Para Nicholas Heavengold

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Aaron.

Nicholas.

Nikki.

Ou deveria dizer Akriel?

Você tem tantos nomes quando segredos, não é mesmo? E sabe, eu me lembro exatamente o que a maioria deles representou pra mim.

Aaron foi um desconhecido que apareceu inesperadamente na minha vida e claro, adorava me perturbar. Nicholas foi um Guerreiro Celestial que abriu meus olhos para um mundo totalmente diferente, e claro, me salvou da Morte algumas vezes. E Nikki, bem, ele foi a primeira pessoa a quem eu realmente me abri, realmente mostrei quem eu era, com exceção de Naomi e Dave. Mas e quanto a Akriel? Esse, eu não cheguei a conhecer. E me vejo perguntando porquê.

A esta altura, você provavelmente sabe o que aconteceu. O que aconteceu comigo. E também sei que não está nenhum pouco surpreso por eu não ter seguido seu "conselho". Talvez você já soubesse as consequências da Ascensão. Talvez eu devesse tê-lo ouvido. Mas o Universo sabe que eu não poderia. Não quando os Nephilins mantinham minha família como refém.

Mas não é para dar detalhes sobre aquela fatídica noite que escrevo esta carta. É para dizer adeus.

A princípio, pensei em não dizer nada. Em apenas sumir do mapa, sem dar-lhe nenhuma explicação. Mas percebi que seria uma covarde ainda maior se fizesse isso. Então aqui estou.
No meio da noite, sentada ao lado da lápide fresca da mulher que deu a vida por mim, enquanto planejo minuciosamente como deixar as únicas pessoas que realmente me amaram.

"Mãe querida e grande amiga" pareceu uma boa frase a se gravar na lápide dela. Então foi feito. E é olhando para essa lápide que agora me despeço.

Me despeço de tudo que um dia fez parte da vida de Scarlett Knipper. Porque essa garota não existe mais. Essa assassina – metida a justiceira ou não, essa irmã, essa filha e amiga, se foi.

Não posso continuar a fingir que tudo voltou a ser como era. Não posso encarar todos aqueles olhares carinhosos e com tanta expectativa sempre escondendo o vazio da minha alma. Não posso deixar que eles sejam infelizes. Não posso deixar que você sequer pense que eu preciso ser salva.

Eu não estou tomada pela culpa, por dor, ou por arrependimentos. Porque eu sequer sou capaz de sentir essas coisas agora, Nicholas.

Tão diferente, o que sinto agora. Sentidos substancialmente ampliados, ondas de poder percorrendo cada molécula minha, e ainda assim, não sinto nada. Sentimentalmente falando.

Eu preciso descobrir o que me tornei. Preciso descobrir como lidar com isso. Preciso descobrir o que eu vou escolher ser. Mas antes de encarar um futuro de incertezas, preciso que você entenda que nós – o que quer que tenha sido, ficou no passado.

Eu sei bem como me sentia em relação a você. As lembranças, elas ficaram sabe. E por mais que alguma delas não sejam tão agradáveis, eu me agarro a elas para não me perder. Para não esquecer tudo que eu tive e não dei o devido valor. Para não esquecer quem eu era e só então, evoluir.

Nunca imaginei que com tão pouca idade e experiência romanticamente falando, eu pudesse ter sentido todas as coisas que eu senti ao seu lado. Talvez isso também fora predestinado, como todos os passos que dei até agora. E por mais que não importe agora, fico feliz por ainda ter lembranças vívidas de todas as emoções que eu senti e sabiamente, escondi. Da forma como eu me sentia segura ao seu lado, da forma como aquilo parecia tão certo ao mesmo tempo que errado, da forma como você me olhava e parecia ser capaz de ver tantas coisas...Então eu sou grata. Sou grata por ter me proporcionado isso.

Em uma realidade alternativa, talvez pudéssemos ter algo mais concreto. Mas como não é nosso caso, precisamos encarar a cruel realidade. Você é um Arcanjo, com milênios de vida e experiências que eu nem posso imaginar. E eu sou uma arma. Uma coisa letal forjada por forças além da minha compreensão. Não daria certo, de qualquer forma.

Antes que eu me esqueça, agradeça a Olívia e Enzo por mim. Tive pouco tempo com eles, mas também sou grata por isso.

Imagino que você verá isso como uma negação, uma covardia da minha parte. E pode ser que bem no fundo, seja. Mas eu encaro essa mudança como crescimento pessoal, como uma forma de descobrir o que fazer, sem destruir ninguém no processo. Um pequeno e singelo sacrifício.

Caso esteja preocupado com a minha escolha, vou adiantar. Eu não escolhi o Céu ou o Inferno. Eu escolhi a mim mesma. Eu escolhi ser Ariella. Não o Leão de Deus. Apenas Ariella. Um ser imortal, com poderes incompreensíveis e que a partir de agora, vai lutar por si mesma e tudo que isso implica. Lutar para recuperar sua alma. Lutar para trazer alguma felicidade aqueles que eu sei que amei muito. Lutar e lutar incansavelmente para não ser mais a Destruição, a Morte, aquela com as mãos manchadas de sangue. Lutar para ser normal, na medida em que isso for possível. Para ser eu e não pertencer a ninguém além de mim mesma.

Eu mudei sim. Não apenas pelo poder irradiando por todo meu corpo. Não apenas pela falta daquilo que torna os mortais, humanos. Mas porque uma grande parte de mim morreu quando eu ascendi e sei que ninguém pode reivindicar isso. Não agora que eu decidi ser outra coisa. Não agora que eu decidi não cometer os mesmos erros.

Tive a chance de renascer e vou fazer valer a pena. É assim que eu quebro o meu ciclo de sangue e destruição. É aqui que eu enterro quem eu era, ao lado daquela que por tantos anos chamei de mãe. É aqui que uma nova história começa. E independente de qualquer que seja, sei que posso lidar com ela.

Não espero uma resposta, apenas a sua compreensão.

Porque eu não vou voltar.

Isso é um adeus. E eu sei que a eternidade é tempo demais para dizer "para sempre", então talvez nossos caminhos ainda se cruzem um dia. E eu espero estar melhor do que agora quando acontecer.

Fique bem. Todos vocês, na verdade.

Ariella.

Criaturas Celestiais - A Ascensão [CONCLUÍDO]Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt