tempestade

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Sempre me perguntei o porquê.

Quando ele disse que estava indo embora, quando encontrei a casa vazia. Por quê? Porque ele tinha de ir? Porque iria me deixar? Porque nem se despedira?

Minhas mães diziam que havia sido por causa de trabalho, ao menos foi o que vizinhos mais próximos da família disseram. A mãe dele fora transferida para uma das filiais da empresa onde trabalhava, e era uma proposta boa demais para recusar.

E o que eu podia fazer? Ficar bravo com uma mãe que queria dar o melhor pra família? Pois foi o que fiz, pelo menos até certo ponto. Depois, cresci. Isso não quer dizer que parei de me questionar, no entanto, mesmo cheio de perguntas, desisti de tentar entender os motivos. Ele se fora, era só uma lembrança insistente em minha cabeça; de que adiantava querer entender? Ele se mudara com a família por causa do emprego da mãe - era isso, era inútil buscar qualquer compreensão.

Quinze anos depois, vi essa minha verdade desmoronar. E eu tinha medo de cair com ela.

- O que você tá dizendo, Namjoon? Como assim por minha causa? – Tive a sensação de que o quarto girava e finalmente fui capaz de quebrar o silêncio que se instalara, terminando com o vácuo no qual aparentemente entráramos.

- Isso não importa mais, hyung. – O mais novo parecia cansado, prestes a chorar, e por mais que me comovesse, minha irritação era maior. – Não tem porque você saber disso, eu não quero - Um trovão o interrompe antes que eu o faça.

- Como não?! Você tá me dizendo que eu sou o motivo de você ter se mudado, de termos ficado quinze anos separados. – Uma lembrança vem a minha mente, fazendo com que uma risada incrédula e triste saia por meus lábios. – Você nunca teve uma infância ou adolescência e... A culpa é minha. Não é isso que você diz? Que te tiraram essas coisas?

- É, mas... – Namjoon soa contrariado em sua resposta.

- Então me fala! – Estava cansado de "mas", de dar voltas no assunto. Queria a verdade.

Namjoon ainda me lança um olhar suplicante, o qual não me afeta, não o suficiente para me fazer mudar de ideia. Ele percebe isso e, desviando os olhos ao mesmo tempo em que passa os dedos pelos cabelos e respira fundo, diz:

- Eles não gostavam de você, Jin. Não achavam que fosse uma boa influência pra mim por que... – Os lábios cheios se comprimem, hesitando em dar continuidade, o que só me deixa mais impaciente.

- Por quê? – Incentivo, cruzando os braços.

- Porque eles tinham medo de que você fosse me deixar... – Para mais uma vez, travando o maxilar para um lado antes de continuar. – Doente.

- Doente como? – Questiono lentamente.

- Como eles pensam que sou agora. – Franzo a testa; os acontecimentos aparentemente deixaram meu raciocínio lento. Namjoon continua em sua voz baixa, e fala com uma vergonha que quase parecia ser ele a pensar assim. – Como pensam que suas mães são.

- Meu deus. – O entendimento finalmente me atinge, e mais uma vez estava rindo. Levo as mãos ao rosto, cobrindo a boca enquanto penso no quão fodido aquilo era. – Então eles se mudaram pra outro continente porque achavam que eu ia fazer você virar gay?

- Seus planos não eram exatamente ir tão longe, mas minha mãe recebeu uma proposta de emprego e foi apenas conveniente. - Sua fala soa tão conformada. Além disso, apesar de sua tristeza, o loiro se mantinha calmo. – Se não fosse isso, teríamos nos mudado de cidade, no máximo de estado.

Eu não sabia o que dizer. Sentia-me afundando em indignação; queria ficar sozinho. Mas, Namjoon ainda estava ali, agora me olhando com algo de medo na expressão, esperando uma resposta, um mínimo sinal de que eu estivesse bem. No entanto, não havia como eu dar isso a ele.

Remember MeWhere stories live. Discover now