thirty four

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Point Of View: Jennie Kim

Meus pés estavam em terra, correndo impetuosamente. Eu olhava para trás repetidas vezes com o peito gelado de medo. Mas me vem uma dúvida, de repente não me lembro do que estou fugindo. Paro, respirando afobada, e luto para alcançar a lembrança precedente. Esses sapatos, eu os conheço, as meias longas, a saia quadriculada e a gravata com blazer também. Me esforço para não espernear e arrancar a roupa a base de rasgos desesperados, afundo as unhas no centro da mão direita, não aguentava sentir aquele pano na pele, me aterrorizava. Eu estava então de volta ao orfanato e começara a chorar, me livrando do blazer com tanta rapidez.

Estava na clareira da floresta densa, onde as árvores de galhos torcidos rareavam, por cima da parte superior das plantas altas as grandes torres da estrutura do orfanato se sobressaiam. Uma grande gaivota partia entre as pontas e janelas das torres com seu séquito em direção ao horizonte. Uma coruja arrulhou do alto de uma árvore e escuto passos nos cascalhos pelo mesmo caminho que vim. Num salto, passo a correr novamente, abandonando o claro e vasto do espaço incomum que se abriu para mim e não vejo outra escolha que não seja adentrar o profundo da floresta, colidindo violentamente contra galhos gelados e cipós.

Conhecendo bem esses ares tomo curvas sinuosas em direção a sede do orfanato, até que com um último pulo já estou fora da floresta, a alguns metros em frente à torre guarita mais distante, tão longe que a grama verde e bem tratada do início do terreno aqui era falha, queimada pelo sol e ausentada em algumas partes. Novamente ouço estalos vindos dos fundos das arvores. Volto a movimentar as pernas, indo para longe da linha florestal, mais tranquilamente porém, uma vez que já estava em campo aberto somente corri e quase me senti bem com o vento da liberdade de não ter nada no caminho.

Mas vou ao chão subitamente ao tropeçar numa parte desnivelada. E o chão é frio. Mesmo no verão a atmosfera no orfanato sempre fora tomado por um fechado vento gelado, um lugar tão insalubre que parecia preto e branco, até a grama mais verde que tínhamos era envolvida por um verde acinzentado sem intensidade e o sol não costumava ter brilho algum. Me ergo, as meias sujas de terra e os joelhos escoriados numa ardência irritante.

Havia uma mudança sutil no solo ao que eu observo com mais atenção. Uma parte consideravelmente reta não deveria ter no meio uma elevação, o que era, uma pedra? Tendo um olhar amplo, constituía num retângulo grande que não seguia a reta plana do chão. Pensei que pudesse existir algo que fora então enterrado. Faço a coisa mais impensável, desesperada e cansativa que poderia fazer: me ajoelho e começo a cavar. Inserindo os dedos na terra úmida, agindo em prol da curiosidade, mas aquilo era demasiado exagerado, eu não precisava saber o que tinha ali, e por isso comecei a tremer, assustada, me sentindo como uma telespectadora que não tinha controle das ações.

Quero dizer; eu não estava fugindo de alguém? Por que então parara para uma escavação aleatória?

Minha visão falhou, uma, duas vezes, e eu já tinha um buraco considerável. O tempo era algo que não seguia as leis naturais naquele sonho. Um frenesi numa mente deturpada e o buraco evoluía. A cada olhar turvo eu me aprofundava ainda mais até que me vi jogar as mãos para fora do buraco e retornar para a superfície. Me pus de pé na borda e o nervosismo se apoderou, meu coração disparou com o que vi se revelar entre a terra. Um corpo humano degradado, em decomposição, a pele sendo mastigada por larvas desesperadas. O odor repulsivo de podridão me fazendo lacrimejar, a parte do crânio destruída.

Uma mão grande me agarra pelo ombro, me desloca para ficar em frente a seu rosto alto, era vovô. Aparência maléfica e um sorriso pavoroso de excitação, a cor dos olhos brilhava vibrantes. Por um momento ele somente me encarou enquanto do fundo da garganta se impeliam pequenas gargalhadas guturais e perversas.

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