thirty nine

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Point Of View: Lalisa Manoban

Qualquer humano na terra sabe: se um dia quer saber tudo o que se há para saber sobre uma pessoa, basta conseguir seu celular. Mas quando está numa realidade onde os envolvidos podem fazer crescer asas azuis em suas omoplatas com alguns cliques num mouse, seria muita ingenuidade pensar que mexer num celular resolveria o problema. Toneladas e toneladas de softwares para uma cabeça que não se confundiria com tantas visões de tarefas, que interpretasse os números e entendesse cada código de acesso, descascando as camadas da rede obscura e que fosse capaz de teclar até vomitar, essa era Cheng quando sentava em frente a três telas e mil quilogramas de fios estrategicamente organizados atrás de CPU's. Ao seu lado, como braço direito, Jackson engolia todas as criptografias como quem come cachorro quente no parque de diversões. E mesmo assim, ainda não seria o suficiente. O que funcionaria? Sei lá, uma equipe de nerds do Vale do Silício que não veem a luz do dia desde que ganharam o primeiro computador e 5 ou 6 promessas para Deuses diferentes, e aí talvez — mas só talvez mesmo — a gente conseguiria bons resultados. Por enquanto só tínhamos nossos gurus da tecnologia, que eram bem inteligentes e chegavam a ser brilhantes, mas que infelizmente estavam em menor número.

Me empertiguei no sofá, incomodada.

— Eles são os reis da tecnologia de ponta, têm acesso a tudo, há pelo menos 500 pessoas teclando até os dedos caírem no prédio que acabaram de sair. — Dizia Jackson, os olhos brilhando e refletindo as luzes da tela. — Inclusive, bom trabalho ao excluir as imagens de reconhecimento facial de Lisa da memória dos Cops. Mas eles viram. Acionaram busca enquanto ainda estavam dentro. Tiveram sorte de entrar no beco logo, estão aí fora nesse exato momento, mas não vão achar a porta.

Instintivamente, enquanto seguia firme as informações de Jackson com o olhar concentrado, passo o braço por trás da cintura de Jennie, puxo ainda mais, enlaçando-a com proteção e, reconheço, a força que usava sugeria um pouco de asfixia, como se meus braços até fossem ser grandes escudos contra os males lá fora. Até parece. Mas eu fiz mesmo assim, me peguei pensando que Jennie até achasse que fossem, nunca encontrei na vida alguém que me confiasse tanto assim, então resolvi fazer porque fazia sentido para alguém que eu a apertasse tanto. Sinto seu beijo alcançar minha bochecha e me sinto grata, mas era quase como se eu não estivesse ali.

— Como vamos sair por cima? E com somente dois computadores? — Completou Cheng, parando de analisar dados em sua tela, sentada às costas de Jackson, se virando para nos olhar. — Podemos fazer inúmeras coisas com esse equipamento de Joy, mas não somos páreos para um exército. Aliás, é muito bom te ver, Lisa, obrigada por ter cuidado tão bem de Jennie. — Havia gratidão nos seus olhos e um pequeno resquício de ansiedade controlada.

Tínhamos tido uma rápida e pequena amizade durante o período do orfanato, não tão intensa, mas ambas fazíamos parte de um algo muito maior, cada qual em uma ponta importante que se designava em Jennie. E, provavelmente, não iríamos mais nos ver ou fazer questão da presença uma da outra. Mas possuíamos uma ligação forte o suficiente que nos fazia saber que deveríamos garantir a existência uma da outra na vida de Jennie.

— Agradeço por ter feito isso tão bem quando não estive por perto, antes. — Lhe respondo. E Jennie me olha com um misto de surpresa e amor, mas os pensamentos nervosos chacoalhavam dentro de mim feito compradores numa loja de liquidação, agitados e impossíveis de serem controlados, o que me limitou a apenas entregar-lhe um beijo meramente rápido, sem muita intensidade, o suficiente para frisar o quão agradecia pela sua existência eu era. Sabia que, por hora, aquilo seria o suficiente para ela entender que estaríamos juntas apesar de qualquer coisa que viesse a acontecer.

betting everything [Game Over]Where stories live. Discover now