twenty four

2.6K 317 969
                                    


Point Of View: Lalisa Manoban


Tudo aconteceu em menos de dois minutos.

Alguém no meio da multidão gritou e eu entrei em pânico.

Em meio a todo o desespero e lágrimas de revolta e confusão, eu ainda não conseguia acreditar que era Jennie ali naquela maca, o corpo coberto pela lona, sendo posta dentro da ambulância. Não me deixaram vê-la, me seguraram. Eles quiseram me negar a confirmação que eu tanto temia, mas seus olhos não conseguiam mentir, estava claro em suas feições: Foi morte na hora.

Lembro de balbuciar palavras desconexas em desespero total para um Jackson apavorado que tentava diminuir o meu amedrontamento com um abraço para esconder toda a comoção ao redor, bloqueando a visão que eu tinha de todo caos com seu ombro. Mas era demais para mim, eu não conseguia fazer nada além de chorar, todo o meu corpo começou a tremer e eu nunca me senti tão vulnerável. "vamos esperar por notícias, vamos esperar", dizia ele, que chorava também, e era só isso que ficava repetindo porque não sabia mais o que falar para mim. Mas por quais notícias esperaríamos? Já era. Jennie estava morta, o que mais eu faria?

Os gritos horrorizados das pessoas pioravam o meu estado emocional, fazendo minha pressão cair, sentia minha energia se esvair junto com o vento. E como se não fosse o bastante alguém ir parar no hospital essa noite, uma pressão descomunal na occipital da minha cabeça ocorreu e depois de um certo frenesi com direito a memórias delirantes eu me vi em uma maca.


Eu acordei ofegante no meio daquele silencio, como se tivesse passado uma eternidade sem respirar. Rapidamente me sentei e arranquei o respirador do rosto. Olhei em volta todas aquelas luzes e sonoros Bips. Passei um tempo tentando entender o que tinha acontecido.

Isso, você ficou inconsciente, Lisa, precisou vir para o hospital. Mas por que eu fiquei mal?

O lugar cheirava a álcool e formol. Eu começo a gemer, minha cabeça doía e pulsava como pregos sendo fincados com um martelo. Joguei as pernas para fora do cobertor de hospital. Me icei para fora da maca e quando meus pés tocam o chão eu tenho um momento irreal e ruim, como quando se pisa mais fundo do que acha que o chão era, meus pés desceram no vento, acontece um momento de grande susto. E agora eu lembrei, era Jennie.

Eu volto a chorar novamente, mas dessa vez algo mais vem junto, um impulso de sensatez. Meus olhos se cerram à medida em que meus pensamentos vão se encontrando. Quem a empurrou? Eu penso.

Vou considerar a parte da história em que eu acredito que Jennie não se jogou propositalmente daquela altura, quero acreditar que não foi suicídio. Chego a conclusão de que foi assassinato. Agora quem teria motivos para fazer isso é a incógnita da questão. Me pergunto como vou superar e sinto a sensação de algo me perfurar o peito. Era irreparável, eu não podia fazer mais nada. Estávamos nos acertando, ela tinha algo a me dizer, mas não disse e não vai. Nunca me senti tão doente e enfraquecida como agora. Algo em mim morreu.

Percebo que nem tudo está sob o meu controle, que eu não posso criar estratégias e resolver tudo em um jogo de cartas qualquer. Momentos como esse fazem a gente se resignar. Mas eu simplesmente não aceito o que aconteceu. Eu consigo prever, o que vão me dizer é para encontrar algum conforto no que aconteceu e simplesmente deixar a vida passar porque não tem outra forma de lidar com isso, mas eu me recuso desde já. Se eu silenciar essas vozes e escutar somente o meu coração eu só escutarei uma coisa: dor e saudades que não se amenizam.

betting everything [Game Over]Where stories live. Discover now