thirty

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Era carne branca com laranja sanguínea. Não esperava mais ouvir a voz de Kyu, mas ele acaba de falar pela primeira vez desde que chegou: a pureza do vinho tinha o agradado. Aspiro, sinto cheiro de funcho.

Algo não estava correndo natural naquela mesa de jantar. Me sentia excluída do colóquio entre eles, as vozes se projetavam pelos músculos de suas laringes e saiam por entre as migalhas de arroz mastigadas, se propagavam pelo ar e adentravam os ouvidos, feito parasitas cheios do que dizer. Eu observei esse fenômeno acontecer por horas a fio sem contribuir significativamente com a propagação. E Jisoo não gastou energias para me incluir, estava claro que eu não queria. Mas Siwon não me conhece como Jisoo.

— Lisa. — Começa ele. As mãos se juntam com os dedos entrelaçados em baixo do queixo. Ele pensa por um momento antes de continuar. — Gosta de gatos?

— Tanto quanto gosto de vestir preto. — Foi a minha resposta. Já estávamos na terceira categoria de refeição e aquele era o primeiro assunto de teor não empresarial citado em todas as horas de jantar.

— Acho que hoje é a primeira vez que te vejo vestida com roupas tão intelectuais e elegantes.

É a primeira vez em muito tempo que visto preto. Espero que isso responda sua primeira pergunta.

Um dos convidados, o único aparentemente decente e careca nomeado Jeff Manikawa, fez a sobrancelha direita dar um único pulo em direção à Siwon enquanto tinha um sorriso lascivo nos lábios, em seguida riu discretamente. Jisoo ao meu lado preferiu ocupar a boca ao erguer a taça para mais um gole numa óbvia reação de quem queria evitar se meter, Dara encarou Siwon e esperou pelo que vinha a seguir, mas a fala que deu continuidade saiu da boca de quem todos menos esperavam.

— Tem pose de advogada, mas se fosse uma eu diria que seria bem espertalhona, imodesta. — Era impossível não ser hipnotizada por suas bochechas vermelhas brilhantes que saltavam como se houvessem duas grandes ximbras dentro de cada lado da boca. Sempre que falava todos ouviam, sua palavra era sempre colocada como principal e respeitada independente do conteúdo. Dado os fatos, era manifesto que o cargo de Kang Dae, dono das grandes bochechas, era o de maior importância entre os quatro. — Se julga como alguém teimosa?

— Não me saio bem falando sobre mim mesma. Qualquer um que seja muito bom nisso não deveria ser considerado um tanto soberbo na sua opinião? O senhor não se mostra ser do tipo que gosta de egocêntricos.

— Se isso fosse uma entrevista de emprego você já estaria dentro da minha empresa.

Parecia que partilhávamos do mesmo estado de espírito. Nenhum sorriso ou sinal de divertimento, um diálogo vazio cheio de palavras e nenhuma emoção física. Mas diferente de mim, eu não tinha dúvidas de que ele agia desse modo o tempo inteiro, enquanto eu somente passava por um momento de sensações ruins.

— Kang Dae, quem é poderoso e forte. É esse o significado do seu nome? — Pergunto. Ele assente. — Já se perguntou o porquê de os significados dos nomes sempre fazerem jus a quem o tem? Nosso nome é dado no primeiro segundo em que chegamos ao mundo. Logicamente o nome de alguém deveria ser dado depois de ser possível identificar sua personalidade para o nome possuir sentido condizente à imagem do humano em questão. Mas as coisas ocorrem do jeito que são e misticamente dão certas.

Ao meu lado, Jisoo se preparou para falar e despreocupadamente segurou um sushi entre os hashis enquanto isso:

— Já pensou em como seria conveniente mudarmos o nome e automaticamente termos a personalidade alterada? Poderíamos ser quem quiséssemos. — Seus olhos negros combinam perfeitamente com o azul do vestido.

betting everything [Game Over]Where stories live. Discover now