12. Julgamento

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Meu coração ainda pulsava forte em meu peito, cada batida ficava mais acelerada.

E para ser sincera eu não estava gostando nenhum pouco de como aquele homem me fazia se sentir desde a primeira vez que nossos olhares se encontraram.

Olhos tão familiares pois eram idênticos aos de Heitor, mas ao mesmo tempo pareciam tão distintos.

Não entendo como podem me fazerem lembrar tanto aos do meu antigo melhor amigo.

Sinto o olhar dele me analisar por inteiro. Aquilo me irritava de alguma forma, pois me fez se sentir um pouco inferior a ele, e tão pouco sou isso diante de alguém.

Posso não ser mais a futura rainha mas ainda assim mantenho minha cabeça erguida como uma. Não abaixo para ninguém, então com ele não seria diferente.

- Vai me dizer algo ou prefere continuar me analisando? - Digo o encarando séria e irritada.

Ele não consegue disfarçar sua expressão de surpresa ao ouvir minhas palavras.

- Para quem acabou de acordar depois de ter enfrentado a morte, está com a língua bem afiada, não acha? - O capitão Fletcher ergue a sobrancelha.

Respiro fundo. A voz dele me causa arrepios e irritação comigo mesmo por não entender o que essas minhas reações significava.

O capitão Fletcher se encosta na mesa e olha para o lado.

- Eu lembro de você. - Revela.

Sinto minhas bochechas se esquentar então desvio meu olhar dele.

Ele se lembra de mim. Lembra de quando eu estava fugindo desesperadamente para encontrar o meu destino.

- Fugindo que nem uma maluca.
Minha atenção se volta para ele no mesmo instante

Maluca? Como ele ousa me chamar de maluca?

Penso em todos os tipos de xingamentos, cada palavra que me vem tenho certeza que a Sra. Pullman me daria um belo sermão dizendo que não era assim que uma boa moça deve pensar.

O que mais odiava em está presa naquele palácio era quando tentavam controlar até meus pensamentos, mas isso é algo que eles nunca vão mudar em mim, ainda mais agora.

- Do que estava fugindo naquela noite? - Pergunta cortando a lista de xingamentos que criei nos meus pensamentos.

- Isso não é da sua conta - Acabo dizendo sem pensar nas consequências.

- Bem delicada você, né? - Reparo o sarcasmo em sua voz.

- E o senhor um intrometido que mete o nariz onde não é chamado! - Digo lhe lançando um sorriso frio.

Fletcher dá alguns passos em minha direção, mas me mantenho em minha posição. Ele é bem mais alto do que eu. Ergo a cabeça o desafiando sem me importar onde tudo aquilo poderia acabar.

Minha visão acaba caindo sobre a cicatriz em sua sobrancelha me perguntando onde ele a conseguiu. Não que a cicatriz era algo horrível de se vê, ao contrário o deixava mais charmoso do que já era.

- Eu só desejo algo de você. - Sussurra com uma voz rouca e quente que se não fosse nessas reais circunstâncias agora, me levaria a loucura.

Com certeza ele passaria na aprovação de Audrey.

- Eu não tenho nada a te oferecer.
- Será que não? - Volta me analisar de cima a baixo.

Engulo em seco enquanto meu sangue gela. Eu já estava fraca pois fiquei muito tempo sem comer e me sentia faminta, a luta contra o mar - o que eu mais amei por toda minha vida - também tirou todas as minhas forças e quase morri no final. Até agora não sei quem me salvou daquele quase trágico fim. E agora estou no meio do oceano com inúmeros piratas impiedosos e trancada em uma sala com um terrível capitão que tem pensamentos tão sujos. Isso me dá tanto nojo.

E o pior de tudo que as minhas chances contra ele eram poucas, pois nem me defender sei direito. Daiana quase me mata - e ela ainda pensa em cumprir isso -. Agora esse homem, acabaria comigo em questão de segundos.

Ele pode me matar, mas tocar em meu corpo da forma mais suja estava fora de cogitação, quem esse capitão arrogante pensava que era?

- Olha aqui seu pervertido nojento e asqueroso, se acha mesmo que vou permitir que toque em meu corpo com suas mãos imundas e me possua de uma forma tão suja está completamente enganado! Eu vou lutar até o fim. - Explodo mostrando toda minha fúria.

O capitão que antes estava intrigado pela minha explosão em poucos minutos começa dá risada parecendo achar graça nas minhas palavras e aquilo me deixa mais irada.

- Eu não vejo qual é graça! - Falo em tom de voz mais alto para conseguir sua atenção.

- Você é a graça, pois nenhum momento referi em tocar em você, muito menos da forma suja que está pensando. Não sou esse tipo de homem, alteza. - Diz seriamente e quase cuspindo a palavra "alteza". - Acredito que deveria "baixar a crista" e parar de julgar as pessoas sem ao menos conhece-las.

As palavras dele são tão duras quanto seu olhar sobre mim que me causa medo.

- Você sabe quem eu sou? - Pergunto com uma voz carregada de tremor, naquela altura pela primeira vez me sentir encolhida.

- Sim, mas irei te dizer quem você é da mesma forma que julga os outros sem conhecer. Na minha primeira impressão você não passa de uma garota mimada, ignorante, mente fechada, que julga os outros sem se permitir de conhece-las primeiro, estou certo? Sim, estou certo! Pois essa é minha primeira impressão sobre e pouco me importa sua opinião sobre si mesma pois sem dúvidas vai continuar sendo assim até o fim dos seus miseráveis dias, princesa!

Suas palavras foram de me cortar aos pedaços, me fez se sentir constrangida, toda a ira que eu tinha foi embora através da humilhação e vergonha. Será que foi assim que Jordan D'Auvergne se sentiu quando o julgava sem o conhecer?

Agora sinto o que Jordan sentiu em relação ao meu julgamento.

Eu não queria admitir, mas aquele capitão grosseiro tinha razão. Muitas vezes julguei os outros sem conhecer direito ainda mais depois de Heitor ter ido embora.

O capitão se aproxima ficando bem junto a mim e abaixando um pouco de seu corpo aproximando seus lábios da minha orelha então sussurra:

- Pense bem antes de sair julgando os outros na primeira impressão, alteza. Pois tudo pode se virar contra sua senhoria. - Meu corpo estremece com sua voz tão próxima de mim - Eu comando esse navio. Esse mar é o meu lugar. Então toda vez que for dirigir a mim que seja Capitão Jason Fletcher, ok?

Engulo em seco então ele se afasta indo até a porta e logo abrindo a mesma.

Liam aparece me olhando com sua mesma expressão fechada de sempre.

- Arranje algo para ela comer, e depois mostra os serviços que ela deve fazer, não aceito mordomia aqui - Diz o capitão Jason logo voltando atenção para mim. - Siga o Liam e obedeça pois aqui não é o seu reino onde a senhorita faz o que bem quer.

Respiro fundo e com toda raiva do mundo caminho até Liam.
Mas ao chegar na porta, o capitão aproxima novamente seus lábios da minha orelha.

- E a propósito não tem nada em você que me atrai além de repugnância. - Sussurra fechando a porta em seguida atrás de mim e se trancando novamente em seu quarto.

Dois Corações, Uma Válvula Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora