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twenty seven

Point Of View: Jennie Kim

Lisa não deu uma palavra sequer até chegarmos no depósito e eu não me atrevi nem a respirar tão alto, tive medo de incomodá-la, a qual já aparentava estar irritada. Mas depois me dei conta de que não fazia sentido Lisa explodir comigo, eu não tinha feito nada de errado, por isso ergui o nariz e trabalhei em fazer o salto do meu Jimmy Choo beijar violentamente o chão, sem me importar com o fato de que cada passo forte no assoalho ameaçava a perda de um Jimmy Choo de 12 mil dólares.

Entramos no depósito, era climatizada e tinha um forte cheiro de vinho. Me senti aflita assim que olhei ao redor, eram muitas prateleiras de garrafas de bebidas, o prejuízo que causaríamos caso tropeçasse um dedinho em uma delas seria gigantesco.

Mas foi fácil parar de pensar nisso porque ainda tenho Lisa em mente. Procuro por ela, a vejo passeando entre duas prateleiras, seu dedo indicador se arrasta pelo vidro das garrafas, distraída. A luz baixa do ambiente acaba deixando sua presença levemente assustadora, mas não menos que eu, não com minha expressão de concreto em sua direção. Cruzo os braços e solto um suspiro, daqueles que imploram por atenção. Ela vira sua cabeça em minha direção e parece que não consegue desviar. Lisa não para de se aproximar.

— O que quer comigo? — Pergunto, parecendo mais brava e insatisfeita do que gostaria. Lisa eleva as sobrancelhas ao notar o meu modo de falar, me lança um olhar de esguelha.

Eu estava louca para beijá-la, era algo tão forte que minha visão se distorcia e meu foco apenas conseguia se concentrar em sua boca. A lembrança das linhas vibrantes coloridas que apareceram no meu criativo quando Lisa me beijou pela primeira vez me deixou ansiosa. E eu queria de novo, queria mesmo. Mas a raiva ainda se projetava maior e mais forte sob todas as outras emoções, por isso se eu a beijasse agora, arrancaria um pedaço.

Ela parou na minha frente e levou sua mão até meus cabelos, agora passou a admirar a extensão dos meus fios enquanto os deixava deslizar entre seus dedos. Lisa era perigosamente calma. Eu sei onde ela quer chegar, mas me recuso a admitir. Eu ergo a cabeça e me mostro impassível, mas o ódio sobe a garganta e eu deixo transparecer.

Vejo Lisa morder o próprio lábio, fico triste. Certamente tinha sido uma imagem prazerosa de se assistir, mas seu rosto era descarado, indecente. Tinha uma cara de quem não vale nada.

Lisa com esse tipo de comportamento era exatamente o que eu esperava, mas agora eu tenho outra percepção. Provavelmente ela só quer um beijo, um único beijo, e eu não negaria... mas de repente eu quis que ela quisesse algo mais. A tensão sexual era forte e eu não recuaria se ela quisesse algo. Mas apesar daquele ósculo nos arder a pele, não conseguia evitar o pensamento de que Lisa não fazia nenhuma questão de se portar de uma forma que pudesse me agradar. Ela só partiu para cima, sem preocupações em relação a minha possível reação. Ou seja, eu não era importante o suficiente para fazer Lisa ter uma genuína vontade de me conquistar, ela sabia que podia me ter sempre que quisesse.

Mas talvez eu esteja querendo demais quando digo que Lisa precisa se esforçar para me fazer gostar dela de verdade. Afinal, ela não tem culpa se eu estou me tornando meio obcecada.

— Sabe, eu adoro interpretar sinais. E tenho te observado. — Lisa me disse inesperadamente. Seus lábios quentes e molhados acariciavam os meus. Perto demais, a ponto de não me deixar pensar direito. Eu tentava respirar devagar, mas era sufocante. Eu estava entorpecida por aquele momento, o controle que eu tinha sobre mim mesma continuava sumindo, enquanto isso não acontecia eu somente me mantive firmemente fria em sua frente. — Não tente esconder porque eu sei que temos uma química. E nossas vontades ocultas só vão ficar ainda mais fortes se a reprimirmos. Por isso eu quero que você continue fingindo que me odeia e eu vou continuar dizendo para mim mesma que eu não sinto vontade de morder a sua boca deliciosa todas as vezes que olho para você.