Capítulo 31 - Star

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Estou no meu cantinho secreto. Sentada debaixo da minha árvore preferida, o chorão. À minha volta tem arbustos com flores com algumas pétalas no chão e uma grande cascata.

Estou a chorar, num lugar onde ninguém conhece até eu própria não conheceria se não tivesse caído.
Conheço este lugar desde os meus 10 anos. Estávamos na primavera, e eu tinha decidido dar um passeio pela floresta da cidade, sem a minha mãe saber. A meio da floresta, tropecei e caí perto de umas lianas. As lianas abanaram, como se por detrás escondesse algo. Escondia mesmo. O meu lugar favorito no mundo, um sítio muito sossegado.

Como eu posso ser tão estúpida? Achar que ele poderia gostar de ti? Ainda pior, chorar por rapazes? Não, não, não e não. Não pode ser! Limpo as lágrimas enquanto estes pensamentos me passam pela cabeça.

Aquelas imagens não me saem da cabeça. Sinto-me uma inútil, com facas espetadas nas minhas costas, com sangue a escorrer. Lágrimas pretas escorrem pelas minhas bochechas, devido ao rímel. Sinto-me usada.
O Sam estava em frente de toda a gente, a comer aquela estúpida da Katie. Eu fui só um passatempo para ele, uma marionete.

Acomodo-me melhor na árvore. Os meus olhos estão vermelhos de tanto chorar. Sinto-me a adormecer.

Sou acordada com cócegas no meu nariz, abro os olhos e vejo um veado.
Ajeito-me e tento-lhe fazer carícias, mas este assusta-se.

- Hey! Tem calma, não te vou fazer mal. – digo-lhe.
Ele parece entender o que diz e deixa-me aproximar-me. Faço-lhe carícias e ele sente-se consolado. De repente, aparecem mais animais, como doninhas, esquilos...

Acordo realmente agora, é tão curioso o mundo dos sonhos. Oxalá que neste caso fosse mesmo real e eu pudesse falar com animais, ao invés disso o sítio continua exatamente igual como quando adormeci. Só se ouve o barulho da água e o canto dos pássaros.

Estou no meu paraíso. O facto do que aconteceu com o Sam me ter deixado de rastos, o mundo compensou-me com estes animais. Nem tudo é mau. Temos só de ver as coisas pelo lado positivo.

O meu telemóvel toca. É a minha mãe e atendo.

- Sim? – digo.
- Star, onde estás? – pergunta-me.
- Estou já a ir para casa mãe, a aula de teatro atrasou-se.
- Está bem. Vem rápido, hoje é para ir jantar à casa da Luna.
- Ok.

Eu adoro a minha irmã, mas hoje só queria me deitar na cama e não falar com ninguém.

Despeço-me dos animais e vou para casa. Quando lá chego a minha mãe já está à minha espera.

- Pousa as coisas lá dentro e vem para o carro.
- Ok. – respondo.

Durante o jantar em casa da Luna, sinto-me muito observada por ela. Ela sabe que se passa alguma coisa.

- Star podes-me vir ajudar com umas coisas lá em cima?
- Posso. – digo. Isto é só uma desculpa para ela poder saber o que se passa.

Dirigimo-nos ao andar de cima e entramos no quarto dos arrumos, onde tem uma janela enorme com uma vista espantosa.

- Vais contar-me o que se passa? – pergunta-me.
- Fui usada por um rapaz. – Prendo as lágrimas.
- Foste usada? Explica-me tudo.
- Sam, o seu nome é Sam. O pai dele trabalha com a mãe e ele está na nossa turma. Criámos uma amizade especial, ou melhor, era o que eu pensava. Ele tem uma namorada horrível, que só faz mal às pessoas. Ontem, ele acabou com ela em frente de todos e ao fim das aulas, acompanhou-me a casa e beijamo-nos. Pensava verdadeiramente que ele gostava de mim. Porém, no dia seguinte, hoje, ele ignorou-me e até pediu para trocar de lugar. Quando saio da escola, vejo-o agarrado àquela presumida aos beijos, como se nada fosse.
- Ele viu-te quando estava a fazer isso?
- Viu, o pior foi que ele continuou.
Ela começa a pensar.
- Sabes Star, os rapazes conseguem ser muito idiotas. Mas esse, ou realmente não tem coração ou passou-se algo.
- Opto pela opção de não ter coração Luna.
- Não sabes o que realmente aconteceu, mas seja o que for, se vocês estiverem destinados, então vocês vão ficar juntos.
- Não, duvido muito! Não quero ir à escola amanhã. Ele vai estar por todo lado, sentindo-se o maior.
- Não. Tu vais, precisamente porque vais mostrar que ele não te afeta e que tu és muito mais forte do que pensas.
- É, deves ter razão.
- Claro que tenho. – Sorri e abre os seus braços.
Damos um abraço forte e descemos.

Voltamos para casa, tomo um banho e deito-me. Foi um dia longo, mas amanhã vai ser ainda maior.

Espero-te nas estrelasWhere stories live. Discover now