7. Reunião

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Aviso: Conteúdo gatilho. Violência (Massacres e Mortes) Linguagem inapropriada.

Leia por sua conta e risco.

( Jason Fletcher )


Temido e respeitado. Ninguém ousava ir contra minha palavra. Sou o mestre do mar.

Quando um inimigo  ousava atravessar o meu caminho, as ondas se levantavam  com a minha ira.

Há 10 anos, o mar e eu nos tornamos um só - e nada mudaria isso.

Apenas as estações mudam, assim como as pessoas mudam. Assim como eu mudei.

Aprendi da pior forma possível a me tornar quem sou agora.

O mar me ensinou que tudo é temporário, assim como a dor que no passado  me causaram. 

Pois naquele terrível dia – que  eu tento não lembrar – não foi apenas eu que perdi alguém, o mar também perdeu.

Perdeu seus filhos, seus grandes amantes, que amavam velejar por suas águas sem medo do perigo que poderia encontrar. Viviam  grandes aventuras, que um dia seriam contadas por outras pessoas.

Mas tudo isso acabou quando o maldito rei tirano e desgraçado de Tidal Bridge realizou um massacre. Matou todos os piratas que existiam, desde os mais velhos até os mais jovens. Nem as crianças foram poupadas desse derramamento de sangue.

Assim como meu irmão, que também não foi poupado.

- Capitão Fletcher? – Ouço a voz de Liam me chamando, o que interrompe  meus pensamentos. Olho diretamente para ele, que estava com a mesma expressão carrancuda de sempre.

Em todos esses anos, desde que conheci Liam Collin, nunca o vi sorrir, embora eu compreendesse esse seu jeito de ser. Depois do que Tidal Bridge fez a todos nós, eu também nunca mais sorri.

- Todos já chegaram - diz Liam, fazendo com que eu me  lembrasse do motivo de eu estar  ali nessa noite.

- Certo.  –  digo. Eu me levanto e caminho  até a porta, onde Liam  estava. – É hora de iniciarmos uma guerra.

Saio do pequeno quarto e desço as escadas com Liam atrás de mim. Escuto várias vozes discutindo – era de se esperar que isso acontecesse, pois todos os piratas estavam reunidos.   Entro na sala e, então,  todas as vozes se calam.  Paro perto da minha tripulação.

Daiana  fica ao meu lado, com seu olhar afiado  e suas armas prontas para serem usadas caso tudo  desse errado.

- Todos parecem ansiosos pelo que o capitão irá propor –sussurra Daiana em meu ouvido.

- Isso já  é um ótimo começo para se propor algo – respondo, , observando cada pirata que  estava naquela reunião, que se tornaria memorável.

Diante de mim, estavam ladrões, torturadores, assassinos, artistas, soberbos, insolentes.  Alguns de  coração mole e outros frios como pedra. Pais e filhos, ou até mesmo orfãos ou pais que haviam perdido seus filhos. Ricos e pobres. Classe nenhuma  nos importava. Apesar de tantas diferenças, todos tínhamos algo em comum.Não pelo fato de todos sermos piratas, e sim porque cada pessoa que  estava ali havia perdido alguma coisa ou alguém naquela tragédia.

- Acredito que todos estejam surpresos por terem sido convocados  para essa reunião. – Observo que todos tinham seus olhares sobre mim. – Decidi fazer essa reunião pois, há 10 anos, todos nós temos nos escondidos nas profundezas do mar devido a  um rei maldito que arrancou nossa liberdade de forma impiedosa e cruel! – Caminho até o centro, ainda atraindo a atenção deles. – Por causa  desse reizinho miserável nossas vidas foram transformadas em um  inferno. Ele matou e destruiu tudo que amávamos. Ele e seus aliados,  que seguem suas ordens como cachorrinhos presos a coleiras.

- Você está propondo que a gente faça um levante  contra o rei de Tidal Bridge? – Escuto alguém perguntar.

- Estou propondo que lutemos pela nossa liberdade. – Olho  na direção de onde veio a voz e vejo uma  tripulação de chineses.

- Seria outro massacre se tentarmos lutar – diz  uma mulher,  atraindo minha atenção para ela.  Anne Wilson fazia parte dos membros mais velhos da pirataria. . Uma grande capitã e líder.

- Talvez – rebato,  sem medo de encarar  os olhos azuis gelados da Capitã Wilson. – Mas, se não tentarmos, nunca saberemos o verdadeiro resultado.

- O resultado já está bem claro, Fletcher - diz uma voz que eu conhecia muito bem. Comecei a sentir ódio só de ouvi-la. .

Confirmando as minhas suspeitas, a voz era de Alan Blyth, que dá  um passo à  frente, junto com sua ignorância  e arrogância.

- Você só quer nos levar para o mesmo massacre que aconteceu há 10 anos - continua Alan. Sua  voz está carregada de prazer por ter conseguido atenção.

- Não lembro da sua presença nesse dia, quando vários derramamentos de sangue aconteceram – rebato. Ele  me encara com ódio, o mesmo ódio que sentia  toda vez que nos encontrávamos. Como sempre, eu não perderia a oportunidade de  colocá-lo  em seu devido lugar. – Ah, claro, lembrei! Você estava lá, sim...fugindo! Abandonando seus irmãos e irmãs para salvar a própria pele! E olha que bom, né? Agora, você está aqui,  vivo, sem nenhuma cicatriz, enquanto eles  estão a cinzas e pó!

- Capitão... – Liam me alerta.

- Pelo menos não abandonei o meu irmão mais novo, que é sangue do meu sangue!

Aquilo fez minha ira subir, assim como as ondas sobem quando o mar está furioso. Sem pensar, agarro na camisa do infeliz do Alan com toda a minha fúria.

- OLHA AQUI! VOCÊ NUNCA MAIS MENCIONA ALGO SOBRE O MEU IRMÃO! – Explodo, apertando minhas mãos contra a garganta de Alan.

Liam e Phil me seguram e fazem com que eu solte Alan antes que eu o mate  com as minhas próprias mãos. Ele  tosse  por causa da falta de ar.

- Por que convidou esse maldito aqui? – Nervoso, pergunto  para Phil.

- O senhor mandou eu chamar todos os piratas e foi o que eu fiz! Só sigo suas ordens,  Capitão! – Rebate Phil. Eu reviro  os olhos.

- Acredito que essas discussões não nos levarão a lugar nenhum! – retruca a Capitã Wilson, enfurecida.

- De certa forma,  Capitã – Digo, olhando diretamente para a Capitã Wilson. – Não estamos aqui para arrumar intrigas uns com outros. – Encaro Alan, que havia se recuperado e tinha se afastado e agora estava mais próximo  da  tripulação. – Estamos aqui para nos unir por nossa liberdade. – Dou alguns passos à  frente. – Alguns podem não concordar comigo e podem dizer que sou louco, mas estou há 10 anos me escondendo e estou cansado disso.  Enquanto isso, eles estão livres. Vivem  como querem, pisando em cima de todos e nos tratando como lixo.

Olho para todos ao meu redor. Então,  respiro fundo.

- Vocês podem preferir  sair  daqui e continuarem a viver suas mesmas vidas de merda, se escondendo e abaixando as cabeças para a realeza que vive às  custas de pobres coitados. -  Faço uma pausa e continuo: - Porém, eu decidi não viver mais assim. Eu lutarei até o fim pela nossa liberdade, nem que para isso eu tenha que morrer! Jamais  voltarei a abaixar a minha cabeça e a minha espada. Eu vou lutar, nem que seja sozinho.

Um silêncio cai sobre a sala. Nenhum pirata tinha coragem ou vontade de se pronunciar. Percebo que estou sozinho nessa.

Dou as costas para todos, mas antes que eu possa partir sinto a mão de alguém tocar em  meu ombro. Então, me viro e encaro  um garoto que não aparentava ter mais de 18 anos de idade, um garoto que tinha um olhar de esperança e um ar de coragem.  Um garoto que nunca esteve em uma guerra, mas que tinha mais bravura do que muitos piratas nesse lugar.

Thomas Read deixou  todos impressionados, até mesmo eu.

- Eu estou com você, Capitão – diz Thomas,  dando um pequeno sorriso.

- Eu também estou. – diz Liam,  se aproximando.

- Nós também, Capitão – responde  Daiana. Ela se aproxima,  ao lado do seu irmão. Os dois assentiam.

Logo,  o restante da minha tripulação se une,  assim como as outras tripulações ali presentes. Vejo a  Capitã Wilson balançar  a cabeça para mim, mostrando que está ao  meu lado.

- Ótimo – digo  e me aproximo da mesa. Pego  a adaga que um dia pertenceu dei ao meu irmão.

- Por onde começaremos, Capitão? – Pergunta Thomas, ansioso.

- Ouvi  dizer que haverá  uma festa em comemoração ao aniversário da princesa  de Tidal Bridge – Anuncia Phil. Sinto  seu olhar sobre mim.

Eu nunca imaginei que, depois de passar 10 anos sem sorrir, meu primeiro sorriso seria carregado de crueldade e sarcasmo.

- Acredito que não seja uma má ideia aparecermos para dar  parabéns à  princesa – eu digo. Acerto  com força a  ponta da adaga na parte do  mapa em que está  escrito Tidal Bridge.

Isso será apenas o começo de uma nova guerra.


Bom espero que vocês tenham gostado desse capítulo ainda mais na narração do Capitão Jason Fletcher. 😁
Muito obrigada por quem está acompanhado essa obra que estou tentando me dedicar ao máximo! 😊
Espero que estejam gostando! ❤

*CAPÍTULO REVISADO*

Dois Corações, Uma Válvula Where stories live. Discover now