11. Reencontro

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Aquela dor pelo golpe levado em meu rosto me faz recordar do dia que minha mãe me disse:

- Ellie, armas não são feitas para garotas!

Bem, a pirata de cabelos cacheados era a prova de que minha mãe estava completamente errada.

Assim como tenho certeza que Audrey também seria a prova, se ela tivesse me mostrado antes aquele seu outro lado como na noite que os piratas nos atacaram.

Audrey pode não ter me revelado tudo sobre quem realmente era, mas não a julgo. Ao contrário sempre vou ama-la como sempre amei. Tenho orgulho da minha melhor amiga.

E fico feliz por ela não ter vindo comigo para não ter que encarar aquela garota que tentou nos matar na noite do ataque.

Volto encarar a pirata que me fuzilava com seu olhar afiado e pronto para me acertar um outro golpe.

Eu desejava acabar com ela, mas como poderei fazer isso se nem me defender sei direito?

Sinto mais raiva ainda por ter sido obrigada por toda minha vida a aprender etiquetas ao invés de aprender a lutar como uma guerreira.

A pirata dar alguns passos em minha direção mas o homem de semblante carrancudo se põe em seu caminho.

- Daiana. Não! - Ele fala com um tom sério fazendo ela o encarar cheia de fúria.

- Não se mete, Collin! - Diz a pirata que acabo de descobrir que seu nome é Daiana.

- Me meto sim, pois conheço muito bem suas intenções. - Ele diz no mesmo tom como antes. - A propósito o capitão deseja vê-la, acredito que não vai querer encrenca com ele, ainda mais quando o mesmo está de mau humor.

Daiana revira os olhos mudando sua postura e logo sinto uma mão sobre meu ombro, então olho vendo que é Thomas. Parece que ele é o único gentil daqui.

- Você está bem? - Pergunta em tom de preocupação.

- Tirando a parte que levei um soco, estou sim . - Respondo fazendo Thomas sorrir de lado.

Porém sinto o olhar cortante de Daiana sobre mim, só que eu não ia abaixar a cabeça para ela. Posso não saber lutar, mas isso não significa que eu seja fraca.

Logo outro pirata se aproxima e sussurra algo no ouvido de Daiana que ainda me fitava. Ele tinha o mesmo traços dela, assim como o olhar afiado. Acredito que sejam parentes.

- Venha, garota! Me siga. - Escuto a voz do homem de semblante carrancudo me fazendo parar de olhar para Daiana e o rapaz ao seu lado.

Me viro para Thomas.

-Obrigada por se preocupar. - Digo para ele, o fazendo sorrir.

Então sigo o homem a minha frente, caminhando até porta do lugar onde encontraria o capitão daquele navio. Mas ao passar perto de Daiana que me olhava de canto, sua mão agarra em meu braço com força fazendo eu encarar seus olhos castanho-escuros preenchidos de raiva.

- Isso ainda não acabou. - Sussurra em meu ouvido e logo revelando um sorriso cheio de puro deboche.

Ao me soltar, ela se afasta junto com o rapaz ao seu lado e eu volto minha atenção ao homem que me aguardava com sua expressão carrancuda. Ele abre a porta e me indica com a cabeça para seguir em frente.

Respiro fundo e passo pela porta.

A cabine do capitão era de se pressionar, havia algumas prateleiras repletas de livros e um baú a cada lado da sala. A cama era grande e os lençóis estavam bagunçados - Presumo que Daiana tem algo a ver com isso pois ela sairá daqui antes de eu entrar -.Em seguida olho para a mesa a frente onde vejo um mapa que parecia ter alguns contornos vermelhos em volta de alguns lugares, mas eu não conseguia enxergar pela distância que eu me encontrava. Logo olho para cadeira que estava virada para janela , um homem estava sentando encarando as grandes janelas de vidros, onde mostrava a paisagem de um mar imenso azul e calmo. Eu poderia passar horas olhando aquela paisagem.

Escuto a porta se fechando, então Collin - o nome que Daiana havia chamado o homem de semblante carrancudo - se aproxima ficando ao meu lado.

Respiro fundo. Aquela situação não estava me agradando nenhum pouco, mas o que eu poderia fazer?

Ir direto ao ponto exigindo explicações e confrontando esses piratas?

De certo que essa não seria a melhor maneira. Lutar seria inútil pois primeiro que não sei e segundo que Daiana me derrubaria na primeira tentativa. Fugir é mais inútil pois me encontro em um navio no meio do oceano.

E uma coisa que aprendi é preciso você conhecer seus inimigos primeiro antes de agir.

- Capitão Fletcher, aqui está a garota que pediu para ser chamada assim que acordasse. - Collin fala me puxando - até que de um jeito delicado - para mais perto da mesa.

Então posso avistar um pouco melhor do mapa entendido na mesa, alguns lugares estavam marcados, mas meu olhar se posa onde estava escrito Tidal Bridge e pude perceber que havia um pequeno rasgo sobre, parecendo que acertaram a ponta de uma adaga no nome do meu reino - ou melhor meu antigo reino -.

Mas sou surpreendida com um livro batendo com força tirando o meu foco do mapa. O homem que aparentava ser o capitão, não estava mais sentado e sim de pé atrás da mesa.

Ele é bem alto e musculoso, seus cabelos são castanho-escuros indo o cumprimento até seus ombros, devo admitir que é bonito, mas vejo em seus lábios não se esboçava se quer um sorriso e sua barba estava rala, porém o que me chama mais atenção são seus olhos castanho-claros. Eu reconhecia aqueles olhos de algum lugar... e aqueles mesmo olhos me fez me recordava de alguém que foi meu melhor amigo. Heitor! Era idêntico o olhar.

Até que então reparo na cicatriz acima do olho esquerdo na sobrancelha me fazendo lembrar.

Aquele homem era o mesmo que apareceu na frente de Blanc - meu cavalo - quando estávamos fugindo, me deixando desconcertada quando nossos olhares se encontraram. Sinto meu corpo se arrepiar e aquelas mesma sensações estranhas que sentir naquela noite voltar. Meu coração começa a disparar, como aquele homem que mal conheço pode me causar isso?

Percebo que agora ele me olhava da mesma maneira que me olhou naquela noite, nosso olhar havia se encontrado mais uma vez, fazendo eu e ele esquecer tudo ao nosso redor, eu sentia como se meu coração batesse no mesmo ritmo que o dele.

Entretanto ele balança a cabeça cortando o contato visual e encara Collin, me fazendo lembrar que estava lá também.

- Já estava quase desistindo dela pensando que estava morta. - O tal capitão Fletcher diz com uma voz grossa e rouca, de um jeito tão sexy que me causou arrepios novamente.

Com tudo, não me deixo levar pois o que ele disse a Collin não foi nada delicado ou gentil, me fazendo ficar irritada.

- Acredito que o mar deu uma segunda chance a ela. - Diz Collin, que pensei por um momento que iria sorrir porém acaba dando sua pior expressão mal-humorada.

- Ou teve sorte - Fala o capitão Fletcher caindo sua atenção para mim.

Ou azar, pensei.

Alguns anos atrás eu iria amar está em um navio pirata, mas agora nessas circunstâncias me sentia apavorada pois não sabia as intenções desses piratas sobre mim.

O capitão Fletcher se aproxima, dando alguns passos em minha direção me fazendo engolir em seco.

Do mesmo tanto de beleza que aquele homem possui, ele também tem de amedrontador.

- Liam, nos deixa a sós. - Sua voz excitante percorre pela o local.

Liam - ou Collin - apenas balança a cabeça saindo da cabine em seguida me deixando sozinha com o capitão.

Volto fazer com que nossos olhos se encontrem novamente como antes.

Agora era apenas o capitão Fletcher e eu, dois corações batendo no mesmo ritmo naquela sala que pareciam está encaixados juntos em uma só válvula.

Dois Corações, Uma Válvula Where stories live. Discover now