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🔷GRAZIELA

Dois meses depois que eu fiz 15 anos o meu pai veio me falar que iria precisar se mudar e que eu não poderia ir.

Eu perdi meu chão

Eu só tinha 15 anos, trabalhava meio período só pra não precisar passar muito tempo em casa, porque a minha “mãe” depositava todo mês uma quantia bem gorda pra eu não sentir falta dela.

Meu pai era casado com uma obreira da igreja, ela me odiava e como se não bastasse eu já ser rejeitada o suficiente por minha mãe e meu pai, ela ajudava minha vida a ser um inferno.

Fazia comida e escondia pra eu não comer, desligava a água pra eu não usar a água de casa, inventava que me via na rua me esfregando em homens, disse uma vez que tinha me visto me prostituindo, e o meu pai me batia pra me colocar na “linha”, filha de postar né? Eu tinha que ser perfeita.

Eles foram embora no mês seguinte em que eu recebi a noticia, meu pai me emancipou e assim dei inicio a minha liberdade.

Ou eu achava que assim seria.

No meu aniversário de 16 anos eu fiz uma festa na minha casa, foi ai eu conheci o Wn.

Eu sempre soube que ele era envolvido, mas ele era bonito demais, carinhoso demais e cuidava de mim isso aprecia ser exatamente tudo que eu precisava.

Perdi minha virgindade com ele, e sabe aquela historia de “você sempre se apaixona por seu primeiro homem”, foi assim comigo, pelo menos eu achava.

A primeira agressão veio três meses depois que eu virei “fiel”, eu abandonei a minha casa e fui morar na casa dele no vidigal, eles foram fazer um assalto em um banco e não deu certo, ele foi o único que escapou e pra descontar a raiva ele deu uma seqüência de murros na minha barriga, depois ele se desculpou e eu achei que ele merecia desculpa, afinal ele estava muito nervoso com o que aconteceu e todo mundo merece uma segunda chance.

Na segunda vez eu tinha ido no banco resolver uns problemas com a minha conta, tentei avisar e não consegui, o resultado disso foi meu braço direito quebrado.

Na terceira vez eu o denunciei, mas ia adiantar de que? Ele não saia do morro e eu também não, mas eu o denunciei todas as outras vezes em que eu quase morri.

A sétima e ultima vez, eu tinha fugido para o meu apartamento achando que assim ele me deixaria em paz, ele era um dos bandidos mais procurados do Rio de Janeiro, mas ele veio atrás de mim, eu precisei ficar quase dois meses internada. Ele quebrou três costelas minha e uma perfurou o pulmão, eu tive hemorragia interna, e foi graças a Taila que eu fui encontrada e socorrida e estou viva hoje.

Depois disso eu entrei em uma academia de MMA, me identifiquei com Jiu-Jitsu e prometi nunca mais me envolver com bandido, nunca mais me envolver com homem algum.

Agora eu estou deitada na minha cama, com a cabeça no peito do João Lucas, enquanto ele faz cafuné na minha cabeça em completo silencio.

Decidimos nos separar depois de sete meses juntos.

Desde quando a Taila foi embora o Rei desandou a fazer merda, quase morreu de overdose, enquanto o morro ia sendo aos poucos invadido e tomado pela milícia, João ficou na minha casa por dois meses, até precisar voltar às presas e ai o nosso relacionamento foi ficando cada vez mais difícil. Não nos víamos mais, mesmo morando tão perto, ele não podia sair do morro e correr o risco de ser reconhecido e preso, e eu não podia ir para o morro, chegamos a nos ver, mas foram poucas vezes.

AO ACASO  | MORRO Where stories live. Discover now