1. Destino

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Aviso: Conteúdo gatilho. Insinuação violenta e machismo.

Leia por sua conta e risco.

10 anos depois...

Gritar não ajudaria, se eu fugir é bem provável que me encontrem, dizer não seria como pedir uma sentença de morte e nem mesmo uma lágrima eu podia permitir que caísse. Por toda minha vida me preparei para me tornar a futura Rainha que o povo de Tidal Bridge merece, mesmo que isso custasse minha liberdade.

Claro que eu deveria saber que um casamento arranjado poderia ser meu destino.

Destino. Dizer essa palavra me faz sentir um gosto amargo em minha boca.

Nunca tive a chance de escrever minha própria história, tão pouco escolher meu próprio destino.
Falta pouco para completar 18 anos, assim restam apenas 3 anos para enfim me tornar Rainha de Tidal Bridge. Porém isso foi destruído, assim como o meu desejo por liberdade pois um casamento arranjado foi colocado em meu caminho. Um casamento onde um homem estaria acima de mim como em todos os outros Reinos e eu serviria apenas como um enfeite e um prêmio conquistado.

Isso não é justo, isso não é justo, isso não é justo...

‒ Isso não é justo. ‒ Não consigo controlar meus pensamentos, que por acidente, acabam escapando pelos meus lábios.

Ergo a cabeça para o mundo ao meu redor e encontros vários pares de olhos me encarando confusos, mas apenas um com repreensão. Esses olhos que eu já conhecia bem o suficiente para saber a quem pertenciam pois são castanhos claros assim como os meus, naquele momento pareciam profundamente irritados e apesar disso não me assustam, não mais. Não deixo minha pose falhar, continuando firme como sempre fui instruída a estar independente da situação, principalmente quando me encontrava sob aqueles olhos, que sempre estiveram presentes em minha vida, assim como seu coração gelado.

Meu pai nunca demonstrou qualquer tipo de afeto por mim, nem sequer sei se ele já amou alguém além de si mesmo. Sempre agiu como um Rei tirano na maior pare de sua miserável vida, mas eu estava cansada de aceitar ordens, de dizerem para onde eu devo ir ou quando falar.

Agora era o momento de me ouvirem.

‒ Isso é injusto! ‒ Levanto do meu assento encarando severamente meu pai a minha frente, mostrando, ou pelos tentando mostrar, que não sou mais uma garotinha e sim uma verdadeira Rainha ‒ Estão tomando uma decisão que eu deveria tomar, uma escolha que eu deveria fazer e novamente estão tirando minha chance de escolher!

‒Ellie, por favor... ‒ o sussurro de minha mãe percorre a sala de jantar tentando me alertar, mas isso só faz a minha ira aumentar.

‒ Não, mãe! Estão roubando isso de mim... de novo!

Meu olhar cai sobre minha mãe que tinha uma expressão de pura decepção, o que já era comum pois tanto ela como meu pai desejavam um filho homem, um garoto que seria o herdeiro perfeito e o maior orgulho deles bem ao contrário de mim, o maior desgosto da família.

‒Sabe Ellie, quanto mais o tempo passa mais você me impressiona com sua completa incompetência e estupidez. ‒ O veneno do meu querido pai escorre pela sala fazendo meu corpo falhar, provavelmente deixei com que minha ira agisse no momento errado, afinal não se deve esquecer que as palavras do Rei Carl Bridge podem se tornarem tão cruéis quanto seu maldito olhar impiedoso.

‒ Em breve fará 18 anos, faltarão apenas 3 anos para sumir o meu lugar no trono. ‒Ele se levanta de seu assento fazendo os pobres empregados darem um passo para trás, se aproximando de mim, apoiando uma das mãos na mesa e a outra em minha cadeira fazendo-me olhar através de seus olhos, onde vejo que não se encontrava sequer uma alma. Essa constatação faz meu corpo estremecer novamente e minha respiração ficar pesada, então o vejo esboçar um sorriso perverso. ‒ Como pôde achar que eu entregaria meu Reino em suas mãos?

‒ Me prepararam a vida toda para ser a futura Rainha de Tidal Bridge, por que mudar isso agora me casando com um príncipe desprezível e arrogante? ‒ Rebato de volta com ódio pulsando em minhas veias.

‒Porque você nunca será o suficiente para mim tão pouco para meu Reino.

Respiro fundo tentando novamente controlar as lágrimas que já não aguentava mais estarem presas assim como minha língua que já está afiada.

‒Então entregará Tidal Bridge de mão beijada ao Príncipe Jordan d'Auvergne da França? ‒ Desafio ele, me levantando e fazendo com que o Rei desse alguns passos para trás. ‒ Mas é claro você e ele são completamente idênticos, não passam de tiranos soberbos que estarão nos quartos das empregadas na primeira oportunidade que encontrarem!

Ao fim de minhas palavras sinto um aperto forte em minha mandíbula fazendo encarar o ódio mais profundo nos olhos de meu pai, a dor era demais, mas nada comparada a angustia de ter que encarar aquele terrível olhar.

‒Te darei escolhas já que é isso que sempre desejou. ‒ Aquilo fez meu coração acelerar. ‒ Você pode aceitar casar ou dizer a adeus a sua coroa e sua miserável vida. ‒ Ele aproxima seus lábios de meu ouvido. ‒ Acredito que o povo lamentaria muito pela perda da adorável Princesa Ellie Bridge caso um pequeno acidente acontecesse com ela.

Meu sangue congela e sem aguentar mais um segundo me retiro da sala em lágrimas. Certa vez minha mãe me disse que uma futura Rainha nunca deve se derramar em lágrimas, mas naquela altura eu não suportava mais nada. Como um pai pode ameaçar sua própria filha assim?

Ao entrar em meu quarto, bato a porta e a tranco desejando escapar de tudo que está lá fora. Me sinto arruinada e perdida pois a pouca esperança de liberdade que eu tinha foi tirada de mim novamente. Sento-me frente à penteadeira encarando no espelho o reflexo de uma pobre garota de pele pálida, cabelos castanho escuros longos, lábios cheios e rosados e os mesmo olhos castanhos do seu terrível pai, porém agora preenchidos por lágrimas que eram fruto da certeza de que eu nunca mais seria livre. Eu havia perdido tudo por uma coroa que me prenderia até meu último suspiro.

OBS.:Capítulo Revisado

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