estilhaçado

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Sentia-me patético com aquele pedido para sermos profissionais. Eu não havia pensado nisso quando faltara um dia de serviço porque não conseguia lidar com meus problemas, mas agora que ele queria conversar, obviamente convinha jogar a carta do "não trazer pessoalidades para o trabalho".

O que era mais fácil, afinal? Lutar com o assassino que tem uma serra elétrica ou correr dele? Eu preferia correr, mas a questão é que sentia que tropeçaria em alguma coisa no caminho e seria alcançado pelo vilão de qualquer forma.

Quem era o vilão da história? Havia um? Por que eu tinha o forte sentimento de que eu era o maníaco da serra elétrica.

Provavelmente deveria ter usado o dia de folga que eu mesmo me dera para pensar em toda aquela merda, mas a verdade é que evitara sequer lembrar-me do assunto – não que tivesse obtido muito sucesso.

O jeito mais apropriado de lidar com essa história não era me recusando a pensar nela, eu sabia, mas, fora o jeito que encontrara para não surtar.

O que eu dissera a Namjoon em nosso último dia trabalhando juntos simplesmente surgira em minha mente na hora. Apesar de dizer que era o melhor, não tinha certeza disso. No entanto, não podia deixar que fôssemos prejudicados; tanto a empresa, que precisava obter sucesso especialmente naquele momento, quanto ele, que precisava do emprego.

Naquele último ensaio, finalmente consegui exercer meu profissionalismo. Não sei como, mas consegui ser Jin. E, ainda bem, Yoongi estava lá para ajudar a aliviar a tensão que Namjoon obviamente sentia.

Fingi o tempo todo. Apesar da máscara ser convincente, eu só queria continuar fugindo. Não aguentava mais olha-lo; via meu melhor amigo de infância, via o homem que ele havia se tornado. Via outras coisas, que preferia ignorar, mas não via Mon. Não mais.

Algo havia se quebrado. Eu podia até tentar colar os pedacinhos, mas não seria o mesmo.

Ao final do ensaio, simplesmente deixei a sala o mais rápido que pude. Precisava respirar. Quando voltei, o modelo já não estava mais lá; havia somente Yoongi com seu olhar entediado direcionado a mim. Pelo que conhecia de meu amigo, sabia que aquela expressão podia ser entendida como a pergunta "que merda você tá fazendo?".

Também não sabia.

O Natal estava chegando e Taehyung já fizera questão de enfeitar toda a casa. Era a época do ano que ele mais gostava; tanto pelo clima de final de ano, quanto por nós dois fazermos aniversário no mesmo mês. Eu já havia ganhado minha festa surpresa na casa dos Park-Min – isso, é claro, antes de eles terem mais um residente -, mas agora não me encontrava mais no clima. Se Tae soubesse disso, ele me faria ver tantos filmes natalinos que eu seria obrigado a sentir a magia do Natal.

- Dá pra sentir seu perfume lá da sala.

A cabeça castanha aparece na porta de meu quarto. O olho brevemente, logo me voltando para meu reflexo no espelho.

- Além de lindo também sou cheiroso.

Meu irmão ri e se sente a vontade para entrar, sentando-se em minha cama, de onde eu podia enxerga-lo refletido.

- Vai sair?

Sabia que sua pergunta era só uma forma de iniciar um diálogo, afinal, meu irmão provavelmente já sabia exatamente de minhas intenções. Éramos um livro aberto um para o outro, uma relação que aconteceu quando pensei, com minha mente de criança, que nunca mais teria um amigo. Tae e eu estávamos destinados a sermos irmãos.

- Vou.

- Com algum amigo?

- Não exatamente. – Dou de ombros, tentando soar brincalhão como normalmente faria.

Remember MeWhere stories live. Discover now