five

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Subimos um grande lance de escadas infinitas e circulares. Lá dentro nossas respirações eram facilmente escutadas, o vapor do nosso hálito se materializando em frente a boca. As paredes curvas de pedra estavam geladas. Em um certo tempo pensei que nunca chegaríamos no topo, mas já tínhamos avançado demais para voltar agora, então apenas continuei. Apesar das reclamações, realmente valeu a pena quando chegamos no alto. Aquilo era lindo aos olhos de uma amante de paisagens.

— Isso é tipo uma guarita? — Indaguei olhando em volta.

— O vigia fica aqui a noite inteira, eu acho que sim.

Eu conseguia ver todo o colégio interno daqui, inclusive coisas que eu ainda não tinha notado. Além do prédio principal havia outra estrutura idêntica aos alojamentos.

Não consegui identificar se foi o zumbido do vento em minhas orelhas, mas escutei algo vocalizar o meu nome. Como um grito longe. Olhei atentamente para todos os lados do horizonte, em seguida observei as milhares alunas lá embaixo, como formigas. Não, ninguém estava me chamando. Esse lugar está me deixando louca aos poucos. Até o vento sussurra entre as frestas.

— São dois conjuntos de dormitórios. O quarto que você está é o único ocupado no sétimo andar, o resto a cima são apenas lugares vazios.

— Por que vazios?

— Existe um boato, dizem que algo muito sério aconteceu por aqui com uma aluna. Os pais ficaram sabendo e tiraram suas filhas imediatamente. Outros dizem que as garotas cometeram suicídio ou mataram umas as outras, e por algum motivo os quartos nunca foram ocupados. Um exorcista já foi fazer trabalhos nos andares de cima, mas me disseram que ele morreu. Tem uma menina estranha do dormitório dois que diz que já ouviu passos no sétimo e oitavo andar. Costumam competir entre quem tem mais coragem de passar determinados minutos em algum andar específico a partir do sétimo.

— Vocês não devem mesmo ter algo interessante para fazer por aqui.

— Acha que é mentira?

— E você acha que é verdade? — Devolvi. Me parece aquele clássico modelo de internato assustador. Considerando a chatice que deve ser viver em um lugar como esse, a mente inventa histórias, sons e imagens que podem não ser reais, apenas para te distrair, para fazer você pensar em algo mais excitante do que o que você mentaliza normalmente todos os dias. — Jennie sempre esteve naquele quarto. Ela já te falou alguma coisa?

— Já.

Lembrei do barulho que ouvimos no andar de cima a pouco tempo atrás. Se ninguém ousava botar os pés lá, quem ou o que tinha feito aquele barulho?

Cheng me cutucou, levando embora minha atenção para as estruturas lá em baixo e me entregou uma xícara grande de café com leite.

— Era pra Jennie, mas quando ela costuma sumir assim é porque quer ficar sozinha, então eu não forço nada. — Eu assenti, me sentindo mentalmente agradecida.

— Ela some frequentemente?

— Às vezes.

— Ela te diz o porquê?

— Às vezes.

Entre goles de café, Cheng apontou onde ficava cada coisa.

— Ali ao lado do campo são os estábulos. Já jogou polo equestre?

— Não.

— Costumamos praticar por aqui. Olha lá — Ela apontou para longe, para um lugar que até agora eu não tinha notado. Era uma casa muito grande com telhado pontudo. Um homem meio barrigudo saía de lá junto com o diretor, completamente empacotado com roupas de frio, aquilo o deixava cheio como um boneco de neve, mas originalmente ele era alto e magro. — Aquela é a casa da família. O diretor Kurama Wada é o principal, mas a família inteira toma conta desse lugar. Lembra da mesa grande no refeitório? São todos eles.

betting everything [Game Over]Where stories live. Discover now