhete para Cora.

"Espero que tenha transado por nós duas. Volto mais tarde.
Amo você,
Aly."

Diferente do outro, deixo esse papel sob a caneta em cima da mesa.

Meus pés se movem pelo piso, percorrendo o caminho familiar até a saída. Levo a mão até a maçaneta da porta, porém, antes mesmo que eu possa girá-la, a campainha toca. Me detenho por alguns segundos, contanto até dez. Merda!, grito internamente. Enfim abro a porta, me preparando para mandar quem quer que seja para o inferno e seguir à diante com meus planos. Contudo, todo o nervosismo desnecessário se esvai quando meus planos se materializam diante dos meus olhos.

- Você está péssimo - zombo, analisando sua pele úmida e as olheiras que rodeiam seus olhos.

- Como se você estivesse longe disso - ele retribui a provocação, um sorriso mordaz flutuando em seus lábios secos. - Está de saída?

Dou de ombros, ainda segurando a maçaneta da porta.

- Na verdade, eu estava indo ver como o meu vizinho chato está.

Hunter estreita os olhos e, apesar do semblante cansado, seus olhos cintilam bom-humor.

- Qual deles? - Indaga.- O bonitão?

Sorrio, negando com a cabeça.

- O arrogante que anda por aí como se fosse a última água do deserto - dou de ombros. - Você já deve ter visto.

- Arrogante, última água do deserto e bonitão - ele finge pensar. - Ah, sim. Conheço esse cara.

Meu sorriso se alarga e por um instante me pergunto o porquê do seu bom- humor. Consigo listar diversos sintomas de comportamento que a abstinência traz consigo, no entanto, estar disposto e, aparentemente, feliz não é um deles.

Crossroad (EM REVISÃO) Onde as histórias ganham vida. Descobre agora