8. A Guerra Popular

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A guerra revolucionária é uma guerra de massas; ela só pode realizar-se mobilizando-se as massas e apoiando-se nelas.

Qual é a verdadeira muralha de ferro? São as massas, os milhões e milhões de homens que genuína e sinceramente apoiam a revolução. Essa é a verdadeira muralha de ferro que nenhuma força pode em caso algum romper. A contrarrevolução não pode esmagar-nos; pelo contrário, somos nós quem pode esmagá-la. Unindo milhões e milhões de homens em torno do governo revolucionário, e desenvolvendo a guerra revolucionária, nós liquidaremos a contrarrevolução e ganharemos a China inteira.

A maior fonte de energia para a guerra está nas massas populares. É principalmente por causa do estado de inorganização das massas populares chinesas que o Japão ousa violentar-nos. Assim que essa falha for eliminada, o agressor japonês, tal como um búfalo selvagem caído num anel de fogo, ver-se-á cercado pelas centenas de milhões de homens que constituem o nosso povo em pé, bastando que gritemos para que ele se lance em pânico na fogueira, e seguramente morrerá queimado.

Os imperialistas violentam-nos de tal maneira que temos de tomar medidas sérias para enfrentá-los. E não é que apenas precisemos de dispor de um poderoso exército regular, nós necessitamos também de organizar em grande escala contingentes de milícias populares. Desse modo, se o imperialismo nos agredir, encontrará dificuldades em dar um passo no interior do nosso país.

Considerada a guerra revolucionária no seu conjunto, as operações das guerrilhas populares e as operações do Exército Vermelho, como força principal, completam-se mutuamente como as duas mãos do homem. Se tivéssemos apenas a força principal que é o Exército Vermelho e não dispuséssemos das guerrilhas populares, seríamos como um guerreiro que só tivesse um braço. Em termos concretos, e especialmente com relação às operações militares, quando, nós falamos das populações das bases de apoio como um fator, queremos dizer que dispomos de um povo armado. Essa é a principal razão por que o inimigo receia aproximar-se das nossas bases de apoio.

Não há dúvida de que a vitória ou a derrota na guerra são determinadas principalmente pelas condições militares, políticas, econômicas e naturais em que se encontram ambas as partes. Mas isso não é tudo; o resultado da guerra é igualmente determinado pela capacidade subjetiva de cada parte na condução da guerra. No seu esforço para ganhar a guerra, um estratega não pode ultrapassar os limites impostos pelas condições materiais. Todavia, dentro desses limites, ele pode e deve fazer o máximo para conquistar a vitória. A cena em que se desenrola a sua ação é constituída pelas condições materiais objetivas mas, nessa cena, ele pode dirigir a representação de muito drama vivo, cheio de som e cor, de poder e de grandeza.

O objetivo da guerra não é outro senão "conservar as próprias forças e destruir o inimigo" (destruir o inimigo significa desarmá-lo ou "privá-lo da capacidade de resistir", e não, destruir fisicamente todas as suas forças). Nas guerras antigas usava-se a lança e o escudo: a primeira, para atacar e destruir o inimigo, e o segundo, para defender e conservar as próprias forças. Até hoje, todas as armas continuam ainda a ser uma extensão da lança e do escudo. Os bombardeiros, as metralhadoras, os canhões de longo alcance e os gases tóxicos são desenvolvimentos da lança, enquanto que os abrigos anti-aéreos, os capacetes de aço, as fortificações em betão e as máscaras de gás são desenvolvimentos do escudo. Os tanques são uma arma nova que combina as funções da lança e do escudo. O ataque é o meio principal para destruir o inimigo, mas a defesa não pode ser posta de lado. O ataque tem como objetivo imediato a destruição do inimigo mas, ao mesmo tempo, representa uma auto-conservação, na medida em que se o inimigo não for destruído os destruídos seremos nós. A defesa tem como objetivo imediato a conservação das próprias forças mas, ao mesmo tempo, ela é um meio complementar do ataque ou uma preparação para o ataque. A retirada respeita a defesa e é uma continuação desta, enquanto que a perseguição é uma continuação do ataque. Contudo, deve salientar-se que a destruição do inimigo é o objetivo primordial da guerra, enquanto que a conservação das forças próprias é o objetivo secundário, pois só destruindo em massa o inimigo se podem, efetivamente, conservar as próprias forças. Por consequência, o ataque, como meio fundamental para a destruição do inimigo, desempenha o papel principal, enquanto que a defesa, como meio suplementar para a destruição do inimigo e um dos meios de conservação das próprias forças, desempenha o papel secundário. Na prática da guerra, o papel principal é desempenhado pela defesa em muitas ocasiões e pelo ataque no resto do tempo, contudo, se tomamos a guerra como um todo, o ataque continua sendo o primordial.

Todos os princípios que comandam a ação militar derivam de um só princípio fundamental: fazer os maiores esforços para conservar as próprias forças e destruir as do inimigo (...) Como se justifica então o encorajamento ao sacrifício heroico na guerra? Cada guerra tem um preço que, por vezes, é extremamente elevado. Acaso estará isso em contradição com o princípio de "conservar as próprias forças"? Em rigor não há qualquer contradição. Para falar mais exatamente, o sacrifício e a auto-conservação opõem-se e completam-se mutuamente. É que o sacrifício é necessário, não apenas para a destruição do inimigo, mas também para a nossa própria conservação, na medida em que uma "não-conservação" parcial e temporária de si próprio (sacrifício, preço a pagar) se torna necessária para garantir uma conservação permanente do conjunto das forças próprias. Desse princípio fundamental resulta toda a série de princípios que comandam a ação militar, a começar pelos do tiro (cobrir-se para conservar-se e fazer o melhor uso possível do poder de fogo, a fim de destruir o inimigo) até aos princípios de estratégia; todos eles são inspirados por esse princípio fundamental, e todos se destinam a garantir a respectiva aplicação, quer se trate de princípios de ordem técnica, quer se trate de princípios relativos a tática, as campanhas ou a estratégia. O princípio da conservação das próprias forças e destruição das do inimigo é a base de todos os princípios militares.

Os nosso princípios militares são os seguintes:

1)
Atacar primeiramente as forças dispersas e isoladas do inimigo, e atacar depois as suas forças concentradas e poderosas.
2)
Tomar primeiramente as cidades pequenas e médias, bem como as grandes regiões rurais e tomar depois as grandes cidades
3) Ter como objetivo principal o aniquilamento das forças vivas do inimigo e não a conservação ou tomada de uma cidade ou território. A conservação ou tomada de uma cidade ou território é uma consequência do aniquilamento das forças vivas do inimigo; frequentemente, uma cidade ou território só pode ser conservada ou tomada, de modo definitivo, depois de ter mudado várias vezes de mãos.
4) Em cada batalha, concentrar uma superioridade absoluta de forças(duas, três, quatro e em alguns casos até cinco ou seis vezes a força do inimigo), cercar totalmente as forças inimigas e esforçar-se por aniquilá-las por completo, sem dar-lhes uma possibilidade de que se escape da rede. Em circunstâncias especiais, utilizar o método de desferir golpes demolidores sobre o inimigo, isto é, concentrar toda a nossa força para fazer-lhe um ataque frontal e um ataque contra um ou ambos os flancos, a fim de aniquilar-lhe uma parte das tropas e derrotar a outra parte, de tal maneira que o nosso exército possa deslocar rapidamente as suas forças para esmagar outras tropas do inimigo. Esforçar-se por evitar batalhas de desgaste em que se perde mais do que se ganha ou que se ganha tanto quanto se perde. Assim, embora inferiores no todo (numericamente), nós seremos absolutamente superiores na parte, em cada batalha concreta, o que nos assegurará a vitória no plano operacional. Com o andar do tempo, nós conseguiremos uma superioridade no conjunto e aniquilaremos finalmente todas as forças do inimigo.
5) Não travar combate sem que se esteja preparado, não travar combate que não se esteja seguro de vencer. Fazer todos os esforços para estar bem preparado para cada batalha, fazer todos os esforços para assegurar a vitória na correlação existentes entre as condições do inimigo e as nossas.
6) Pôr plenamente em jogo  o nosso estilo de combate - coragem, espírito de sacrifício, desprezo pela fadiga, tenacidade nos combater contínuos (combates sucessivos travados num curto espaço de tempo e sem descanso).
7) Esforçar-se por aniquilar o inimigo enquanto ele está em movimento. Ao mesmo tempo, prestar atenção às táticas de ataque a posições e captura de pontos fortificados e cidades em mão do inimigo.
8) Com respeito ao ataque das cidades, tomar resolutamente todos os pontos fortificados e cidades francamente defendidos pelo inimigo. Tomar, no momento oportuno e sempre que as circunstâncias o permitam, todos os ponto fortificados e cidades moderadamente defendidos pelo inimigo. Com relação aos pontos fortificados e cidades fortemente defendidos pelo inimigo, esperar até que as condições estejam maduras e tomá-los nessa altura.
9) Recompletar as nossas forças com todas as armas e a maior parte dos efetivos capturados ao inimigo. As fontes principais de homens e material para o nosso exército estão na própria frente.
10) Aproveitar plenamente os intervalos entre duas campanhas para o repouso, instrução e consolidação das nossas tropas. Os períodos de repouso, instrução e consolidação não devem, em princípio ser muito longos, devendo-se tanto quanto possível evitar que o inimigo ganhe novo fôlego.

Tais são os principais métodos que o Exército Popular de Libertação tem empregado para derrotar Tchiang Kai-Chek. Esses métodos foram forjados pelo Exército Popular de Libertação durante um longo combate contra os inimigos internos e externos e estão perfeitamente adequados à nossa situação atual (...) A nossa estratégia e as nossas táticas baseiam-se na guerra popular e nenhum exército oposto ao povo pode utilizá-las.

Sem preparação, a superioridade não é realmente superioridade e não pode haver iniciativa. Uma vez compreendido esse ponto, uma força inferior mas preparada, pode muitas vezes derrotar, num ataque de surpresa, forças inimigas superiores.

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