06 | Passado atormentado

17.1K 1.5K 669
                                    

"Mamãe irá fazer todos os seus pesadelos virarem realidade

Mamãe irá colocar todos os medos dela em você

Mamãe vai manter você bem debaixo da asa dela

Ela não deixará você voar, mas talvez te deixe cantar"

— Mother, Pink Floyd.

As luzes coloridas eram visíveis até mesmo do lado de fora da casa e a música alta fazia com que eu tivesse a sensação de que o chão tremia. Os vizinhos não deveriam estar nada contentes.

Quando adentramos a casa, meus olhos traiçoeiros varreram o ambiente em busca de um alguém em especial. Avistei Hunter em meio aos amigos, com uma garota de cabelos cacheados.

Por que eu achei que seria diferente?

Cora seguiu meu olhar e começou andar em direção à eles, determinada.

— O que diabos você pensa que está fazendo? — Rosnei, em vão.

— Indo atrás de um pouco de diversão —ela deu de ombros, seus olhos focados nos garotos ao redor de Hunter.

E, facilmente, Cora já engatava uma conversa com um dos rapazes. A tamanha intimidade com que eles se tratavam me deixou chocada, mas não surpresa. Cora sempre teve essa facilidade em socializar com o sexo oposto.

Puxei o ar com força e levei meus olhos até o moreno que, por sua vez, mantinha suas orbes azuladas focadas em mim. A garota negra ao seu lado cochichou algo em seu ouvido, o que o fez desviar seus olhos dos meus para então os ter direcionados em sua direção. Ele sorriu, cochichando em seu ouvido de volta.

— Todos os banheiros estão
ocupados — um garoto alto se aproximou, as palavras deixando sua boca em um tom nada amigável. — Eu vou mijar na calça, porra!

Todos riram, o que pareceu o deixar ainda mais irritado. Quando ele pôs seus olhos em mim, no entanto, sua carranca sumiu e um sorriso sacana preencheu seus lábios.

— Zach Prescott — ele me estendeu a mão.

Seus fios castanho-claros quase alcançavam seus ombros e seus olhos esverdeados caíam perfeitamente bem em seu rosto bem desenhado. Apertei sua mão, fazendo o garoto sorrir ainda mais quando o nosso contatado se prolongou, seus dedos acariciando minha palma.

— Vou pegar alguma coisa pra beber — recolhi minha mão rapidamente, deixando Cora para trás ao sair andando pela casa.

Andei até a cozinha e peguei uma garrafa de vodka, sentando-me na bancada de mármore. Tirando a entrada e saída passageira de alguns jovens embriagados, o lugar estava vazio. Suspirei aliviada. Virei o líquido goela abaixo direto da garrafa e o arder do álcool logo se fez presente. Torci o nariz e dei outro gole. Inevitáveis flashes de memórias invadiram minha mente, se esgueirando pelas brechas de fraqueza e rasgando meu cérebro como lâminas.

Eu nunca havia entendido o porquê dela ter tirado a própria vida. Era informação demais para uma adolescente de dezesseis anos absorver. Entretanto, sua morte fora algo fácil de se superar, uma vez que ela já havia morrido para mim há muito tempo. Mesmo assim, naquele dia eu chorei. Lágrimas insensíveis e sem sentido escorriam pelas minhas bochechas enquanto seu caixão era enterrado, lágrimas que ela mesma me ensinara a derramar quando me fosse conviniente.

Ela era persuasiva pra caralho.

Que seu corpo apodreça, mamãe; que as larvas consumam seus restos mortais assim como você consumiu minha alma e apodreceu minha essência. - E, assim, eu me despedi dela.

Crossroad (EM REVISÃO) Where stories live. Discover now