22. Representa

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A água morna percorria por toda minha pele, permitindo que meu corpo relaxe, me afundo mais para dentro da grande bacia de madeira deitando um pouco a cabeça e fechando os olhos.

Depois do meu confronto com Capitão Jason Fletcher, o alvo novamente voltou a ser eu, a cada instante eu havia pegado alguém da tripulação me encarando, isso se tornava cada vez mais sufocante.

Apesar de Thomas ter me lançando sorrisos reconfortantes o dia inteiro, querendo me tranquilizar e dizer que estava tudo bem, eu sentia uma imensa vontade de questionar a cada um se tinha algum problema comigo, mas eu engolir a perguntar para não ter mais confusão com ninguém.

Naquela altura a situação se tornou angustiante. Por um momento,  eu quis voltar no tempo, ter continuado no mesmo lugar como Thomas sugeriu com o olhar e aceitado o que Jason havia dito.

Mas eu não poderia aceitar aquilo de forma alguma, ele não é meu capitão para me dá ordens e dizer onde devo ir ou não, pois sou dona do meu próprio nariz.

Abro os olhos, encarando o teto feito a madeira, enquanto a luz fraca da lamparina iluminava um pouco do lugar. Posso notar finalmente alguns pequenos detalhes dourados e tinta azul espalhadas pelas paredes de madeiras como se alguns anos atrás tivesse tido uma guerra de tinta azul naquele lugar. Devo dizer que esse navio não é como os outros navios de piratas, a maioria tinha um ar assustador e tenebroso, enquanto esse parecia ser como um navio para festas.

Devo dizer que é estranho um capitão como Jason Fletcher ser dono de um navio assim, mas algo me vem a cabeça, lembro-me dele chamar o navio de Canto de Lyra.

Por que será que ele chama o navio assim? Essa pergunta vai entrar na minha lista das inúmeras perguntas ainda não respondidas.

Assim que termino meu banho e seco  meu corpo, olho para as roupas novas que Thomas me deu dobradas perfeitamente na cadeira e ao lado estava um par de botas pretas.

Então começo a me vestir, a camisa fina azul fica justa em meu corpo assim como a calça preta, logo em seguida coloco as botas, que por minha sorte servem. Começo arrumar meu cabelo com a escova que Thomas me trouxe,  então logo faço uma trança, mantendo presa por uma fita que eu havia rasgado do meu vestido.

Após terminar de me ajeitar, abro a porta vendo Thomas sentando ao chão e escrevendo algo em seu caderno.

- O que está escrevendo? – Pergunto me aproximando dele.

Thomas levanta a cabeça e me analisa, então logo me lança um belo sorriso:

- Está muito bonita, Ellie – Minhas bochechas se esquentam, mas tento disfarçar sorrindo de lado.

Thomas fecha o caderno e se levanta.

- E respondendo a sua pergunta, Milady. Estou escrevendo um livro. – Diz colocando o caderno embaixo do braço, então logo pega em minha trança a colocando para frente.

- E o livro é sobre o que?

- Sobre uma garota que perdeu os pais e tem que enfrentar grandes desafios pela frente, a vida dela foi mudada drasticamente de um dia para o outro.

- Espero que no final ela consiga vencer.

Thomas sorrir de lado e me olha.

- Eu também espero.

- Quando terminar eu quero ler.

- Bom ainda estou no começo, mas assim que eu terminar pode ter certeza que será a primeira a ler. – Ele pisca para mim me dando seu braço para segurar.

Sorrio pegando em seu braço e deixando ele me guiar pelo corredor em direção dos dormitórios.

- Onde conseguiu essa roupa para mim? – Pergunto o olhando em seguida.

Dois Corações, Uma Válvula Onde histórias criam vida. Descubra agora